segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Todos estão surdos II




Não importam os motivos da guerra, a paz ainda é mais importante. (Roberto Carlos)

Isolada do nome de seu autor esta frase seria vista sem o menos preconceito pela maioria das pessoas. Inteligente, simples e verdadeira, ela pode ser usada como citação em qualquer sermão, palestra motivacional, discurso, etc.

Mas é uma frase de Roberto Carlos. E está em uma música. Uma belíssima música, diga-se de passagem. "Eles estão surdos", ele diz. E nós? Ouvimos?

Somos "eles". Somos os que dão as costas para o outro na rua. Somos nós que negamos a existência da doença da miséria. Somos nós que negamos a dor da violência. Somos nós que negamos às nossas crianças a chance de ter um futuro melhor.

Estamos surdos aos gemidos inexprimíveis que clamam dentro de nós "faça alguma coisa!" "Mude o mundo!" Somos nós que negamos até a própria existência desta voz. Somos nós que fingimos que não é conosco que o Espírito está falando.

É hora de limpar os ouvidos para a dor alheia. Abraçar os que têm frio, alimentar quem tem fome. Não apenas tomado pelo espírito do natal já passado, mas, sim, o espírito de uma vida nova no ano novo. Algo novo espera por nós nesta nova fase da vida. 2011 promete ser o ano em que nossos ouvidos se abriram e nós passamos a ouvir quando Ele fala.

A partir de 2011, creio, não mais seremos os que estão surdos!

sábado, 25 de dezembro de 2010

Todos estão surdos!!!




Mas meu amigo volte logo!

Não preciso falar mais nada, né não?

Acho que fui influenciado pelo show do rei. Sim, eu chamo o Roberto Carlos de rei, porque? Algum problema?

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Sonho de consumo

O sonho de consumo de muitas pessoas e algo material. Não condigo enxergar como objetos e brinquedos e coisinhas e gadgets (este e o nome novo de coisinhas de rico que fazem a vida ser mais complicada do que simples).
Isso não vai melhorar sua vida. O que melhora sua vida e conexão.
O que te liga as pessoas? Hoje, agora, estou cercado de minha família. Parentes, primos, tios, pai, mãe, irmão. Olho para eles e penso no quanto sou afortunado. No quanto de conexões deixarei aqui quando me for. Ainda que meu pessimismo me deixe muito triste e pragmático diante da vida, vejo o quanto ela vale a pena quando estou cercado destas pessoas. Pessoas importantes, pessoas que amo.
Ame. Você não terá outra chance de amar. E e amando que você fará a diferença neste mundo absurdo em que vivemos.
Ame.

Feliz Natal!



Mas, como aqui eu gosto de colocar vocês para pensar...

So this is christmas

And what have you done
Another year over
And new one just begun

And so this is christmas
I hope you have fun
The near and the dear one
The older and the young

A very merry christmas
And a happy new year
Let's hope it's a good one
Without any fear

And so this is christmas (war is over...)
For weak and for strong (...if you want it)
The rich and the poor one
The world is so wrong

And so happy christmas
For black and for white
For the yellow and red one
Let's stop all the fight

A very merry christmas
And a happy new year
Lets hope it's a good one
Without any fear

And so this is christmas
And what have we done
Another year over
And new one just begun...

And so happy christmas
We hope you have fun
The near and the dear one
The older and the young

A very merry christmas
And a happy new year
Let's hope it's a good one
Without any fear

War is over
If you want it
War is over
Now

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Um dia, quem sabe...



Um dia, quem sabe, aqui no Brasil, a gente aprenda a adorar. Não cantar bonito, mas cantar de dentro, cantar prá dentro de si e alcançar aquilo que está lá dentro. Aquilo a que chamamos Espírito Santo.

Um dia, quem sabe, aqui no Brasil, a gente aprenda a se dar. Não se dar para as câmeras verem nas ruas, mas se dar para o seu próximo. Não encher uma avenida com um monte de gente cantando para Jesus, mas encher a vida de alguém de Jesus. Encher o coração de alguém da forma e do amor do Deus infinito que nós servimos (ou dizemos servir).

Um dia, quem sabe, aqui no Brasil, a gente aprenda a buscar conhecimento. Não apenas no que a bíblia diz literalmente, mas o que ela tem a dizer para nós, para nosso mundo, para o século XXI. Pois a palavra que é viva vive sendo sufocada por aqueles que a preferem morta, imutável, aqueles que pensam que o mundo não deveria mudar. Não somos a igreja primitiva, somos a igreja, viva, pulsante, cheia de vontade de crescer e mudar o mundo.

Um dia, quem sabe... um dia... a igreja brasileira ame como deve amar.

Espero, ansioso, por este dia.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

domingo, 19 de dezembro de 2010

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010


Como entender? Para pessoas céticas e racionais é difícil. Mesmo para os emocionais não é brincadeira de criança. Mesmo para os que acreditam é difícil permanecer crendo.

Quando vemos o mais difícil acontecer, então, pior.

A morte de alguém que amamos.

A perda da inocência.

Fatos que fogem ao nosso entendimento.

Então, perguntamos...

"Porque você deixou que isso acontecesse?"

Uma amiga me perguntou isso. Não tenho resposta. Porque aconteceu? Porque as teias da aleatoriedade da vida se tecem assim, aleatoriamente. Porque as coisas fogem do nosso entendimento, porque acaso, destino ou seja lá o nome que se dá para isso resolve acontecer justamente com a gente.

Para provar nossa fé? Para fortalecer? Para derrubar de vez?

Minha amiga, cética, ficou ainda mais distante "desse cara", como ela chama Deus. Não posso condena-la por esta decisão simplesmente porque eu sou tomado pelas mesmas perguntas que ela. Os mesmos questionamentos. As mesmas dúvidas.

Como eu sempre disse, minha fé, diferente da maioria das pessoas, se move no terreno das dúvidas e não das certezas. Quanto mais duvido, mais questiono. Quanto mais questiono, mais racionalizo aquilo em que acredito. Diferente da maior parte das pessoas, não estou buscando respostas, mas sempre as perguntas certas para fazer.

Afinal, quando clamamos para o céu cinzento, quem garante que existe um par de ouvidos atentos do outro lado, esperando por nossa voz? Havendo certeza, acaba a necessidade da fé. Havendo respostas, acaba a necessidade por perguntas.

Como diria Nietsche, "Eu só acreditaria em um Deus que soubesse dançar", e o meu dança uma dança difícil, sem passos marcados, movido pelo improviso e pelos caminhos e descaminhos que nossas vidas dão.

Só me faz lembrar de uma passagem que está em Eclesiastes e que lembro de Brennan Manning citando. "Chove sobre justos e injustos".

Perda



Perdi recentemente uma amiga querida para o câncer. Deus a levou consigo e ela está lá, guardada ao lado do Pai, onde não tem mais dor nem sofrimento.

Nem todas as pessoas acreditam nisso, mas eu prefiro crer que ela está com Deus. Uma pessoa com um coração sem tamanho, dedicado a ser Jesus na terra não pode ter outro destino. Generosa, sorridente, alegre e bela, a menininha que Deus levou vai fazer festa no céu.

Temos as mais diversas reações diante da doença e da morte de pessoas queridas. Desde o desespero à apatia, cada um de nós vê a perda de uma forma. Uma forma que vai definir quem nós somos.
Pois é na perda, quando somos desnudados da tranquilidade de nossas zonas de conforto, que nossos caráteres são forjados. É na dor que descobrimos quem somos.

Minhas emoções são contidas quando se trata de dor e perda. Perdi poucas pessoas nessa vida, devo admitir. Meu avô se foi quando eu era criança, minha avó, quando se foi, devemos admitir friamente, foi como um fardo que se retira das costas. Ficaram poucas saudades para mim.

Some a isso o fato de eu ser desapegado de valores familiares, não ter um chão que eu chame de meu, um lugar para chamar de lar. Meu lar é onde estão meus sapatos, e minha dificuldade de lidar com a perda colabora com essa visão quase ausente diante da perda.

Não sou forte, como muitos creem, sou frio, o que não é muito bom, devo admitir, para um cristão.

Perder alguém pode nos mostrar muitas coisas e perder esta pessoa me mostrou algumas. Mostrou que eu preciso dar valor às pessoas que amo, que preciso abraçar mais, dizer mais que amo e estar mais presente na vida dos que me cercam.

Me mostrou que minha família é algo que eu não terei de novo se perder. Quando meus pais morrerem quero poder chorar, sentir falta, sentir saudades. Mais do que qualquer coisa. Nós precisamos dos laços que nos cercam. Nenhum homem é uma ilha, já dizia John Donne, citado aqui mesmo no Blog. Quero que os sinos dentro de mim dobrem muito quando estas pessoas se forem, pois as amo e o buraco que vai ficar será muito grande.


quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Para quem acredita no amor...



Compartilhei esta música hoje com duas pessoas importantes. Uma, a pessoa que me apresentou a música. A segunda, uma romântica, como eu, impossibilitada de viver o grande amor de sua vida.

Não temos apenas uma chance de amar. Quem diz isso não sabe o valor que amar tem. Não estou falando do valor do amor (substantivo), mas de amar (verbo), do ato de amar em si.

Temos o direito de amar mesmo após as maiores desilusões. O amor que habita em nós é resiliente e por mais que o tentemos sufocar não conseguimos. Na verdade, nem queremos que ele seja sufocado. Estamos apenas esperando a próxima oportunidade de nos abrirmos para mais um amor, sem nos importarmos com os ferimentos que sofreremos, sem nos importarmos com a dor que já foi vivida. O novo amor tem a capacidade de nos curar das velhas dores, sarar as velhas máculas, renovar aquilo que julgávamos perdido.

Outra música que me vem sempre que falo do verbo amar é a de baixo. Paulinho da Viola ensinando-nos que temos que amar sem nos preocuparmos com nada. O tempo há de curar todas as feridas.



E que nunca aconteça com a gente o que aconteceu com o homem da música do Chico Buarque, aquele cara do "Samba do Grande Amor", sabem?

Colaborações


Desde o início de Novembro este bloggeiro é colaborador do site Fique Ligado falando sobre cinema e literatura (e, logo logo, música também).
Este trabalho divertidíssimo tem tomado bastante tempo da minha vida e isso tem sido muito gratificante. É bom ver você sendo publicado em outros lugares, comentado, elogiado... Senti falta disso por muito tempo.
Agora semanalmente meu nome aparece por lá, em críticas e matérias. Sempre que sair alguma coisa minha no Fique Ligado vou mandar o link para vocês por aqui!

Para este contato eu agradeço sempre à Thalyta, grande jornalista que descobriu meu blog e me convidou para este lindo projeto. Também a minha editora Ingrid, sempre preocupada com os subtítulos que eu esqueço de colocar e controlando meu humor, muitas vezes non sense, nos textos! Meninas, vocês não sabem o quanto são importantes para mim!

O Fique Ligado é um site de entretenimento moderno, eficiente e que sempre tem as melhores notícias. Visite e conheça!





Abaixo, as minhas matérias que saíram por lá.

Cinema

Enterrado Vivo

A Rede Social

Minhas mães e Meu Pai

Muita Calma Nessa Hora

Senna

RED - Aposentados e Perigosos

Animação

Megamente

Literatura

Deus é meu Camarada

Milo Manara em Santos

E logo logo, para a alegria da Thalyta, também teremos música aqui!

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Eu indico!

Abaixo alguns amigos que eu indico para sua leitura e deleite.

Não perca a oportunidade de ser desafiado por estes cinco blogs!

Crítica Construtiva ao Comportamento: A delicadeza que se fez mulher

Prancheta da Cátia: Sensibilidade de uma artista única e sem paralelos

Garafunhos: A nova voz de um cotidiano nada entediante

Cara da Palavra: Um diálogo intenso entre imagem, texto e você

Grávida e bipolar: Uma história incomum, uma personagem incomum

Divirta-se!

O real significado de amizade




Passei por três situações diferentes que me mostraram o que é a amizade e seu real valor. Mostraram para mim, também, o meu valor para algumas pessoas. Algumas que eu julgava serem meus amigos de verdade se mostraram diferentes do que eu imaginava. Muito do que eu idealizava sobre amizade caiu por terra, e eu pude provar para mim mesmo o quão bom amigo eu posso sere o quanto meus amigos de verdade são realmente bons, enquanto outros, apenas usam a superfície.

A primeira situação foi alguns meses atrás, quando entrei em um dilema feroz comigo mesmo. Uma dúvida que me corroia, me consumia e me trazia remorso. Eu havia cometido um erro e não queria cometer novamente. Este erro feriu a pessoa mais importante da minha vida na época, alguém que não merecia ser ferida, alguém a quem eu não dei o devido valor.

Corri a este amigo a quem sempre pedia conselhos. Achava que ele era o único que me conhecia, que sabia quem eu era por dentro sem me julgar. O que ouvi dele foi que qualquer decisão que eu tomasse, ele estaria do meu lado.

A decisão que tomei ia contra aquilo que este amigo considerava certo. Aos poucos ele foi me afastando, até que me virou as costas. Qualquer tentativa de minha parte de retomar o relacionamento era refutada.

Com ele, todos viraram as costas a mim também. Eu tornei-me um pária.

Aprendi que idealizamos a amizade acima de tudo. Imaginamos que os laços que formamos com as pessoas são mais fortes que as circunstâncias. Me enganei. Descobri que a distância entre um verdadeiro amigo e um aparente amigo é tão tênue que não conseguimos identificar. Me iludi e me decepcionei. Esperava muito mais do “amigo” que tinha, mas vi que nossos laços eram circunstanciais.

Perdi outra amiga recentemente. Sua morte prematura (aos 17 anos, vítima de câncer) me chocou. A morte nos faz ver a brevidade da vida. Já havia perdido alguém próxima no ano passado, mas dessa vez a morte foi mais dolorida. Eu pouco conhecia a Carina, mas ela era próxima de uma das minhas melhores amigas e isso a devastou. Não consegui ir ao enterro, não consegui reagir. Fiquei estático em casa, deprimido. Era o dia do show do Paul MacCartney e enquanto eu tentava entender o que acontecera ele cantava Blackbird. Chamei meu primo no MSN para conversar, falei apenas “preciso conversar”.

Ele simplesmente pegou seu carro, a uma da manhã e veio me buscar em casa. Eu não precisei falar para ele que ela tinha morrido, não precisei pedir ou oferecer nada em troca. Eu apenas queria conversar, tirar a cabeça de dentro de casa, de dentro do problema, dar uma volta, espairecer. Eu não falei que queria dar uma volta. Poderia conversar pelo próprio computador, mas, de longe, ele viu que eu não estava bem.

Um ato e eu sabia com quem eu podia contar a hora que fosse. Ele não estava em trânsito, ele não pediu para eu ir procura-lo no dia seguinte, ele não desconversou ou fugiu, nem começou a falar dos seus problemas. Não. Ele me ouviu, e tem horas que é só disso que a gente precisa.

A última situação que me ensinou sobre amizade foi quando uma amiga de muito longe precisava desabafar. Eu não tinha como ir até ela, não tinha como oferecer mais do que meus olhos para correr por sobre as letras que escrevia no computador. Tudo o que pude oferecer foi meu consolo virtual, mas era o que ela precisava naquele momento

Seu medo de encarar aquele problema era tanto que ela não conseguia falar sobre aquilo. Eu não me importo com o que ela fez ou deixou de fazer e isso é amizade. Estar lá. Não se trata de “bater cartão”. Amigos são mais que isso, fazem mais do que, simplesmente, cumprir burocraticamente seu papel. Amigos são proativos, se preocupam honestamente. Buscam, correm atrás, desejam estar com o outro e ver o outro feliz.

As adversidades revelam os verdadeiros amigos. É quando sua vida está bagunçada que você sabe quem realmente te quer bem e quem está ao seu lado porque é conveniente, tem objetivos escusos ou apenas é fraco.

Quer fazer a diferença? Seja amigo de verdade. Para quantos você ligou hoje para saber como estão? Experimente.

domingo, 12 de dezembro de 2010

Certas coisas que não queremos, mas precisamos ouvir

E esta é para os pseudo-cristãos tão cheios de amor quanto de hipocrisia.

“Nenhum homem é uma ilha isolada; cada homem é uma partícula do continente, uma parte da terra; se um torrão é arrastado para o mar, a Europa fica diminuída, como se fosse um promontório, como se fosse a casa dos teus amigos ou a tua própria; a morte de qualquer homem diminui-me, porque sou parte do género humano. E por isso não perguntes por quem os sinos dobram; eles dobram por ti”.


John Donne (Poeta inglês citado por Ernest Hemmingway em "Por quem os sinos dobram?")

Se você não se sente assim, desculpe, mas você não pode dizer que tem amor dentro de si.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Dom Casmurro, ou "A omissão que é mentira

Não. Dom Casmurro não é um livro sobre o ciúme. Não é este o assunto que permeia o livro. Não é sua espinha dorsal. Também não é um livro sobre Capitu. Ela, a personagem feminina mais importante da literatura de língua portuguesa não é o mote principal da obra.

O livro é sobre justificar seus erros depois de se ter remorso por eles.

Sim. é isto que Bentinho tenta com seu livro: convencer a si mesmo de algo em que já não mais acredita. Algo que lhe corrói.

Sim, Dom Casmurro é sobre ele mesmo: o Dom Casmurro.

Atar as duas pontas da vida? Pois sim! bentinho quer tentar justificar pela apresentação de provas circunstanciais (é um advogado! Ele vive da defesa de teses) e pela não apresentação de outras provas.

Dom Casmurro é um livro tão importante pelo que se escreve nele quanto pelo que não se escreve. O que é oculto tem tanta importância quanto o que é revelado. Temos um lado da história, que se construiria de forma diferente diante dos outros pontos de vista.

A amargura de Bentinho se sente por toda a extensão do livro, fazendo da narração uma personagem à parte. Tão importante quanto o narrador são os sentimentos que o inundam por toda a extensão do livro. Bentinho se entrega em meias palavras, no imagina-lo escrevendo, quase vendo as lágrimas que lhe correm das vistas, as raivas que oculta, os momentos em que a pena sobe, preferindo uma palavra à outra, mas voltando à original para tentar iludir a si mesmo com uma proximidade de verdade.

Mas não estamos falando da verdade propriamente dita, e sim da sua verdade íntima e pessoal, a verdade em que Bentinho acredita.

Machado constrói um personagem profundo e complexo com este Casmurro que escreve, contando sua história. As nuances acontecem no texto tão mais fortes do que acontecem no fato narrado, dando peso ao que lhe interessa, tirando do que não lhe apraz (a notícia sobre Capitu, enfurnada entre duas frases pouco importantes, demonstrando falso desinteresse pela vida da antes amada, o não lembrar do discurso para o amigo Escobar, que era um mais lembrar que qualquer coisa), construindo um cenário que mostra Capitu como a grande culpada de traição que ele imaginava. Porém, pergunto-me: seria?

Não vemos o rosto de Ezequiel, possível filho da traição que trazia em si Escobar todo. Contamos apenas com a descrição que Bentinho, tomado pelos ciúmes lhe dá. Vemos os enigmáticos olhos de Capitu pela ótica, ora apaixonada, ora desaforada do Casmurro narrador. Conhecemos dos fatos as partes e nada mais que elas. E, diga-se, as partes que interessam a Bentinho que saibamos.

Eis o que a obra tem de mais rico. Machado faz com que a ótica do narrador seja de tal maneira solapada pelo próprio conteúdo que cai em descrença. Bentinho não se faz acreditar justamente pelo fato de que quer ser crido, inclusive por si mesmo, da mentira que a mente lhe pregou.

Ou será que não?

Trecho
 
"Olhos de Capitu"

"Retórica dos namorados, dá-me uma comparação exata e poética para dizer o que foram aqueles olhos de Capitu. Não me acode imagem capaz de dizer, sem quebra da dignidade do estilo, o que eles foram e me fizeram. Olhos de ressaca? Vá, de ressaca. É o que me dá idéia daquela feição nova. Traziam não sei que fluido misterioso e enérgico, uma força que arrastava para dentro, como a vaga que se retira da praia, nos dias de ressaca. Para não ser arrastado, agarrei-me às outras partes vizinhas, às orelhas, aos braços, aos cabelos espalhados pelos ombros, mas tão depressa buscava as pupilas, a onda que saía delas vinha crescendo, cava e escura, ameaçando envolver-me, puxar-me e tragar-me. Quantos minutos gastamos naquele jogo? Só os relógios do céu terão marcado esse tempo infinito e breve. A eternidade tem as suas pêndulas; nem por não acabar nunca deixa de querer saber a duração das felicidades e dos suplícios."

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Viva a Revolução!



Amar, se dar, nunca é demais.
O que levaremos desta vida, afinal, são as ações com que tocamos os outros, os que estão a nossa volta.
De que forma você o fez? Preferiu a verdade do que a mentira? Preferiu evitar ferir do que mascarar a dor?
A revolução é baseada nas escolhas difíceis que fazemos na vida. As concessões que fazemos implicam em resultados. Nem sempre os que queremos, mas sempre os que precisamos.
Revolucione a forma das pessoas a sua volta te verem. Dê amor sem esperar receber amor de volta.
Amor não é um sentimento que se troca, mas um sentimento que se dá.

Faça parte da revolução! Sigam-me os que amam!

domingo, 5 de dezembro de 2010

Tabacaria

O que fazer quando temos uma personalidade tão fragmentada? Fernando Pessoa criou heterônimos, que eram pessoas que habitavam dentro dele e que ele colocava para fora por meio da poesia. Acho que foi o que melhor lidou com sua própria bipolaridade...

Escreveu o poema abaixo (Tabacaria) e assinou como Álvaro de Campos, um homem perdido em si, que não era parte alguma de nada. Não pertencia a nenhum lugar e não se sentia feliz em lugar nenhum.

Poucas vezes estive tão Álvaro de Campos na minha vida. Então, para "comemorar", abaixo o poema que mais se parece com quem sou.

E as pessoas não entenderiam porque eu tomo as decisões que eu tomo, ainda que eu explicasse. Mas dói. Ah, se dói. Sempre dói.

Tabacaria



Não sou nada.
Nunca serei nada.

Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.

Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a por umidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.

Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.

Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.

Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
A aprendizagem que me deram,
Desci dela pela janela das traseiras da casa.
Fui até ao campo com grandes propósitos.
Mas lá encontrei só ervas e árvores,
E quando havia gente era igual à outra.
Saio da janela, sento-me numa cadeira. Em que hei de pensar?

Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso? Mas penso tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
Gênio? Neste momento
Cem mil cérebros se concebem em sonho gênios como eu,
E a história não marcará, quem sabe?, nem um,
Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.
Não, não creio em mim.
Em todos os manicômios há doidos malucos com tantas certezas!
Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?
Não, nem em mim...
Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo
Não estão nesta hora gênios-para-si-mesmos sonhando?
Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas —
Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas —,
E quem sabe se realizáveis,
Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente?
O mundo é para quem nasce para o conquistar
E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.
Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.
Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,
Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.
Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,
Ainda que não more nela;
Serei sempre o que não nasceu para isso;
Serei sempre só o que tinha qualidades;
Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma sem
Porta
E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,
E ouviu a voz de Deus num poço tapado.
Crer em mim? Não, nem em nada.
Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente
O seu sol, a sua chuva, o vento que me acha o cabelo,
E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.
Escravos cardíacos das estrelas,
Conquistamos todo o mundo antes de nos levantar da cama;
Mas acordamos e ele é opaco,
Levantamo-nos e ele é alheio,
Saímos de casa e ele é a terra inteira,
Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.

(Come chocolates, pequena;
Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
Come, pequena suja, come!
Pudesse eu comer chocolates coma mesma verdade com que comes!
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho,
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)

Mas ao menos fica da amargura do que nunca serei
A caligrafia rápida destes versos,
Pórtico partido para o Impossível.
Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo sem lágrimas,
Nobre ao menos no gesto largo com que atiro
A roupa suja que sou, em rol, pra o decurso das coisas,
E fico em casa sem camisa.

(Tu que consolas, que não existes e por isso consolas,
Ou deusa grega, concebida como estátua que fosse viva,
Ou patrícia romana, impossivelmente nobre e nefasta,
Ou princesa de trovadores, gentilíssima e colorida,
Ou marquesa do século dezoito, decotada e longínqua,
Ou cocote célebre do tempo dos nossos pais,
Ou não sei quê moderno - não concebo bem o quê —
Tudo isso, seja o que for, que sejas, se pode inspirar que inspire!
Meu coração é um balde despejado.
Como os que invocam espíritos invocam espíritos invoco
A mim mesmo e não encontro nada.
Chego à janela e vejo a rua com uma nitidez absoluta.
Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que passam,
Vejo os entes vivos vestidos que se cruzam,
Vejo os cães que também existem,
E tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo,

E tudo isto é estrangeiro, como tudo.)

Vivi, estudei, amei e até cri,
E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.
Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira,
E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses
(Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso);
Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo
E que é rabo para aquém do lagarto remexidamente

Fiz de mim o que não soube
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência
Por ser inofensivo
E vou escrever esta história para provar que sou sublime.

Essência musical dos meus versos inúteis,
Quem me dera encontrar-me como coisa que eu fizesse,
E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte,
Calcando aos pés a consciência de estar existindo,
Como um tapete em que um bêbado tropeça
Ou um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada.

Mas o Dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta.
Olho-o com o desconforto da cabeça mal voltada
E com o desconforto da alma mal-entendendo.
Ele morrerá e eu morrerei.
Ele deixará a tabuleta, eu deixarei os versos.
A certa altura morrerá a tabuleta também, os versos também.
Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,
E a língua em que foram escritos os versos.
Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu.
Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente
Continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como
Tabuletas
Sempre uma coisa defronte da outra,
Sempre uma coisa tão inútil como a outra,
Sempre o impossível tão estúpido como o real,
Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície,
Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.

Mas um homem entrou na Tabacaria (para comprar tabaco?)
E a realidade plausível cai de repente em cima de mim.
Semiergo-me enérgico, convencido, humano,
E vou tencionar escrever estes versos em que digo o contrário.

Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los
E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.
Sigo o fumo como uma rota própria,
E gozo, num momento sensitivo e competente,
A libertação de todas as especulações
E a consciência de que a metafísica é uma conseqüência de estar mal disposto.

Depois deito-me para trás na cadeira
E continuo fumando.
Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando.

(Se eu casasse com a filha da minha lavadeira
Talvez fosse feliz.)
Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou à janela.
O homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?).
Ah, conheço-o; é o Esteves sem metafísica.
(O Dono da Tabacaria chegou à porta.)
Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me.
Acenou-me adeus, gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo
Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o Dono da Tabacaria sorriu.

Álvaro de Campos (mas poderia ser João Thiago)

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Dear Prudence



Querida Prudence, Saia do seu quartinho fechado e venha ver o quanto o mundo é lindo, o céu é azul e a felicidade até que existe.

Abre logo mão desta visão de mundo triste e solitária. Abra mão do egoísmo, do legalismo, da religião. Olha em volta, Prudence. Um mundo de oportunidades clama por seus sorrisos. Sorria mais!

Deus te deixou um céu azul e um mar verde para você curtir enquanto está sorrindo.
Tem um sol neste céu azul, e isto é lindo, assim como você. (E você nem imagina o quanto te acho linda, Prudence)

Deixe de lado esta cara carrancuda e esta atitude fechada para os outros. Deixe que o amor te alimente e mesmo que o amor te machuque, pois este sangue que corre em nossas lágrimas mais tristes e este sangue pulsando em nossos corações sorridentes é que mostram que estamos vivos.

Querida Prudence, quer vir aqui fora brincar?