terça-feira, 26 de abril de 2011

Sem palavras

Chacoalhão

"Você precisa descobrir quem você é".


Sim, esta foi a frase que ouvi ontem de uma pessoa que, mais que carinho, tem meu respeito e admiração. Estas coisas fazem a gente pensar.


Como saber quem a gente é?


Não é saber do que gosto, ou o que faço, mas quem eu sou. O que existe dentro de mim e que ainda me é um mistério.


Mistérios que a vida da gente carrega.


Uma frase que li por esses dias dizia que a gente só vai entender a vida quando já não a tem mais.


E eu escrevi uma frase do Jabor aqui que diz que a vida só gosta de quem gosta dela.


Tento me reinventar a cada dia, lutando contra um monte de coisas que ainda habitam em mim. Coisas que não me fazem bem. Quantas vezes a gente se vê fazendo exatamente aquilo que a gente não quer, como se aquilo fosse mais forte que a gente?


Quem sou eu?


Tinha um poema do Leminski...



Lembrem de mim
Como de um que ouvia a chuva
Como quem assiste missa
Como quem hesita, mestiça,
Entre a pressa e a preguiça

Esse aí em cima fala um pouco de mim. Um homem que contempla o mundo. Alguém que vive como quem vê.

Descobrir quem somos é um processo lento e progressivo. Não acontece de uma vez só, e a demora neste processo só prejudica a nós mesmos. Tenho meus defeitos, e sei quais são. Poderia enumera-los, mas resolvi ser mais comedido em minhas revelações.

Descubra-se. Descobrir quem você é acaba definindo quem você é.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Carta aberta a minha antiga igreja

Amados amigos.

Antes de qualquer coisa, Paz e Bem. Esta saudação, eternizada pelo frei Francisco de Assis, tem a força de desejar que a Paz do Senhor chegue à vida da pessoa e que o bem deste mundo também a alcance.

Estive conversando com minha ex-esposa sobre alguns assuntos. Soube de coisas que andam acontecendo por aí, que, quero acreditar, não são apoiadas pelo apóstolo que lidera esta obra.

Sei de sua preocupação em me proteger. Durante anos o chamei de "pai", considerando que seu papel em minha vida espiritual foi exatamente de paternidade protetora, pastoral, forte e marcante. Hoje não o chamo mais assim, não porque ele tenha deixado de ser digno de receber esta nomenclatura, mas porque sinto que só teria direito de usar este nome se eu ainda seguisse aquilo que ele sempre disse.

Quando me separei de minha esposa, me separei, também, da igreja, infelizmente. Não havia como desvinciliar um assunto do outro.

Mas não foi para falar sobre isso que resolvi escrever esta carta. Minha vida diz respeito a mim, e a mais ninguém. E é sobre isso que quero falar.

Andei sabendo de casais que eram uma bênção têm se separado. Segundo minha ex-esposa, nosso exemplo teria ficado marcado na mente destas pessoas, que resolveram segui-lo.

Quero dizer que não aprovo que estes casais não procurem caminhos alternativos para serem felizes juntos. Se eu fosse mais maduro e mais seguro de mim, certamente que ainda estaria casado com a mulher que durante tanto tempo eu amei e que tem a maior importância na minha vida.

Triste ver famílias lindas, com crianças lindas se destruindo por conta de um mau exemplo dado por mim. No entanto, não aceito a responsabilidade pelos atos dos outros. Eu respondo por mim, quanto aos outros, que respondam por si mesmos.

No entanto, é com tristeza e verdadeira dor que vejo famílias que eu tinha em altíssima conta seguindo o mesmo caminho tôrpe que eu obriguei a minha ex-esposa a seguir. Sim, a decisão da separação foi minha e de mais ninguém. Uma decisão da qual me arrependo em parte. Sem ela, não estaria hoje em João Pessoa, vivendo o sonho de ser jornalista. Porém, se ainda estivesse com minha ex, certamente ainda estaria vivendo um teatro que ideias que não interessa a mim e nem a ninguém.

Portanto, se quer seguir meu exemplo, lembre-se de como eu era com minha esposa. Sempre nos amamos e sempre fomos carinhosos. Eramos considerados o casal mais bonito da igreja, pois tínhamos o outro como prioridade. Não se deixe influenciar por meu egoísmo, e sim pelo autruismo de uma mulher excepcional, que durante anos tolerou meus erros e falhas, e durante anos me amou mais do que tudo, e a mim se dedicou.

Não aceito a separação destes casais. Não aceito ser responsabilizado por nada. Desde já autorizo nosso apóstolo a contar exatamente o que aconteceu comigo. Porque eu me desgarrei do caminho e porque tomei as decisões que tomei, para que vocês entendam o peso que há nas escolhas que decidimos tomar. Não se deixe influenciar por maus exemplos. Guarde o que há de bom dentro de você, e saiba que a mulher que pariu seus filhos é a mulher certa para você. E você sabe exatamente para quem estou falando.

Fiquem na paz e na graça do Senhor Jesus.

João Thiago da Cunha Netto

Sobre Jesus numa moto

A música do Post abaixo...

Pois bem... conheço Sá e Guarabyra há muito tempo. Desde minha infância. Rodrix foi uma descoberta mais atual, coisa nova para mim...

Mas meu pai ouvia muito rock rural, que eu acho que tem uma baita influência no meu gosto musical. Costumo chamar de "Folk nacional de verdade". Sá e Guarabyra, Rodrix, Clube de Esquina, Boca Livre, Zé renato, Renato Teixeira, Zé Ramalho, Belchior... Um som diferente, com poucos praticantes, mas pontuais, fortes, com letras que falam sobre a inconstância, sobre a necessidade do ir.

Sempre identifiquei estes caras como músicos que escreviam sobre viagens. Por isso elegi, pouco tempo atrás, esta como sendo uma das músicas que define quem sou. Aliás, destes três caras, Sá, Rodrix e Guarabyra , tenho muitas músicas que me definem. Esta, "Atrás Poeira", "Meu Lar é Onde Estão meus Sapatos" (nome do meu blog-livro). São canções que falam sobre a necessidade do "ir" e sobre a incerteza do "ser". De Belchior, elejo "Apenas um Rapaz Latino Americano" e "Como Nossos Pais". De outros, tantas canções...

Interessante ter canções que falam sobre quem somos. Fala ao meu interior esta questão. Queria que Rodrix estivesse vivo, queria ve-lo. Pena... Sobram Sá e Guarabyra, que já são excelentes o suficiente e têm um gosto de bagagem tão bom...

Paixão






Porque se chama "Paixão" este período do ano em que lembramos da morte de um homem? Só depois de entender o sacrifício dEle é que entendemos o motivo.

Sua paixão o faz entregar-se a morte para que o ser humano pudesse encontrar a vida.

Triste? Não. A alegria resultante do terceiro dia supre o luto dos dois dias anteriores.

***

Considero Tomé um injustiçado.

Pense... Ele não estava no salão quando o Mestre apareceu para os discípulos e as mulheres.

Ele estava tão triste e deprimido que teve que sair, andar pela cidade, expor-se ao perigo, chorar de tristeza, para poder afogar as mágoas pela ausência de seu Mestre.

Triste Tomé. Se permitiu uma fé alicerçada em dúvidas e foi transformado em um dos vilões do evangelho.

Acho que meu destino é o mesmo.

Ainda assim, eu só creio quando ver as chagas.

***

Triste Pessach esta minha, que passarei longe dos meus pela primeira vez. Em 29 anos é a primeira vez que não ganho ovinho de ninguém.

No entanto, serve para encontrar velhos hábitos de nossa sociedade brasileira. Na sexta-feira da Paixão, em João Pessoa, tem muita gente que ainda mantém velhos hábitos, como não limpar a casa e não tomar banho (sim, apesar de ser uma lástima, este era um hábito dos antigos na Páscoa. Ninguém tinha o direito de se banhar). Hoje comerei peixe e verei muitos pessoenses meditando sobre suas vidas, sua existência, sobre tudo o que suas vidas significam.

Amanhã a gente espanca os Judas.

***

Na TV, amanhã, às 20h, passará a Paixão de Cristo de Nova Jerusalém, o maior espetáculo a céu aberto do mundo (sei lá se estou certo, não li isso em lugar nenhum, é pura dedução).Tiago Lacerda é Jesus e Fafá de Belém é Maria. A imagino cantando "Coração do Agreste" vestida de véu azul com o corpo do tiagão no colo... 

TENSO.

***
Queria passar esta Páscoa com você. Foram tantas sextas-feiras santas comendo o bacalhau com coco que até sinto falta dele hoje...

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Quem sou eu para falar de samba?

Quem sou eu para falar de samba? Não sou um bamba, sou um tipo qualquer, um zé mané, ralé, gente sem jeito, sentado no parapeito da vida, esperando para poder voar.
Quem sou eu, afinal, para falar de samba, não é verdade? Não ouvi ou vi ao vivo Noel, Pixinguinha ou Donga. Não estava no Rio, fugindo da polícia, jogando capoeira e amando as negras da Lapa. Não sentei na roda com Martinho, muito menos com Paulinho puxei um samba sequer.
Não sou ninguém para falar de samba. Nunca vi foto de João da Baiana, nem ouvi Elizeth cantar e encantar na madrugada. Quem sou eu para dizer o som do carnaval? Logo eu, que, ao ouvir uma marchinha, passo mal que só a gota.
Nasci um ano antes de morrer Vinícius. Quem sou eu para dizer que sei o que quer dizer sua música? Não sou ninguém. Não conheço Monarco, Billy Blanco, Zé Keti, sim, era o Samba, a voz do morro, ele mesmo, sim senhor.
Nunca sentei com dona Zica. Nunca chorei com Chiquinha Barbosa. Nunca vi Clara encandear. As cabrochas? Só as vi danças a distância. Eu mesmo não sei molejar meu corpo, não sei me fazer movimento, prá frente, prá cima, prá dentro, não sei dançar.
Toquei violão quando criança, mas adulto, não sei tirar uma nota. Não tenho foto com João Bosco, meu xará, nem com Paulo Vanzollini, autor magistral da terra da garoa. Nunca xinguei Adoniran de alguma palavra suja italiana, nem ouvi os demônios infernizando a vida do povo da cidade grande.
não sei tocar caixinha de fósforo, seu Ciro Monteiro. Nem lata de graxa, seu Germano Mathias. Não sei tocar cavaquinho, seu zeca, e muito menos bandolim, seu Jacob. Pandeiro, então, deixo para o Jackson.

Posso não saber nada disso, nem ser um deles, mas, sei lá, dentro do coração, quando bate o bumbo e eu fecho os olhos, minha alma dança, negra e feliz. e, como Vinícius, me torno o branco mais preto deste meu país, e me regozijo no samba crioulo que ainda corre nas veias de um simples sonhador. Um ninguém, que puxa a cartola para a passagem dos mestres do samba.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

O Controle sobre nossas vidas

Quem quer controlar e moldar o amor e os sentimentos a suas próprias vontades vai quebrar a cara. Sempre que tentamos colocar o mundo dentro dos moldes que formamos para ele, tentando rotula-lo dentro de sua imperfeição absoluta, transformando-o em algo estratificado cometemos o erro de não permitir improvisos, e não aceitar que, aqueles que não formatam o mundo, improvisem também.
Viver não é seguir uma cartilha, lendo ali cada passo que podemos dar, seguindo a risca uma agenda cheia de tópicos pré-estabelecidos. Não podemos viver de rótulos, não podemos nos montar e armar para a vida pensamos que estamos prontos para ela, pois não estamos. Nunca estamos. E jamais estaremos prontos para o que quer que seja que aconteça.
Não existe planejamento possível. Lógico que existe um caminho a trilhar, mas se prender a ele é não permitir que a vida ofereça o melhor que pode te oferecer. Não. A vida tem mais do que aquilo que eu planejei. Se ela me quer em João Pessoa, fico, se ela me quer em São Paulo, vou. Eu sou o senhor do meu destino e capitão da minha alma, mas quem manda nos ventos não sou eu.
Enfrentei tempestades que eu mesmo criei, e subi montanhas que eu mesmo esculpi na terra da minha vida. Entendo as consequências de minhas escolhas, me arrependo de uma série delas. No entanto, eu assumo minha responsabilidade quando ela é minha. Não fujo de minhas escolhas. Não fujo daquilo que tenho medo.

*   *   *

Não sei se já falei sobre como eu penso que Deus sabe do nosso futuro... Como cristão, ainda que em permanente declínio, com a fé calcada nas dúvidas, e não nas certezas, creio que Deus tem conhecimento pleno sobre quem somos e sobre as decisões que vamos tomar. Mais do que saber o caminho que vamos seguir, Ele sabe os caminhos que podemos seguir. Deus conhece todas as tramas emaranhadas de possibilidades de nossas vidas.
Deus é o Senhor de todas as possibilidades. A cada "sim" e "não", "concrdo" e "discordo" que dizemos, olhar que damos, passos que caminhamos, uma nova malha de possibilidades surge diante de nós, apagando todas as outras que existiam antes. Nesta malha, linhas diversas tecidas pelas próprias mãos de Deus nos permitem escolher qualquer caminho que queiramos tomar. Sim, as escolhas são nossas, mas Ele sabe exatamente o que vai acontecer conosco a cada decisão que tomamos, seja ela qual for.
A complexidade de nossas decisões não é colapsada pela consciência plena de Deus. O Paradoxo do Livre Arbítrio contra a Onisciência se quebra.
E eu encontro uma explicação lógica para ter caído em João Pessoa...