terça-feira, 31 de maio de 2011

Calças

Tentei vestir calças novas
Calças mais jovens que as minhas, largas e puídas
Calças que pudessem me vestir e me dar forma
Não calças que tomassem a minha forma flácida de outrora
Como as calças de outrora que ainda tenho
Mas calças que me dessem pernas torneadas
E um sentimento de beleza que anda me faltando
Não sei porque
(ou sei, não sei...)
Sei que tentei vestir novas calças
Mas as velhas são tão mais confortáveis
Que ainda não consegui comprar as novas.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Visto meu corpo de gordo

Durante muito tempo mantive um blog sobre o processo de emagrecimento pelo qual estava passando. Ando meio sem criatividade para escrever por aqui, tem um outro projeto que tem me tomado de uma forma louca e agradável, e eu não tenho dinheiro para ficar na internet o dia inteiro. Nos próximos dias vou postar umas coisas engraçadinhas que estão no outro blog, cujo nome não vale a pena citar.

A primeira é um poema do Jô Soares, que está no excelente "O Astronauta sem Regime", seu livro de crônicas, contos e piadas, lançado há tanto tempo que nem sei mais.


Visto o meu corpo de gordo
Como armadura de um cavaleiro andante
Mas trago a agilidade do trapézio
No absurdo do meu salto.

Dias a fio desafio a física
Contrariando as leis da gravidade,
Já que a farta matéria que me cobre os ossos
Deveria me dar o ritmo das pedras.

Meu gesto é fácil e meu passo é voo.
Meu pulo é largo e espanta os tristes
E todos aqueles que, de medo,
Guardaram meus saltos no bolso da rotina.

Meu corpo livre, volumoso e leve
É como um traje espacial
E saio pelo espaço.

Não tenho tubos me ligando ao módulo
Mas já tive um cordão muito umbilical.

Eu sou o astronauta sem regime,
O Dom Quixote do carboidrato.

Jô Soares

Poema sem escrúpulos

Ainda tem espaço para um canalha no seu coração?
Quero bagunçar o que você deixou tão arrogantemente arrumado
Tão organizadamente metódico.
A vida não tem graça com método.
Tudo o que vale a pena é furia, e caos, e paixão
E não esta sua forma correta de dizer "não".
Cabe um cafajeste no seu coração?
Um que se assume, e que sabe que você gosta?
Um que te olha e você derrete?
Cabe um assim no seu coração?
Um homem que não faz promessas
Então, não tem promessas a cumprir
Sem dívidas a pagar.
Um homem que sorri para você
E te faz pedir "mais um orgasmo, por favor",
Porque eu quero invadir seu espaço
Tomar seu castelo
Te fazer esquecer de príncipes encantados
E cavalos alados
Posso abrir as portas e janelas do seu coração
E te deixar ali, olhando para fora, esperando por minha mão?
E posso te perguntar, afinal,
"E então, princesa? Vais me resgatar ou não?"


O momento me pareceu bastante propício para posta-lo aqui. Antes, só o tinha colocado em outro lugar que não vale a pena citar...

sábado, 28 de maio de 2011

Duas perguntas...

Será que não me dedico demais a coisas que não vão me levar a fim nenhum?

Ou será que estou esperando por um "fim", quando o grande barato é o caminho até lá?

Para a gente pensar neste fim de semana...

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Um continho.

Pôr do sol

Um pouco acima do horizonte a bola alaranjada desce devagar por trás de poucas nuvens. O céu, tingido de um laranja azedo, escuro, meio casca de manga madura, vai retingindo-se de um azul escuro quase pretume do outro lado. Desce a bola amarela pequeninizando-se na linha da água, quase que no fundo de um mar sem fundo, vê-se seu reflexo dourado no mar. É vertical o triângulo de oiro que tinge a água verde claro do braço de rio salgado que banha aquelas bandas. Sentado na casa da Pólvora, espero, calmo, o dia acabar.

Do outro lado da cidade, correndo por alguma coisa, sem olhar céu laranja e azul escuro, já salpicado pelas primeiras bolinhas de luz branca que mancham o pano preto estendido, ela corre buscando o que fazer. É um dia especial, um dos dias em que o por do sol pode esperar, pois a vida tem que seguir seu rumo, seu passo, inexoravelmente.

Olhando para o sol, contemplando o infinito multicolorido e gracioso que baila na água do braço de mar lá em baixo e no céu lá em riba, só meu braço em volta do seu abraço era o que eu queria agora. o céu, já quase todo tomado pelo azul escuro, ainda que resista a bola amarela e vermelha que desce lá longe, no fim do fundo do horizonte, já é roubado pelas estrelas. A lua aparece fraca do outro lado. "Bom, céu de estrelas. vai dar para ver o desenho da Via Láctea no céu", penso, egoísta, naquele céu que é só para mim.

Ela ainda não viu, mas deve ter uma estrela com o nome dela reluzindo em algum lugar. Ela é a que une os outros em volta de si, com um sorriso que vale mais que uma lua. Drummond diria que ela tem boca de luar minguante, de sorriso certo e agradável. Penso que valeria mais olhar para um sorriso dela do que para mil pôres de sol sozinho na casa da pólvora. Enquanto ela corre, sei lá prá que, estou a contemplar.

Contemplo o céu, que já chegou à sua escuridão. Contemplo as estrelas, que já estão lá. Contemplo o tempo, que, sem tempo, se deixou levar. Devaneio ela ao meu lado, unindo-nos, apenas, nada mais.

Mas não.

O sol já se pôs. Levanto-me sabendo que ela não me espera em algum lugar. Tomo meu caminho. Volto ao meu sozinho. Solidão que já cansou.

(fazia tempo que não escrevia contos)


Fechados os sinais de amizades verdadeiras em um mundo onde as pessoas se distanciam cada vez mais. Estamos longe do próximo, ironia maior de um mundo que pede por calor humano. Aqueles com quem pensamos ter alguma intimidade, na verdade, carecem, também, de intimidade, como nós, mas, na verdade, preferem buscar a independência.

E porque isso acontece?

Isso acontece porque os seres humanos se machucam uns aos outros, em suas relações baseadas em humanidade, que quer dizer mentiras, mágoa e tristeza. Porém, humanidade também quer dizer compromisso, generosidade e amor, apesar de conseguirmos enxergar cada vez menos estas características nos seres humanos à nossa volta.

Vivemos em um mundo com pressa. É a alma dos nossos negócios. Andamos sempre a cem, esquecendo que o ritmo do outro precisa ser preservado, respeitado. As relações são fragilizadas pela velocidade com que se dão. Ergue-se castelos sobre alicerces de barracos e ainda nos perguntamos porque eles não se sustentam. A profundidade só se conquista com tempo e esforço. A intimidade é fruto de investimento.

Aos poucos vou aprendendo isso, mesmo depois de tanto tempo, graças a Deus, não paro de errar e aprender.

Até queremos dar amor, porém, o impomos de forma tão ostensiva que, de amor, só sobra o nome. No mais ele é repressão determinista, como se fôssemos obrigados a ele o tempo todo. Estamos vinculados a relacionamentos marcados por superficialidades e quando falamos de amor, o termo amedronta e seduz, pois desaprendemos seu verdadeiro, íntegro e profundo significado.

Mas ainda podemos nos salvar da amargura de estarmos sempre à flor d'água no que tange a relacionamentos.

Ainda podemos responder à ligação, falar com o outro, marcar o encontro, trocar os livros, tomar um sorvete, ou cerveja, dependendo do gosto, ver o pôr do sol.

Juntos.

Afinal, não fomos criados para vivermos sozinhos.

Então, esqueça o sinal por um minuto. Dane-se que ele vai abrir. Olhe para o lado e veja aquele que está ali, carecendo de um pouco de amizade, carinho e atenção. Estenda a mão, dê um abraço. A revolução continua, dia após dia, companheiros, e é o amor que pode transformar este mundo seco, triste e vazio em que vivemos.

Mas o amor de verdade, e não a superficialidade que acham que é amor. Me dê um abraço quando sentir que o quer fazer de verdade, não quando se sentir pressionado a fazer.

É a sua força de vontade que faz o amor brotar. permita-se abrir-se para o outro. Permita-se amar!

quinta-feira, 26 de maio de 2011

De volta ao passado

Eu tinha uns cinco anos de idade quando ouvi, no clube que freqüentávamos em Campinas, a seguinte frase: “Você não lembra de nada de antes dos cinco anos de idade”. Não sei quem falou isso, mas foi em uma mesa, à volta de algumas garrafas vazias de cerveja, ou seja, em alguma academia filosófica padrão do Brasil do século XX.

Devo ter ficado me concentrando naquele momento, para que ele ficasse marcado em minha mente e eu pudesse contrariar a “sabedoria divina” que provinha da mesa do bar. Tentei lembrar várias coisas em meu passado, tão curto até então, e guardei-as em alguma gaveta em minha lembrança. Porém, o que mais me interessa, quando olho para trás e vejo aquele momento, é a minha atitude de inconformismo diante do inevitável. Não importa se era verdade ou não aquela informação, mas sim que, como criança, eu acreditava piamente em tudo que os adultos diziam. Então, para mim, não lembrar de meu passado era verdade. Aquilo ia acontecer comigo.

O determinismo daquela frase me chocou, mas não me dei por vencido. Creio que minha contínua ligação ao passado tem raízes neste momento. Sou alguém que não quer esquecer. Reservei uma grande área em meu cérebro com um álbum de fotografias e vídeos para onde posso correr para lembrar tudo. Busco em minha vivência anterior a contínua bagagem para a vivência posterior. Para viajar, precisamos saber com o que nos vestir para onde vamos, e nada melhor do que lembrar como nos vestimos da última vez que estivemos ali.
Tenho flashes dos meus primeiros anos. Muito esparsos, mas consegui romper a barreira imposta por aquela citação. Sem muita lógica, consegui formar um pequeno quebra-cabeças de reflexos que se estendem pelo período de aproximadamente dois anos antes do fatídico dia de meu quinto aniversário.

Lembro de duas coisas do meu primeiro colégio: “Balão Mágico”. Lembro dos brinquedos do play ground, lembro de estar com as monitoras no play-ground, em um brinquedo que parecia uma gaiola. Lembro de estar sentado em uma mesa, em uma festa junina, ao lado de uma menina de olhos verdes e da minha mãe falando que éramos namorados. Eu tinha quase cinco anos nesta época. Era meu último ano naquela escola.

Lembro do dia em que meus pais me contaram que eu ia ter um irmãozinho. Nós estávamos no carro (um Passat, não lembro qual, pois tivemos um azul, um cinza e um branco) e eles disseram que o Felipe estava vindo. Eu tinha quase quatro anos e estava de pé no espaço entre os dois bancos da frente, olhando para minha mãe, que sorria para mim.

Quando meu irmão chegou em casa, eu lembro de estar no quarto da minha mãe, com a minha avó, esperando. O carro parou de frente para o prédio onde morávamos. As grades do prédio eram de ferro, pintadas com tinta anti-ferrugem e o piso ainda era de concreto, com as marcas das vagas de estacionamento dos apartamentos pintadas em amarelo. Eu tinha quatro anos de idade.

Lembro da pintura azul em meu quarto, com as nuvens. Lembro do meu pai criando, com mãos de marceneiro, os móveis de nosso quarto. Lembro da escola “Meu Quintal”, comigo fantasiado de Gorpo, por que não queria ficar vestido de He-man. Lembro de ir ao Taquaral, um parque em Campinas, com mais umas seis pessoas dentro de um fusca branco. Lembro do cheiro de uma bola de borracha que compramos lá. Lembro de muito mais coisas, que não preciso dizer aqui. Tudo antes dos cinco anos.

Eu lutei contra uma determinação do tempo. Lutei contra o conhecimento humano de que não poderia me lembrar de nada antes dos meus cinco anos de idade e lembro. Lutei para não esquecer qual é o sabor da memória para mim. Lutei, por que tudo o que posso fazer contra o determinismo é lutar. Não quero ter uma vida vazia, sem lembranças.

Não vivi muito. Nem vivi intensamente. Sempre tive uma vida perene e normal. Normal demais, sem muito me aventurar. As perdas não foram tantas, e nem tão marcantes (excetuando-se meu avô e minha avó, não perdi entes queridos). As vitórias não foram tão grandiosas. Porém, as lembranças desta vida são minhas e não aceito que digam até onde posso lembrar delas.

Proposta do dia: lembre-se de algo de sua infância. Um cheiro, uma pessoa, uma textura.

Texto originalmente publicado em "Meu lar é onde estão meus sapatos" em 2009

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Pão e Circo

Este texto foi escrito no meu primeiro Blog, que eu mantenho como o meu "Blog-Livro", o "Meu Lar é Onde Estão Meus Sapatos", e foi escrito em 2009, se não me engano. Assistindo ao Samuka hoje, lembrei dele e pensei no quanto era pertinente a sua publicação.

Aos que gostam do moído, boa sorte. Aos que gostam de qualidade no jornalismo, pensam como eu.

Pão E Circo



Desde tempos imemoriais o homem se diverte com a desgraça alheia. Um padrão triste de comportamento que, geração após geração, se repete, deixando-nos envergonhados de tamanha carnificina em prol do entretenimento.

Sabedores deste fato, os governantes sempre lançaram mão de recursos cruéis para aumentarem sua popularidade. Gladiadores lutavam até a morte no império romano, homens eram crucificados por seus crimes, mulheres apedrejadas por seus erros.

Lançavam mão de tais recursos, também, para controlar o povo que, assistindo a tais eventos, vendo que os envolvidos se feriam, sentiam-se mais “aliviados” e consideravam seus problemas mais simples, visto que não era necessário sangue para resolve-los.

Até hoje é assim. Na TV, vemos desde o sofrimento mental de Susan Boyle e sua evidente doença até Datena falando sobre bandidos foragidos no centro de São Paulo. Uma leve zappeada pelos canais de nossa TV aberta é o bastante para ver os gladiadores do nosso cotidiano e seu banho de sangue contínuo e ininterrupto.

A TV nos oferece este “ópio desnecessário”. Um bálsamo mentiroso que nos vicia e nos prende diante dela, em uma relação de amor e ódio que apenas expõe a miséria humana e a necessidade de simplificar nossos relacionamentos.

De linguagem dinâmica e rápida, calcado no carisma (nem sempre cativante, mas sempre marcante) de seus apresentadores, programas como o Brasil Urgente ainda existem, e teimam em encher nossas TVs da miséria humana mais degradante.

Os pobres de espírito, tristes, desolados, solitários e abandonados de todos os lugares ainda assistem a estas desgraças, enchendo suas mentes de fatos tristes e opiniões extremas.

São favoráveis à pena de morte quando lhes convém. Querem prisão perpétua quando é interessante. Vêem como heroísmo os linchamentos e como vilões a maioria dos policiais que apenas está fazendo seu trabalho. Programas assim colaboram com os bandidos, que só querem publicidade e estão longe de receber a punição merecida.

Aqui na empresa onde trabalho uma moça sempre traz as “boas novas” que o Datena apresenta. Crianças mortas de fome, seqüestros relâmpagos, incêndios, assassinatos, policiais corruptos. Sempre a mesma história, com diferentes personagens e ambientes, mas sempre com o mesmo final: tragédia. Fico pensando em como ela lida com os próprios problemas. A televisão é o ópio do povo, e ela já está viciada.

Como disse, desde tempos imemoriais ver o problema alheio é motivo de entretenimento, pois nos isola de nossos próprios problemas, nos transformando em conformistas deterministas. Frases como “este mundo não tem jeito”, “disso para pior” são comuns na boca destas pessoas, que agradecem a Deus pelas próprias misérias serem tão pequenas perto daquelas que vêem na TV.

E na TV, os gladiadores de hoje ainda lutam. Sangue ainda escorre pelas telas e o som dos tiros pode ser ouvido a milhas de distância. Enquanto a miséria à sua volta não é tratada, o cidadão zappeia sua TV em busca de uma miséria alheia, à qual ele está alheio, mas da qual quer participar, pois não vai piorar sua vida e ele vai poder comentar algo com os outros “cidadãos padrão” que estão à sua volta. A “máquina de fazer doido” continua a atacar impiedosamente, e o cidadão, coitado, continua parado, na mesma, apenas recebendo os golpes e pedindo mais.

50 anos a mil - Crítica do livro de Lobão



Um dia, João Luis Woerdembag Filho acordou e viu-se metamorfoseado em uma barata.

O início sintético e intenso de “A Metamorfose”, de Franz Kafka, é uma forma resumida de dizer o que as quase 600 páginas de 50 anos a mil (Nova fronteira – 2010), autobiografia de Lobão querem nos fazer acreditar: Lobão foi transformado, ao longo de sua vida, em um ser que, muitas vezes, ele não é. A mídia o fez a barata da vez. Do pequeno Joãoluizinho, como sua mãe o chamava, até o Lobão preso por porte de drogas em 1987, vemos as diversas faces do homem que escreveu, entre outras, Vida Louca, Vida, e Me Chama, sucessos nas vozes de Cazuza e Marina em um livro que flutua entre a análise de um tempo e a auto-análise de um homem.

Lobão não se poupa. Sua paixão platônica por Marina, a ocasião em que ficou preso em um elevador com Robert de Niro, a relação com sua mãe, os desentendimentos com seu pai, as tentativas de suicídio, são alguns dos episódios que vemos como que contados por alguém que viveu, mas consegue olhar de fora, analisar, avaliar as atitudes do personagem principal, não como quem olha não para si mesmo, mas para alguém muito conhecido, sobre quem não são necessárias censuras.

Tudo isso recheado das mudanças constantes pelas quais teve que passar para continuar de pé. Um caso claro de sucesso às avessas, Lobão foi redescoberto há pouco pela MTV, mediando debates, fazendo entrevistas inteligentes, usando a inteligência vasta para um meio para o qual não estava ainda preparado: a TV.

A intervenção de Cláudio Tognolli, chamado para colaborar e organizar os relatos de Lobão, é positiva. A fluidez e o ritmo da escrita de Lobão foram mantidos, o que não restringe o livro ao inflexível avanço cronológico, mas deixa a coisa mais livre e leve, como se o tempo fosse um algo vago, um espaço entre vários assuntos, que se alternam entre os parágrafos. O livro avança como se fosse o movimento das ondas, indo e voltando, mas sempre avançando até o lançamento do Acústico MTV, que venceu o Grammy Latino como melhor disco de rock.

De cansativo, apenas a parte quase acadêmica que o jornalista faz chamada de “Lobão na Mídia”, com um resumo do que saiu sobre Lobão referente aos assuntos tratados capítulo a capítulo. Muito do livro se repete ali, o que mostra que é capítulo desnecessário, algumas vezes até papel mal gasto.

Iconoclasta, irreverente, e sem medo de nada, Lobão dispara sua metralhadora verborrágica para todos os lados, falando mal, elogiando, mostrando um personagem forte. No entanto, por trás, nós conseguimos ver, escondido ainda, o menino amedrontado, o pequeno Joãoluizinho que a mãe tratava com tanto carinho e cuidado. No fim, é isso que ele é: um cordeiro, vestido na pele de lobo.


Não amar é algo de que se pode arrepender-se, mas nunca se pode arrepender-se de amar. Ainda que o amar tenha sido em vão, visto que o outro (ou a outra, como é meu caso) não te correspondeu. Não. Amar não é algo digno de arrependimento, e sim de alegria. Amar é motivo de orgulho.

Quando amamos e não somos correspondidos, demonstramos ter em nós uma força intensa e maravilhosa que precisa ser canalizada em alguma direção. Quando escolhemos (escolhemos?) direcionar esta força para alguém, liberamos uma carga emocional que estava presa dentro de nós. Esta carga, junto de um monte de serotonina, adrenalina e outras coisas científicas cujo nome me escapa agora, nos dá um bem estar e uma força de vontade que não tínhamos para seguir a vida.

Por isso dizem que quando a gente ama tudo fica colorido. Mesmo para um daltônico como eu, isso é uma verdade.

Quando não recebemos esta carga de volta, quando não somos correspondidos, o normal é que, com o tempo, esta força toda venha a arrefecer. No entanto, isso não acontece sempre, deixando algumas pessoas doentes de amor. A depressão nada mais é que o corpo tentando voltar ao estado anterior à "dopagem" amorosa, equalizando nossos níveis novamente. Voltamos à estaca zero, começamos a armazenar energia e carinho novamente (pois isso nunca pára de surgir de dentro de nós) e nos prepararmos para a próxima carga. Algumas pessoas querem se fechar, pois não receberam de volta aquilo tudo o que deram, achando que somos uma fonte esgotável de carinho e afeto.

No entanto, nós não somos.

O que há dentro de nós, o amor, é maior do que podemos imaginar, e nunca chegaremos ao fundo do poço de onde ele brota. Ao contrário, nossas fontes estão sempre transbordantes, deixando que sobre amor para todos os lados.

Ainda tem gente que tenta tampar isso, mas mesmo estes precisam daquela água de vez em quando.

Então, se você amar e não for correspondido, tenha certeza de uma coisa... Mais cedo ou mais tarde, ainda que você tampe o poço, se feche em copas e diga "não amarei novamente", você vai amar. Pegue uma canção triste e ela te fará se sentir melhor. O movimento que você precisa fazer está em seus ombros, onde você não deve carregar o mundo.

Você vai levantar a cabeça e vai seguir em frente, pois você é humano, dotado de resiliência, esta peste desta característica que nos faz não desistir de viver. Você é dotado de fome de viver e de amar, e ainda que ache que educou seu coração, saiba que corações não servem para ser educados. Assim como cavalos chucros, eles precisam estar soltos em campos vastos, galopando para onde querem.

Corações são assim, e nós gostamos deste jeito.

Detalhe. Tentei agregar a música "Hey Jude" aqui mais de três vezes e não consegui. A Sony tem os direitos exclusivos sobre ela, o que é uma pena, pois não deixam que o amor seja espalhado pela rede.

Ah, sim, em tempo, amor ao dinheiro não é direcionamento saudável para o sentimento de que falávamos lá em cima...


terça-feira, 24 de maio de 2011

Os Dominicanos estão certos

"Quando falam do casamento, os frades dominicanos colocam-no como a expressão máxima do amor humano, pois é a união afetiva, física e espiritual de dois seres em busca de sua realização mútua e que reflete a sua fecundidade na constituição da família, nos filhos. No entanto, o amor não é uma realidade estática; é dinâmica, que se conquista a cada dia, em meio aos dramas normais da vida. Por isso, o casamento seria uma escola de amor, onde diariamente se aprende um pouco mais. E quando esse dinamismo para, o amor corre o risco de morrer, já que não há maneira de o amor subsistir sem movimento.

Parágrafo de "Revolução na Igreja", matéria de Narciso Kalili, na revista Realidade n° 7, Outubro de 1966

Escrito há mais de quarenta anos e ainda é um pensamento atualíssimo.

O amor é um movimento. Eu sempre disse isso.

sábado, 21 de maio de 2011

Call of the Dead

Por favor, alguém me diga que isso é de verdade!!!!!




O melhor é a fala de Robert Englund. "it must be a nightmare!"

Ah, sim, eu sei que é mentira.... POis é.. eu sei... (suspiro)

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Fracasso?

Me perguntei, hoje, o que é o verdadeiro fracasso. Seria, após contínuas tentativas de melhora, contínuas lutas por mudança, contínuos esforços por aperfeiçoamento, ainda assim, não conseguir alcançar aquilo que é necessário para avançar?

Por um momento pensei que esta seria a forma mais perfeita de fracasso. Mesmo depois de todo esforço, ainda não foi o bastante. Seria o supra-sumo da derrota, algo como o extremo contrário da vitória. Nadar, nadar e não chegar à praia.

Achei que seria a síntese do que eu estaria passando. Por um momento, me senti fracassado. Frustrado por não conseguir atender às exigências mínimas de qualidade que eu precisava alcançar. Me cobrando ainda mais do que aqueles outros que me cobravam. E o faziam para o meu bem.

Pensei, "pronto, eu sou um derrotado. Eu não consegui alcançar aquilo que precisavam de mim. Eu não sou bom o bastante. Eu fracassei".

Mas que conversa deprimente, pensei logo comigo mesmo...

Quer dizer que eu lutei, batalhei, melhorei (pois eu realmente melhorei neste meio tempo), batalhei, e apesar de tudo isso sou um derrotado?

Conversa!

As pessoas à minha volta nunca me consideraram um derrotado (tá, algumas podem ter pensado assim). Ao contrário, o fato de eu ter me esforçado continuamente e profundamente em melhorar e melhorar e melhorar fez com que eu realmente melhorasse. Aprendi muitas coisas neste tempo em que lutei e cheguei ao meu aparente "fracasso".

Bah, conversa fiada. Ninguém fracassa nesta vida!

A não ser que nem tente.

Só existe uma forma de fracassar, e é quando o medo te toma e te impede de sequer tentar avançar.

Meu sucesso começou quando pisei dentro daquele avião que me trouxe a João Pessoa.

Ele continuou quando entrei naquela redação pela primeira vez.

E continua, apesar de não mais estar lá.

O sucesso só depende de termos uma visão otimista da vida.

Por isso, sempre olhe pelo lado brilhante da vida!



quinta-feira, 19 de maio de 2011

Palhaço é um homem todo pintado de piadas



Palhaço é aquele que traz risadas prá distribuir.

Eu posso não saber quem eu sou, mas sei que sou um idiota sem tamanho.

Se avexe não!



E eu aqui, ansioso com as coisas deste mundo...

De que adianta ficar me preocupando com isso? Eu ainda tenho tanto o que aprender...

Vou me avexar mais não! Quero mais é ser feliz.

E, quem sabe, dia desses me acabar no forró, né verdade?

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Eu ainda tenho uma alma

Vou contar duas histórias.

Uma, eu pude escrever no jornal, a outra não.

A primeira, sobre um menino de seis anos que desapareceu na sexta-feira retrasada na cidade de Dona Inês, no interior do estado. Seu corpo foi encontrado na última quinta-feira.

A outra, um homem adulto que, em uma roda de amigos no bar, brinca de roleta russa com um revólver carregado e acaba morto.

As duas histórias têm finais trágicos, e começam de forma tôla. São duas mortes desnecessárias, duas situações tão absurdas que poderiam ter sido evitadas.

Ou não.

O menino desaparece na sexta-feira. Todas as provas e evidências CIRCUNSTANCIAIS apontam para um suspeito. A mídia cai em cima dele, contando que ele já havia sido acusado por outro assassinato. Ele teria matado, esquartejado e enterrado as partes de um homem em diversos lugares diferentes. A mídia o crucificou, dizendo, até, que a criança havia sido estuprada.

Localizado o corpo (inteiro, e não esquartejado), provou-se que ele não abusou sexualmente da criança.

No entanto, seu pai quase foi morto no centro da cidade, como se ele tivesse cometido o crime, como se fosse ele o culpado.

Toda a história me deu um travo na garganta. fiquei incomodado com a situação que se estabeleceu. Se o homem for culpado, ele deve pagar, de acordo com a justiça estabelecida pela lei, e não pela justiça dos homens.

O povo de Dona Inês não é dono da verdade. Se um dia for provado que aquele homem não matou a criança, então, como estará o coração do povo da cidade? Quais serão os sentimentos presentes ali?

Construí esta história dezenas de vezes na cabeça na semana passada. Na quinta-feira,  quando a criança foi encontrada, enterrada ao lado de uma escola, não me furtei de chorar um pouquinho. Afinal de contas, eu ainda tenho uma alma, um pouco de humanidade na qual me apegar.

Pensar naquela criança morta me embrulha o estômago. Mas pensar em um inocente sendo linchado pela opinião pública me deixa ainda mais desapontado com a humanidade.

A outra história é a de um homem que achava que não tinha mais nada pelo que viver

clic

Então, sentado em uma mesa de bar ao lado dos amigos, ele resolve externar o vazio que está sentindo

clic

Puxa um revólver calibre 38 do bolso, esvazia o tambor e segura uma bala nas mãos. a coloca no tambor, gira e recolhe a arma

clic

os amigos começam a ficar em pânico, mas não sabem o que fazer, afinal, ele tem uma arma na mão, e está desesperado.

clic

E o desespero é o melhor amigo do erro

BLAM!

um tiro vara o ouvido direito e a bala sai pelo lado da cabeça, abrindo um pequeno buraco e indo se alojar em uma viga de madeira no bar. o corpo cai sobre a mesa, gritos desesperados. Um silêncio sobre o corpo. Ainda há uma vaga.

clic.

Duas mortes desnecessárias que provaram para mim aquilo que eu queria... Eu ainda tenho alma.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Poética



_ Lucy, você precisa de um céu de diamantes.
_ Eu preciso de alguém que me dê um céu desses.
_ Se um campo de morangos eternos servir...

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Amores ternos

Um amigo meu está se separando. Separações sempre me deixam triste, pois eu passei por este processo e sei o quanto de dor, mágoa, rancor e ranço ficam no coração das duas pessoas, dos familiares, dos amigos, etc. Não gosto de ver famílias se desfazendo. Quem pensa que é fácil passar por este processo, esqueça... desista... procure outra coisa para fazer, mas não case.

Nem sempre relacionamentos são destinados à eternidade. O casamento dos meus pais, por exemplo, teve sempre altos e baixos, mas sempre foi marcado pelo amor que um sentia pelo outro. Um relacionamento duradouro, com suas conturbações, mas que já tem quase quarenta anos de existência (37, no total, entre namoro e casamento), onde os dois já se anularam mais de uma vez pelo outro. Minha mãe mais que meu pai, mas meu pai também fez seus sacrifícios.

Em nome da família, em nome de um amor que é mais forte que as situações que eles enfrentam, meus pais passaram por maus bocados. Meu pai não era aceito pela família de minha mãe, por ser pobre, revolucionário (meu pai era ator e diretor de teatro estudantil durante a ditadura, que futuro poderia ter?). Mas o amor dos dois era mais forte, uma coisa linda mesmo, que tinha que ser defendido. Lutaram e venceram as primeiras batalhas.

Depois de eu nascido, o esfriamento, as mágoas que minha mãe enfrentou, as dificuldades financeiras que fizeram meu pai abrir mão dos sonhos para viver a vida real, naquela fase em que você desiste de ser a pessoa que queria ser para se tornar a pessoa que precisa ser. Dívidas, filhos, contas... tudo colaborava contra. No entanto, Campinas fez com que nós quatro (tenho um irmão mais novo) nos uníssemos ainda mais enquanto família, enquanto núcleo, fortalecendo nossos laços.

Com todas as dificuldades, nossa ida para Itariri, todas as lutas que enfrentamos, as brigas dos meus pais, seus excessos, eles tiveram momentos ruins, mas sobreviveram. Passaram por tudo, não por mim ou pelo meu irmão, mas porque sabiam que precisavam um do outro. Sabiam que se amavam mais que qualquer coisa e, acima de tudo, que tinham uma paixão imensa por viver.

Hoje eles vivem em São Vicente, juntos. Já tiveram fases péssimas, de pensarem em se separar, mas superaram tudo juntos. O ciúme doentio e bobo do meu pai (nunca vi mulher mais apaixonada que minha mãe, não sei de onde ele tira o ciúme que sente dela) não os conseguiu separar.

Então, pergunto, ao ver este amor indômito deles... Porque o meu casamento não deu certo? Se eu sentia um amor terno e belo pela minha ex-esposa, uma das mulheres que mais admiro e prezo até hoje em minha vida, porque este amor não foi o bastante para me manter ao lado dela? Ela lutou por mim, sofreu, com todas as besteiras que eu fiz. Se feriu por mim tantas vezes.

Ao mesmo tempo, eu abri mão de tantas coisas por ela. Sofri, chorei, lutei. Sofremos, choramos, lutamos juntos, e fomos felizes. Vencemos tantas lutas, tantos obstáculos. Passamos por tantas coisas juntos que me pergunto porque não fui forte o bastante? Como posso ter me deixado levar por um vento de través, que levou nosso barco a adernar...

Às vezes sinto que deveria ter me esforçado mais por este amor. Em outros momentos, penso que ele viveu o que tinha que viver, sendo terno enquanto aconteceu, sendo doce enquanto sorvido, sendo eterno enquanto durou.

Este meu amigo (um dos melhores que já tive na vida) me mandou uma música que fala sobre o final de um amor. A música, de Oswaldo Montenegro, falou muito a mim, especialmente em sua última estrofe. Infelizmente não encontrei nenhum clipe dela, e não sei anexar músicas nos posts, então, aí está a letra.

Silêncio no Afeto
Oswaldo Montenegro


Você que amei mas não amo
Saiba que a vida é assim
Já te chamei, e hoje chamo
Tudo o que passa por mim
De louco passado ou engano
Seja o que for é normal
Tá tudo certo, silêncio no afeto
O poeta canta o final



Você que foi minha amiga
E hoje nem lembra de mim
Nosso segredo não diga
São o que sobra no fim
Não sobra o que foi ciúme
Não sobra o que foi paixão
Tá tudo certo, silêncio no afeto
São pausas da nossa canção



Entrega pra outra pessoa
O amor que eu lhe dei (ele é seu)
Entrega que a vida ainda é boa
E nada que passa morreu
Desenha em alguém a pessoa
Que eu desenhei em você
Desenha e não jura
Paixão nunca dura
Valeu amiga, a gente se vê


sábado, 7 de maio de 2011

Simplesmente Ney



Tá. Dizer "simplesmente" quando se fala de Ney Matogrosso é subestimar o assunto. Não existe "simplesmente" com ele nem como eufemismo. Com Ney, tudo é grandioso, épico, teatral.

Seu show "Beijo Bandido" é o próprio paradoxo por conta deste "simplesmente", pois Ney, simplesmente, subverte a sua natureza explosiva, transformando-a em uma imagem compenetrada, uma pose de crooner brega super cult e poderosa. Se aderisse aos grandes rai bans escuros e um chapéu meio de lado poderíamos dizer que Waldick voltou.

As mudanças não são apenas estéticas e cosméticas. Ney usa maquiagem no palco, para ressaltar seus olhos, de uma expressividade tão forte quanto seu corpo, mais contido neste show. A principal mudança nele é, simplesmente, sua musicalidade.

o repertório muda pouco, especialmente os compositores que canta. Olhe a discografia e você verá os mesmos Chico Buarque e Zé Ramalho se repetindo em outras ocasiões. O brega bom, marcado pelo Waldick, Odair José e outros compositores de antes se faz presente, como sempre se fez, na música de Ney.

No entanto, algo de diferente no palco, algo que chama mais a atenção.

E este algo é, simplesmente, a voz de Ney Matogrosso.

Sim, ele sempre foi um grande cantor. um grande intérprete. incomparável, absoluto, reinando solitário em um campo onde outros apenas tentaram chegar sem conseguir: Ney é a androginia da voz máscul-feminina, em uma postura que mistura os mesmos elementos, no corpo, no porte, no olhar.

Ah, o olhar do Ney é algo tocante...

Mas a sua voz... a sua voz nunca esteve tão perfeita, e tão destacada quanto neste "Beijo Bandido".

E isto acontece porque o grupo que o acompanha é pequeno, e a direção e a produção musical, simples, montando arranjos complexos sobre quatro instrumentos. Na verdade, cinco, onde a voz dele é sempre o destaque.

Enquanto os quatro instrumentos agem como um conjunto, a voz de Ney salta aos ouvidos. Límpida e cristalina, poderosa, profunda e lírica. Não... você não consegue tirar os olhos do palco. Tirar os olhos de Ney? impossível. Ele hipnotiza com sua voz, corpo em movimento, afagando nossos ouvidos.

Saí de lá feliz. Sabia que seria especial, pois conheço o artista mais que completo que Ney é. Iluminador, diretor artístico, cenógrafo, coreógrafo, ator, intérprete, que sempre se reinventa.

Simplesmente, Ney.

Em tempo 1 - Assisti ao show no dia da aprovação no Supremo Tribunal Federal da união homoafetiva. Emblemático...

Em tempo 2 - Ney está participando de um filme onde ele interpreta o Bandido da Luz Vermelha, no que seria a continuação do filme do Roberto Farias dos anos 70. O nome do filme? "Beijo Bandido".


quinta-feira, 5 de maio de 2011

Uma frase para eu pensar

"Lembre-se que primeiro elas (as mudanças) acontecem dentro de você. Você pensa que é a mesma, mas não é."


Só para eu não esquecer de quem é importante na minha vida...

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Mundo de hedonistas

Hoje, conversando com uma delegada aqui de João Pessoa, falávamos da sociedade de consumo que nos cerca. Todos desejam consumir, mas é a vontade de "ter" que acaba nos levando às raias da loucura, cometendo coisas das quais teríamos vergonha na maior parte do tempo.

"Ter" e "ser" são coisas diferentes. No entanto, vou mais longe... E quanto ao "transcender", verbo pouco usado no mundo de hoje, tão marcado por superfícies? Quando não passamos de espelhos d'água, o que fazer com o nosso dentro, que não consegue se tornar algo novo, transformador, algo que nos faça mudar?

O meu dentro é o que escorre (valeu, Orgone!) e quer ser mais do que eu já sou. Isso de ser aquilo que a gente realmente é ainda vai nos levar além. (Valeu, Leminski!). Podemos ser mais do que consumimos, e podemos ir além daquilo que somos. O mundo precisa ser transcendido. Nossa existência só faz sentido pensando-se na ausência dela.

No entanto, tantos ainda estão presos ao ter. Ter o corpo perfeito. Ter os amigos descolados. Ter o carro de luxo. Ter o emprego que pague bem. Ter um diploma, um pós-doutorado, um título, ter, ter, ter...

O ser precisa transcender a superficialidade e mergulhar em nosso âmago para nos fazer entender o que realmente somos. O desafio da vida, entendam, não é ter esta resposta, mas saber lidar com esta pergunta, afinal, nunca saberemos quem somos de verdade.

Enquanto isso, temos, temos, temos, e somos alguma coisa que não entendemos. Nosso papel? Que não seja apenas o de consumir, mas o de produzir algo que, mais que consumido, possa ser absorvido, aprendido, desenvolvido.

Podemos ser mais do que o que somos. Podemos ter mais do que o que temos.