segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Arkáditch e a inevitabilidade da vida

Passamos a vida esperando pelo inevitável. A sombra da morte nos ronda em todo o tempo, em tudo o que fazemos, em cada passo que damos. Tudo o que podemos fazer é caminhar em direção ao nosso fardo, esperando que, um dia, quando transpusermos a barreira do inefável, algo nos esteja esperando do outro lado.

O inevitável é o tema principal de Arkaditch, último livro de Waldemar J. Solha, paulista de Sorocaba radicado em João Pessoa. O livro conta a história de um dia na vida de uma família da classe média-alta da capital paraibana e de como o inevitável vai atingir, bem no meio do peito, cada um dos personagens, seja com a morte, seja com o amor. O inevitável vem, decerto.

O passado traz seu peso na história de Arkáditch. O personagem principal é um professor universitário e mega empresário na capital paraibana. abriga seu pai em casa e está recebendo sua filha mais velha de volta ao lar depois de uma longa estada em Madri.

Em paralelo a estes dois fatos a história da família vai se desmoronando naquele dia, com segredos vindo a tona, mortes e a gravação de um filme que tem como roteirista o personagem principal.

Ao longo de toda a história existe a presença de uma mulher misteriosa, que é quem manipula os acontecimentos daquele dia. Se conduz como juíza daquela família e vem cobrar uma dívida de honra antiga para com o protagonista.

Usando referências que vão de Ana Karenina (Arkáditch é o nome do irmão da personagem) às tragédias gregas, unindo o moderno e o clássico, Solha conduz uma história que fala sobre amargura com a maturidade de quem vive em paz com seus fantasmas, diferente de seu protagonista, que tem um armário cheio de esqueletos nos quais não quer mexer. Porém, como tudo no livro, mexer nestes esqueletos é inevitável.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

O simples Adeildo Vieira


Amor de Farol
O amor que você deu
É seu, é seu, é seu
E a quem você o deu
Não importa se o usou
Não importa se o pisou
Não importa se o perdeu
Isso não é problema seu!
Imagina se o farol
Além de viver tão só
Fosse culpar sua luz
Pelo barco que passou sem perceber
Esse bem que lhe conduz
Alegria de farol
É tomar lições do sol
É viver de se entregar
Quanto mais sua luz se perde pelo mar
Mais luz ele tem pra dar

Faz um tempo que Adeildo Vieira tem se apresentado na minha setlist, e parece, ao que tudo indica, que este tempo vai se estender bastante. Dos compositores paraibanos contemporâneos que surgiram para mim desde que aportei por estas terras quentes é com ele que mais me identifico. Os outros são tão bons quanto (Chico César, Zé Ramalho, Livardo Alves, Sivuca), mas é com Adeildo Vieira que eu me sinto mais à vontade, pois fala do mesmo que eu, e de uma forma que eu falaria.
Adeildo, em sua obra, fala de amor, com profunda simplicidade, sem precisar buscar as paradoxalidades obtusas de Chico César, ou a transcendência mirabolante de Zé Ramalho. Sua musicalidade não chega aos pés de um Sivuca, verdade, mas, também, como chegaria, se ele é o maior, não é?
De fato, a música de Adeildo é tão interessante justamente por sua simplicidade de poesia musicada. Seu som desajeitado, de versos sem métrica e rimas falhas e sua cadência quebrada que dá um trabalho da peste acompanhar, mas é bonito que só.
Adeildo em sua simplicidade de criança falando de amor, cria versos de um poder tocante. "Amar demais até parece mal, mas nenhum outro mal me faz tão bem". "Ou se deixar contaminar por um sorriso de alegria de alguém que ainda enxerga a luz do dia" "Se o meu amor descer de rio abaixo, suas palavras boiarão no meu silêncio". Tudo simples, sem grandes elucubrações.
Partindo desta simplicidade Adeildo toca no coração, falando sempre do amor que sente dentro de si. Gosto de sua poesia pois é carregada deste sentimento da criança que vive uma fantasia, sabendo-a fantasia e acordando para a realidade quando a realidade lhe exige.
Profundo e simples, Adeildo Vieira consegue tocar dentro de nossos corações.