terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Fôlego

Amar requer fôlego, e isso as pessoas não têm.

Não têm fôlego para suportar atravessar grandes adversidades em nome de um amor que considera o outro não a extensão de si mesmo, mas o outro, sim, o outro em si mesmo, uma pessoa diferente, independente.

A falta de ar se deve à superficialidade com que as pessoas tocam suas relações. Como se a vida fosse um rio e todos ficassem satisfeitos em boiar na superfície.

A vida está dentro do rio, mas é desconfortável e incômodo tentar encontrar o fundo. exige fôlego, exige olhar prá dentro, abrir os olhos quando a água é escura e descobrir que não dá pra saber o que está a nossa volta.

Amar exige fôlego para suportar a profundidade do rio do outro. Por mais que nossas cabeças estejam boiando, uma grande parte de nós ainda está dentro da água, oculta, esperando para ser descoberta. Esta parte de nós só pode ser explorada no mergulhar, e não na vista de cima. De cima da água tudo parece bonito, organizado e ordeiro.

É lá em baixo que o amor se prova. É na falta de ar, na sujeira do rio, na água barrenta e na dificuldade de voltar. É na possibilidade da morte que se prova a vida do amor.

Mas não podemos descobrir isso na superfície, onde o céu é azul e a água calma.

O problema é que quando a pedra bater nas costas, os despreparados vão ficar sem fôlego. Estes, que reclamam que amar é difícil, que viver é foda, que é mais fácil ficar sozinho, que o amor sempre machuca...

Sim, sempre machuca, mas é isso que acontece quando você desce um rio: as pedras, os gravetos presos, a escuridão da água, tudo o que está no fundo pode machucar, e a gente não sabe quando este ferimento virá.

Amar não é fácil. Se você acha que vai se ferir sempre, está certo. O que você precisa é explorar o fundo do rio da sua vida para saber o que tem lá que pode te machucar, e se proteger contra aquilo. Mesmo assim, a vida é um rio, e como todo rio, pode trazer novas pedras e novos gravetos do alto da colina.

Então, ao invés de gastar seu fôlego com futilidades e superficialidades falando do amor, vá viver o amor como ele deve ser, ferindo, duro, difícil. Mergulhe e fique sem fôlego. Deixe-se ferir e fira, e pare de reclamar das nuvens neste seu céu azul sem graça!

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Começo ruim


Terminei de ler "O sol também se levanta", representação de Hemmingway sobre a "Geração Perdida", de homens e mulheres que viviam o pós 1a guerra. O autor podia ter sido mais feliz. Apesar da sutileza do texto e da riqueza dos personagens, todos bastante complexos, o livro não chega a um ápice. Ao contrário, ele é feito de anticlímax após anticlímax.

Hemmingway consegue passar a emoção (ou a falta dela) presente na geração que se seguiu à 1a guerra. Personagens cuja existência não tem qualquer significado perambulam semivivos por uma Paris que é festa sobre festa e depois por uma Pambplona que é a própria fiesta o tempo todo.

De festa em festa vemos a existência miserável dos meio ricos da Europa dos anos 20, suas bebedeiras homéricas e a falta de significado de suas existências. Se eles não tinham qualquer significado, porquê, afinal, contar suas histórias?

Foi um péssimo início de relacionamento, Hemmingway... espero que os próximos sejam melhores...

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

A eternidade do amor

Esta história do "Ou se ama para sempre ou nunca se amou" é besteira. Amor acaba, como qualquer outro sentimento. Crescemos, mudamos, evoluímos. Pensar que o amor é eterno por ser transforma em estático aquilo que o ser humano tem de mais dinâmico que é sua capacidade de se relacionar com o outro.

Amamos mais de uma vez na vida. E amamos de verdade. Aquele amor prá doer, prá deixar feliz. Podemos amar, também, uma vez só na vida, claro, e estes casos são muito comuns, e lindos exemplos de resiliência de um sentimento. Amor pode ser sequóia que alcança 1000 anos e pode ser laranjeira, que dura dez. Ou pode durar ainda menos, nunca se sabe.

Dizer que só se ama uma vez na vida é desvalorizar todos os outros relacionamentos que se viveu. Amamos errado, é da nossa natureza. Não sabemos fazer isso direito. Deus deixou umas instruções, e tal, mas cada um de nós é de um jeito, então, seguir todos a mesma cartilha é certeza de que perderemos nossas personalidades em detrimento de um modelo estático. Deus não quer isso. Quer que amemos errado, sim, para aprendermos o nosso jeito certo de amar.

Quem quiser amar certo vai se machucar ao longo da vida. Se fechar para o resto da humanidade dizendo que não poderá amar mais é perder tempo e maravilhosas experiências de vida, de derrotas, vitórias e amor. Muito amor.