quarta-feira, 11 de março de 2015

Quanto vale uma vida?

Muro do campinho. As traves jogadas no chão mostram que o futebol não foi a atração hoje
Embaixo de uma mangueira carregada, os frutos rosas espalhados pelo chão, atrás da linha do escanteio do campinho do bairro, o vermelho do sangue empoçado se mistura com a terra batida. O sangue é de Lindemberg Soares Filho, 17 anos, morto na manhã desta quinta-feira (11). no muro logo atrás do corpo disforme do rapaz, o questionamento:

"Quanto vale uma vida?"

Pergunto ao policial, o sargento Batista, que foi o primeiro a chegar ao local depois do Ciop ter comunicado os tiros no bairro do Alto do Mateus, ouvidos por um anônimo que teve coragem de ligar para a polícia, se a vida daquele menino valia mais do que uma dívida de drogas, a suspeita inicial da polícia para o motivo do assassinato.

"Nenhuma dívida vale a vida de ninguém", lamentou o sargento.

Do lado de fora da fita amarela e verde, que cercava a área abaixo da mangueira, o tio do rapaz chora. "Um menino bom. Estávamos levando ele para a igreja. Ele estava voltando. Aí acontece isso. A gente não sabe o que fazer. Onde isso vai parar?", questiona o radialista.

Entre as mangas caídas sob a sombra da árvore majestosa, nove cápsulas de bala. aparentemente calibre 38. Sinal de que o crime teve um motivador de ódio muito grande. Ou duas armas foram usadas ou uma arma usada, descarregada e recarregada pelo atirador.

"Ainda não sabemos. Vamos ver quantos tiros ele levou, saber como foi o crime, estamos esperando a perícia", explicou o sargento.

O rosto o rapaz está coberto por um fio preto de sangue que escorre dos cabelos escuros, empapados. Um tiro lhe atravessa o olho. Outros três tiros, depois da chegada da perícia, são revelados: um na parte de trás da coxa, um nas costas e um no ombro. Exceto o do olho, todos por trás. Sinal de que a vítima estava fugindo, provavelmente pensando no valor que tinha sua vida.

Deixo a cena com a pergunta na cabeça. do outro lado do muro pixado, as cabeças dos populares se amontoam no alambrado. Não é dia de jogo, mas a linha do escanteio é cenário de um espetáculo. Neste momento, vil e cruel.

Quanto vale uma vida?