domingo, 25 de janeiro de 2015

São Paulo

Ela, que nunca me amou. Cidade fantasma, de veias sedentas de vidas. Esfomeada de sonhos e cativeiro de desejos.
Ela, desvairada, nunca entorpecida, sempre altiva, inimiga da humildade. Arrogante, prepotente, cidade que esmaga a gente.
Cidade que odeia, mastiga, com seus arranha-céus, oh, céus, dentes cinzentos, careados de brisa, chuva e sol quente, expurgando os que lhe desejam, como a broca que perfura a cárie.
Cidade de nervos à flor do asfalto, tua pele cinza, negra, branca, de mortes e vidas, tingida do vermelho do sangue do operário que acorda para te encontrar. Cidade veneno.
Ela, que odeio amar e de quem odeio as saudades.
Ela, que eu amo.

Feliz aniversário São Paulo!








(As fotos são minhas de minha última viagem à terra da garoa)



quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Carta para o Ricardo Kotscho

A carta abaixo é uma resposta à seguinte matéria do jornalista Ricardo Kotscho:



Kotscho, meu amigo!
Acho que posso te chamar assim, já que, em grande parte, você, indiretamente, moldou minha forma de pensar o jornalismo. Nas aulas do Dirceu Fernandes Lopes, este sim, seu amigo de longa data, sempre era destacado o "olhar com os olhos de ver", um axioma que ele dizia ter aprendido com você.

Mas, vamos ao que interessa? Pois bem... Sou de Santos e escolhi, quatro anos atrás, a Paraíba para viver. Especificamente João Pessoa. Vim com a cara e a coragem e estou, desde então, vivendo a maior aventura da minha vida.

Aqui encontrei tudo o que sempre procurei: espaço para desenvolver minha carreira no jornalismo, uma mulher que me ama, paz de espírito. Ainda há muito o que melhorar nesta terra, mas ela já é maravilhosa, especialmente por seu povo.

Ah, o paraibano, este povo alegre, corajoso, divertido, bem humorado, diverso. Nunca vi tanta diversidade, nem na Paulista ao meio dia nas imediações do MASP. Não. Nunca vi um povo tão "sem cara" quanto o paraibano.

Não sei se acho isso por conta do tempo que estou aqui, já que já estou imerso na cultura deste povo. Me converti em torcedor do Botafogo-PB e comedor de rubacão e tapioca, solto um "ouxe" com gosto e vivo de sorriso aberto, mesmo na dificuldade.

Nunca vou me arrepender da escolha que fiz. Foi aqui que encontrei minha paz, minha felicidade.

E não trocaria João Pessoa por nada neste mundo.

Quando quiser vir, seja bem vindo! Quero ter o prazer de lhe pagar uma carne de sol no mercado municipal, ou uma tapioca na feirinha de Tambaú.

Um forte abraço.

De um pretenso aprendiz.

João Thiago

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Minha terra de preconceitos

Ouvindo os relatos de uma amiga sobre o preconceito que ela, paraibana, sofreu na cidade de Santos.

Minha cidade é linda, mas o povo precisa melhorar muito. Santos não é o umbigo do mundo, e santista não é melhor que ninguém.

Depois perde turista e não sabe porquê. Fiquei muito triste ao ouvir a forma como ela foi tratada em uma lanchonete, um armarinho, por um motorista de ônibus e até um universitário.

Não é a primeira pessoa que ouço falando sobre o preconceito inerente ao povo santista.

Saibam que foram os nordestinos que levantaram o porto de Santos. Muitos dos avós e pais destas pessoas que têm preconceito são, na verdade, nordestinos, que, fugindo da miséria, em busca de uma vida melhor, foram para o "sul maravilha" tentar a sorte e viver a vida.

Ao conhecer o Nordeste eu senti uma ponta de inveja do povo daqui. Um povo carinhoso, carismático, alegre, muito, mas muito mais culto que nós, santistas.

Eu senti vergonha enquanto ela falava. Me sentia diminuído. Pensei em amigos e até parentes que tem este tipo de comportamento.

Pensei até nos meus próprios preconceitos, aqueles que, quando cheguei aqui, ainda carregava.

"Nordestinos são burros, feios, comem calango e andam de jumento. Falam errado e são engraçados".

Eu era um idiota. Sempre que ouço este tipo de história eu peço desculpas pelo preconceito das pessoas que nasceram na mesma região que eu.