
Aliás, os mais de duzentos personagens criados pelo humorista cearense são apenas a ponta do iceberg da criatividade de um artista multifacetado. Alguém que não foi apenas feito para a TV, ou para o rádio, como inicialmente.
Chico era um escritor de contos no mínimo fantástico.
E eu leio Chico há um tempo considerável para saber do que estou falando.

Prostitutas, playboys, moças direitas e homossexuais enrustidos criam vida como se na mais rica história de Nelson Rodrigues, mas sem o moralismo do cronista d'A Vida Como Ela É.
Chico se deixa conduzir por dentro da hipocrisia dos ricos e da transparência dos pobres apresentando uma melancolia latente quando fala destes. Em outro de seus livros, "Feijoada no Copa", por exemplo, o conto que dá título à obra fala sobre isso. Dois ricaços enfadados da vida almoçam no Copacabana Palace. Reclamam da vida. Para eles não está fácil, entre seus talheres de prata e seus copos de cristal. No final, um deles joga o toco do cigarro Benson e Hedges na calçada. Um mendigo, molambo e maltrapilho pega o toco e sorri. "Que vida boa", agradece.

Com estas surpresas Chico nos desafia a repensar o cotidiano e o que as pessoas são capazes de fazer para tentar viver e ser felizes. Mais do que colocar uma maquiagem e simular uma voz, Chico conta histórias. Se são mentiras, Terta, eu não sei, mas que colocam para pensar, ah, isso colocam.
Em tempo: As ilustrações das capas dos livros de Chico que ilustram esta matéria são de Ziraldo que, muito além, do Menino Maluquinho, é criador de imagens geometricamente fortes e extremamente marcantes (além de ser um dos caras mais ciumentos que existem no mundo, segundo Zuenir Ventura).