quinta-feira, 9 de julho de 2015

A educação, as instituições e os valores perdidos

Sempre me afastei dos conservadores. Há mudanças, para eles, que são muito drásticas. A liberação da comercialização das drogas, o casamento homossexual. Pautas nas quais divirjo deles.

Como eles, no entanto, nutro um profundo respeito pelas instituições.

Um caminho sem saída
São as instituições que mantém a estabilidade de uma sociedade. Saber que há sólidos valores nos quais se pode confiar é o que não permite que venhamos a nos tornar desordeiros caóticos. As instituições organizam nossas ideias e valores enquanto sociedade e os disseminam entre os membros do nosso grupo.

Mas o respeito às instituições só vem quando temos a plena confiança de sua eficiência. Como tudo neste mundo, respeitamos aquilo que merece nosso respeito, amamos aquilo que conquista nosso amor, tememos aquilo que merece nosso medo.

Quando um tribunal não condena um criminoso, quando um funcionário público recebe propina, quando um empresário espolia funcionários, quando vemos a escravidão no campo e mesmo na cidade, então as instituições têm seus valores corrompidos.

A perda da credibilidade institucional determina a perda do valor das instituições, seja o casamento, seja a Presidência da República. As instituições são relativizadas e, junto com elas, nossos valores, nossa própria moral.

Isso acontece porque estabelecemos parâmetros em nossa vida para determinar valores nos quais acreditamos e nos quais investimos. Nossa moral é determinada por nossa aculturação, por preceitos sociais, por nossas próprias determinações (ideais) e por nossos pares, sejam pais, professores, amigos, etc.

Acreditamos que matar é errado, primeiro por ser o ato de tirarmos uma vida humana e segundo por isso trazer consequências para nossas próprias vidas.

Porém, para aqueles que não respeitam a vida humana (especialmente por suas próprias vidas não serem respeitadas), quando vêem que não existem consequências reais para o ato de desrespeitar a vida exinguindo-a, vão deixar esta instituição para trás. O valor se perdeu.

Hoje, no Brasil, vivemos uma crise econômica, uma crise social e, acima de tudo, uma crise institucional. É isso que relativiza nossa moral. Se não temos como confiar que as instituições cumprirão seu papel, como garantir que nossa honestidade, nossa integridade, nosso trabalho duro serão respeitados?

É aí que, desde jovem, o brasileiro é treinado para não acreditar nas instituições. Frases como "a justiça é lenta", ou "põe na conta do Abreu, se ele não pagar, nem eu" fizeram ruir a nossa ética. Como sabemos que a impunidade é artigo do dia e que a cobrança é considerada "usura" (no Brasil, como eu sempre digo, é pecado capital ser rico), vemos cada vez mais o desrespeito às leis. Afinal, para que respeitar algo que não precisa ser executado.

Há que se considerar, também, que a profusão de leis existentes no Brasil faz com que os códigos civil, penal, do consumidor e etcetera, etcetera e etcetera sejam considerados piadas. Para cada lei criada o brasileiro inventa mais de mil maneiras de burla-la. Mesmo a criação das leis não segue um processo lógico com um claro desrespeito por parte de políticos à instituição "povo", incluindo artigos "Frankenstein" em leis amenas, tornando o mundo mais obscuro e cheio de subterfúgios.

Há três instituições que são direitos que estão, acima de tudo, sendo desrespeitados em todos os aspectos no Brasil. São os direitos essenciais do homem, segundo o filósofo francês Frédéric Bastiat: A vida, a liberdade e a propriedade.

A violência é consequência do desrespeito ao direito à propriedade, que garantiria a todos os brasileiros a posse daquilo que é seu por direito: o fruto do seu trabalho e do seu esforço, e a herança do trabalho e do esforço daqueles que deixaram algo para você, algo que é da sua posse.

Mas quando 35% do fruto do seu trabalho fica com o governo em forma de impostos diretos sobre o salário e mais 40% de todo o dinheiro que você usa para comprar coisas também é gasto em impostos sobre o consumo, então você não tem, efetivamente, posse do fruto do seu próprio trabalho.

Quando o jovem vê os mais velhos atolados em um lamaçal de dívidas, impostos, falta de perspectiva, eles se apegam às primeiras oportunidades que puderem. Isso acontece porque o trabalho honesto tem cada vez menos valor para o mundo que nos cerca. Uma instituição que não tem valor, não oferece perspectiva, acaba sendo dissolvida em si mesma. A honestidade é motivo de piada, o trabalho, de vergonha.

Quando a educação oferece nível zero de perspectiva, de oportunidades, então para que investir nela?

Mais do que a falta da educação, é a ruína da perspectiva que leva nossos jovens cada vez mais para o tráfico de drogas. Sem ter para onde olhar, eles acabam caindo neste mundo sujo onde as drogas são o produto e o medo o valor mais caro. Aqueles que o causam conquistam maior respeito
Não é derramar dinheiro em escolas públicas que vai fazer com que os jovens deixem o caminho das drogas. É a recuperação do valor das instituições. É fazer o jovem voltar a acreditar na justiça, voltar a ter perspectiva. A instrução é uma parte disso, um caminho, e não um fim, ao contrário do que os defensores da educação querem garantir. A educação leva as pessoas a algum lugar.

Porém, se não houver um lugar para onde ir, qual o motivo de pegar este caminho?

É necessário pavimentar este caminho sim, mas sem um horizonte, não há motivos para pegar esta estrada. As pessoas precisam saber que estão avançando em suas vidas, que chegarão a algum lugar, que estudar vai leva-las a vencer.

Enquanto não houver emprego pleno, recompensa digna pelo esforço, respeito ao trabalho, não haverá motivos para estudar. É necessário ver que vale mais a pena ser honesto do que desonesto.

Há caminhos para isso. Redução da carga tributária, recompensas pelo esforço, valorização do mérito, aumento da competitividade, incentivo ao empreendedorismo.

É o respeito às instituições que sustenta uma sociedade. A recuperação de valores que se perderam. A fé na humanidade manifesta em uma justiça eficaz dos homens.

é por estes valores que vale a pena lutar.






domingo, 5 de julho de 2015

As Guerras pela liberdade da mente


Realidades Adaptadas”, de Philip K. Dick nos deixa uma pergunta: Quais os limites para o controle sobre a liberdade?

Lendo Philip K. Dick tenho a impressão de que vivemos, hoje, em seu futuro distópico. Exceto pelas bombas atômicas que não foram lançadas (mas quase, na crise dos mísseis), tudo aquilo que ele previa nos seus escritos nos anos 50 já se concretizou. Robôs sencientes, a despreocupação com a questão ambiental, o medo fazendo as pessoas trocarem a liberdade pela segurança.
Na coletânea “Realidades Adaptadas” (Aleph – 2012), isso pode ser enxergado de forma clara. O livro reúne sete contos escritos nos anos 50 que acabaram sendo adaptados para o cinema. Em três deles em especial, a questão da liberdade é tratada de forma latente e o questionamento que o autor faz é: quais os limites para o controle sobre a liberdade?
Sem abandonar sua escrita leve e rápida, carregada de ironia e ação, ele questiona a intervenção dos governos e das grandes corporações nas vidas dos indivíduos. Em O Relatório Minoritário vemos a polícia prendendo pessoas que, apenas no futuro, iriam cometer crimes. Em O Pagamento, após ter sua memória apagada um homem é perseguido pelo governo para revelar o que fazia em uma megacorporação. Em O Homem Dourado, vemos como ser mais capaz que os outros, pode custar caro.
Até que ponto a liberdade pode ser sacrificada em favor da segurança? Podemos ver esta mesma pergunta, sendo feita após o 11 de Setembro. Governos invadindo casas, agências de inteligência hackeando computadores, câmeras de vigilância espalhadas por todos os lugares. O Big Brother de George Orwell fundamentado em nosso medo. Ao mesmo tempo em que temos medo do mundo que nos cerca, governos têm medo de que o homem, por meio de seu potencial, alcance a liberdade.
Este é um tema presente na literatura de ficção científica. Philip K. Dick é um dos autores que mais se preocuparam com os limites da liberdade. Um dos questionamentos do autor que mais fazem sentido é o fato de que muitos querem, para poder viver com "tranquilidade", entregar sua liberdade em troca de uma constante fiscalização.

***

Uma guerra justifica a invasão das mentes das pessoas no intuito de evitar crimes? Em O Relatório Minoritário, o crime pode ser evitado por meio da precognição. Assassinatos não acontecem, mas os “futuros” assassinos são presos mesmo assim. Pessoas são responsabilizadas por crimes que não cometeram. A justiça tem o direito de prender por pensamentos? O governo teria o direito de cercear a liberdade de pensar?
No conto O Pagamento, um técnico troca uma grande quantidade de dinheiro por um saquinho com bugigangas. O motivo? Ele ainda não sabe, mas quando começa a ser perseguido pelo governo, cada um dos objetos que ele leva no pacote tem um significado. O governo quer saber o que ele fazia dentro de uma mega-companhia. A suspeita de que ele teria contribuído para a construção de máquinas ilegais é o que motiva a polícia secreta em sua perseguição.
A liberdade dele está em jogo. Entre o governo e a companhia, ele precisa encontrar um caminho para poder viver. Sua escolha é estar acima de tudo isso. Sua individualidade, sua capacidade de enxergar à frente o leva a tomar a decisão que vai determinar seu futuro para sempre. O indivíduo encontrando o caminho para a liberdade por meio de sua própria capacidade de superar os obstáculos que a vida lhe apresenta.
Já em O Homem Dourado, o mundo após uma guerra é marcado pela presença de mutantes, pessoas com superpoderes. Um deles chama a atenção por sua capacidade de prever o futuro. Em todos os casos o governo caça, prende e mata os mutantes, ao invés de tentar entender as diferenças que eles representam. As pessoas não querem evoluir, avançar. O objetivo é nivelar o ser humano por baixo, não permitir que aqueles que tem maior capacidade de sobreviver venham a triunfar, manter a mediocridade do ser humano. O próximo passo evolutivo dá medo demais.

Philip K. Dick deixa mais perguntas do que respostas para nós. Suas histórias têm, em sua maioria, finais tristes e surpreendentes. Uma certeza surge, no entanto. A liberdade é um bem muito valioso para trocar por qualquer coisa. Seja por segurança, seja por dinheiro. Este bem, no entanto, está sempre em perigo. Seja em suas histórias, seja no mundo real.

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