segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Arkáditch e a inevitabilidade da vida

Passamos a vida esperando pelo inevitável. A sombra da morte nos ronda em todo o tempo, em tudo o que fazemos, em cada passo que damos. Tudo o que podemos fazer é caminhar em direção ao nosso fardo, esperando que, um dia, quando transpusermos a barreira do inefável, algo nos esteja esperando do outro lado.

O inevitável é o tema principal de Arkaditch, último livro de Waldemar J. Solha, paulista de Sorocaba radicado em João Pessoa. O livro conta a história de um dia na vida de uma família da classe média-alta da capital paraibana e de como o inevitável vai atingir, bem no meio do peito, cada um dos personagens, seja com a morte, seja com o amor. O inevitável vem, decerto.

O passado traz seu peso na história de Arkáditch. O personagem principal é um professor universitário e mega empresário na capital paraibana. abriga seu pai em casa e está recebendo sua filha mais velha de volta ao lar depois de uma longa estada em Madri.

Em paralelo a estes dois fatos a história da família vai se desmoronando naquele dia, com segredos vindo a tona, mortes e a gravação de um filme que tem como roteirista o personagem principal.

Ao longo de toda a história existe a presença de uma mulher misteriosa, que é quem manipula os acontecimentos daquele dia. Se conduz como juíza daquela família e vem cobrar uma dívida de honra antiga para com o protagonista.

Usando referências que vão de Ana Karenina (Arkáditch é o nome do irmão da personagem) às tragédias gregas, unindo o moderno e o clássico, Solha conduz uma história que fala sobre amargura com a maturidade de quem vive em paz com seus fantasmas, diferente de seu protagonista, que tem um armário cheio de esqueletos nos quais não quer mexer. Porém, como tudo no livro, mexer nestes esqueletos é inevitável.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

O simples Adeildo Vieira


Amor de Farol
O amor que você deu
É seu, é seu, é seu
E a quem você o deu
Não importa se o usou
Não importa se o pisou
Não importa se o perdeu
Isso não é problema seu!
Imagina se o farol
Além de viver tão só
Fosse culpar sua luz
Pelo barco que passou sem perceber
Esse bem que lhe conduz
Alegria de farol
É tomar lições do sol
É viver de se entregar
Quanto mais sua luz se perde pelo mar
Mais luz ele tem pra dar

Faz um tempo que Adeildo Vieira tem se apresentado na minha setlist, e parece, ao que tudo indica, que este tempo vai se estender bastante. Dos compositores paraibanos contemporâneos que surgiram para mim desde que aportei por estas terras quentes é com ele que mais me identifico. Os outros são tão bons quanto (Chico César, Zé Ramalho, Livardo Alves, Sivuca), mas é com Adeildo Vieira que eu me sinto mais à vontade, pois fala do mesmo que eu, e de uma forma que eu falaria.
Adeildo, em sua obra, fala de amor, com profunda simplicidade, sem precisar buscar as paradoxalidades obtusas de Chico César, ou a transcendência mirabolante de Zé Ramalho. Sua musicalidade não chega aos pés de um Sivuca, verdade, mas, também, como chegaria, se ele é o maior, não é?
De fato, a música de Adeildo é tão interessante justamente por sua simplicidade de poesia musicada. Seu som desajeitado, de versos sem métrica e rimas falhas e sua cadência quebrada que dá um trabalho da peste acompanhar, mas é bonito que só.
Adeildo em sua simplicidade de criança falando de amor, cria versos de um poder tocante. "Amar demais até parece mal, mas nenhum outro mal me faz tão bem". "Ou se deixar contaminar por um sorriso de alegria de alguém que ainda enxerga a luz do dia" "Se o meu amor descer de rio abaixo, suas palavras boiarão no meu silêncio". Tudo simples, sem grandes elucubrações.
Partindo desta simplicidade Adeildo toca no coração, falando sempre do amor que sente dentro de si. Gosto de sua poesia pois é carregada deste sentimento da criança que vive uma fantasia, sabendo-a fantasia e acordando para a realidade quando a realidade lhe exige.
Profundo e simples, Adeildo Vieira consegue tocar dentro de nossos corações.

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Amorério




Minha alma vestida em verdadeiro trauma
Cada ponto que eu traço é um beijo jogado em vão
Cada vôo mais alto, mais duro é provar o chão
Meu amor de viver é tão grande
É um desafio a toda a minha calma
Meu amor é grande, bem maior que eu
Amar, eu preciso amar tudo
Amar o que eu penso e o que não penso
E quem sabe até deixa sobrar amor pra mim também
Tanto amor disparado a todo instante
Quem bem sabe o bem de minh'arma se expões e ainda mostra o peito
E quem usa o arsenal de minh'alma por mim tem o maior respeito
Tanto amor amado à toa é minha Hiroshima sem saber aonde explodir
Explode em meu peito e os cacos de mim, se atirados ao Ponto Cem Réis
Que sejam restos de feira ou dados de Ibope no chão
Mas serão amor-primeira-página
Meu amor, se exposto em out-door gigante
Fatalmente será confundido com slogan de refrigerante
Se falado no rádio parece poema de poeta louco
Meu amor, se visto em filme, só será aplaudido na
morte do bandido
Se for bem sangrenta e arrancar do cinema
Aplausos e risos de quem consegue
Ter ódio nas veias e sangue na boca
E ninguém vai ver meu filme de amor
Amar demais até parece mal
Mas nenhum outro mal me faz tão bem!!!

Em algum lugar do mundo, neste exato momento, alguém está amando e sendo amado. Talvez não seja você. Ou talvez seja, não sei.
Mas você já amou e foi amada, ou amado. Ou acha que foi isso que te aconteceu com aquela pessoa que você considera especial até hoje. Você acha que aquilo que foi crescendo dentro do seu coração era amor, mas quando se decepcionou, achou que não, que não era amor, que pessoas que nos amam nunca vão nos decepcionar.
Engana-se.
As pessoas que nos amam são as que mais nos decepcionam. São as que mais machucamos e com quem mais dividimos desesperanças e desilusões.
O cinema te fez acreditar que amor "para sempre" é só aquele amor intransponível, de peito cheio e aberto para o mundo à sua frente. Amor que encara tudo sem se encolher, entra por todos os caminhos sem se desencontrar. Enfrenta todas as lutas sem perder.
O amor é um sentimento que vem de Deus, mas é executado por humanos e, por isso, é um sentimento tão falho quanto nós.
Amor sente frio, fome e medo.
Amor é incerto, seco e vazio.
Amor se deprime.
Mas ama. E continua amando, mesmo com tudo isso acontecendo à sua volta. Um amor de verdade ama demais, sem se perguntar se parece mal, pois sabe o quanto faz bem. Faz tão bem.
Só ama de verdade quem ama o imperfeito e quem se deixa explodir como uma Hiroshima pessoal, espalhando seu amor por onde for.
Amar é um desafio a toda calma, pois não existe amor em paz. Amor só o é em guerra, quando enfrenta a luta e ergue a cabeça dizendo "eu posso sair machucado, mas eu vou sair disso".
Não é amor quando você se rende, vira as costas e segue a vida, longe daquela pessoa, mesmo que você pense nela mais do que em todo o resto. Não. Não é amor se você não lutou.
O amor tem ódio nas veias e sangue na boca. O amor é a humanidade que Deus colocou em nós, e ele quer viver. Ele precisa viver. Não de forma narcísica, não. O amor não quer viver para ser admirado. Ele quer viver para que nossa humanidade, nossa parte mais divina, possa aflorar em nós.
E quem sabe aí sobre até um pouco de amor prá mim também.

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Faço o que gosto e gosto do que faço

Não são todos que conseguem fazer o que gostam. Viver da arte que produzem, ou de um esporte, ou um trabalho regular, comum, mas que traz satisfação pessoal.

Na verdade, grande parte da humanidade acaba fazendo o que não gosta. Trabalhando pelo dinheiro, e não pela satisfação pessoal.

No entanto, existe ainda um terceiro grupo de pessoas que é formado por aqueles que aprendem a gostar do que fazem.

Estes, geralmente, começam em uma tarefa por necessidade e obrigação. Aprendem e crescem dentro de sua área e começam a encontrar satisfação para si naquilo que fazem.

Eles são criativos, inventivos e altamente adaptativos.  Conseguem se enxergar em qualquer situação e ver além do problema. Estas pessoas se realizam com aquilo que fazem, pois entendem que viver e aprender é que são as grandes realizações. Mais do que fazer o que gosta, descobrir que gosta de algo que está fazendo é importante para eles.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Amor à música





Você aprende a ouvir música quando consegue ouvir algo que foge do seu estilo normal e você acha bom. Aprende a crescer com a música quando vai procurar referências que são muito anteriores aos seus artistas preferidos. Quando encontra algo de qualidade dentro de um nicho onde nunca pensou que encontraria.

Meu caso é claro... Eu morei no interior de São Paulo e sempre achei música sertaneja o ó. Ruim com força. Meu estilo sempre foi outro. Eu, ainda criança, ouvia Toquinho e Vinícius, Tom, Chico Buarque (chegamos a pensar em montar um mini musical da Ópera do Malandro, isso quando eu tinha 10 anos de idade!!!), Gal, Bethânia e outras cositas...

Cresci e na adolescência, Chico era onipresente. Comecei a ouvir alguma coisa diferente um pouco depois. O Rock só entrou na minha vida aos 19, 20 anos. Antes disso, não, não havia espaço em meus ouvidos para esta barulheira elétrica.

Ouvindo rock eu descobri uma série de coisas boas, mas nunca deixei as antigas de lado. Encontrei Led Zeppelin, The Doors e Creedence Clearwater Revival e, mais recentemente, Beatles e Elvis.

De Jazz eu não falo, pois Jazz não é música, é religião, é ser tocado por Deus de um jeito muito próprio e singular. O mesmo vale para música clássica e contemporânea, que ouço desde criança, com o afinco e a disposição de um verdadeiro acólito.

Agora, o sertanejo... este eu tinha problemas para assimilar. O samba foi fácil. Paulinho da Viola, João Nogueira, Ataulfo, Noel, Billy Blanco, Cartola, etc, etc, etc... Mas o sertanejo...

Aí meu pai, que tocava violão lindamente, e resolveu parar porquê o violão quebrou, pegou emprestado um livro de serestas de um velho amigo, que invadia as noites tocando as mais belas músicas que já se ouviu. Este amigo já havia morrido quando este livro chegou às nossas mãos, mas meu pai, uma noite, na varanda da chácara em Itariri, pegou o violão, abriu o livro de capa verde e eu lembro, como se fosse hoje, que a primeira música que ele tocou foi Chico Mineiro.

Não é difícil que uma música me toque, mas a tristeza da história de Chico Mineiro e seu assassinato bárbaro em uma Festa do Divino no interior de Goiás foi no fundo do meu coração, lá onde existe a réstia da desolação e do vazio, lá onde habita, perdida, uma saudade que, por motivos que me fogem, eu não sinto.

Chico Mineiro é um clássico da música sertaneja verdadeira. De raiz. E desta eu procurei mais. Meu pai cantou outras naquela noite. Ipê Florido, Cabocla Tereza, Fio de Cabelo, tristeza do Jeca e tudo isso veio crescendo, crescendo e eu fui me alimentar desta nova fonte. Não procurei os novos (não gosto do sertanejo universitário, pouco se aproveita da onda sertaneja do início dos anos 90), mas na raiz, lá no fundo, na verdadeira música caipira.

Mas eu só descobri a verdadeira música sertaneja e toda sua criatividade e maravilha quando me vi aberto a ouvi-la. Se você não fizer o mesmo, não descobrirá a beleza da música à sua volta. E isso serve para tudo, ok?

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

A Arte da Brutalidade

Quando passamos por uma cirurgia em que recebemos anestesia, o acordar após o sono é doloroso e chocante. Muitas vezes como se a dor tivesse nascido naquele momento em todo seu esplendor maldito, deixando-nos rendidos a ela, entregues a sua vontade soberana, chocados, absortos por sua força e forma.

Com a violência, hoje, não é assim. Não nos chocamos, pois não há mais dor. Ou, ainda, há dor, mas estamos anestesiados, como que ainda sob o efeito do entorpecente que nos deram. Um entorpecente que nos fecha os olhos para a dor verdadeira que corre por nossa espinha.

É contra esta anestesia que o multi-artista paraibano Solha escreve em sua "História Universal da Angústia", livro que ainda não li, mas cujo capítulo "A Gigantesca Morgue" tive a oportunidade de ouvir graças a Eli-Eri Moura e à Orquestra de Câmara de João Pessoa, da Funjope, em sua dissonante "Cantata Bruta".
Sobre a obra de Solha não tenho muito o que dizer, já que, infelizmente, não conheço com a profundidade com que gostaria, mas sobre a Cantata Bruta, sobre esta tenho muito o que falar. Sobre o assunto de que trata, então, um de meus assuntos preferidos, esta anestesia que temos diante da violência que chegou à sua banalização.

A obra do maestro Eli-Eri Moura e de alguns outros compositores paraibanos é contra Samukas Duartes e contra Jás. É contra cada vizinho indiferente, cada corpo estendido no chão e coberto com um jornal, é contra cada abandono e contra cada ato de violência.

A obra fala de casos específicos de violência que falam conosco. Em nosso íntimo, sabemos que é graças à nossa indiferença que esta violência se dissemina. É graças a nossos braços cruzados que homens como os que mataram Ahmed e Fernanda continuam estendendo suas mãos para o grotesco.

Grotesco, aliás, é o que o maestro usa para alcançar todo o potencial desta obra. Grotesca, impressionista, contemporânea. Estas são as palavras que melhor definem a obra, que mescla a orquestra com um coral, sons eletrônicos, atores e iluminação.

Mas ainda é na música que está o mais forte. A violência plástica que ela desenvolve chega aos píncaros da crueldade de um filme como "A Centopéia Humana", ou "Martyrs", por exemplo. Não se trata do que se vê, mas de como se ouve, e Eli-Eri sabe captar a sonoridade dos instrumentos e das palavras para fazer com que elas ganhem a conotação angustiante que merecem..

A angústia que Solha deve ter escrito em sua História Universal. A angústia que cada um de nós, humanos, sente diante da violência e de como esta violência chegou até nós. A violência que cada um de nós, como a senhora que tira do ouvido o aparelho de surdez, prefere não ouvir. A violência que a anestesia do mundo nos faz fingir que não conhecemos.



Serviço: Cantata Bruta - Sábado, 29/10 e Domingo, 30/10, 20h, Cine-teatro Bangüê, Espaço Cultural, Tambauzinho, João Pessoa. Entrada Gratuita.


terça-feira, 11 de outubro de 2011

Amor realista

As pessoas pensam que podem evitar o amor, fingir que ele não existe, passar ao largo e, ainda assim, ter uma vida cheia de significado e alegria. Doce ilusão.

Sem amor qualquer outra coisa que se faça fica sem sentido. O amor não te influencia apenas na área de relacionamento. O amor invade cada pedaço da sua vida e se impregna em cada cantinho do seu ser.

Cada decisão que você toma é definida, também, pelo amor que transborda (ou não) de você. Ficar indiferente a isso é perder uma das partes mais importantes de seu poder de decisão.

Ouço gente que diz "Se eu não amar, não me machuco". Com certeza. Sem amar, não nos machucamos. Mas também não nos maravilhamos, não nos surpreendemos, não nos extasiamos.


Uma vida sem amor é como que anestesiada. Passa-se pela vida sem permitir que ela passe por dentro de você.


Podemos viver sem amar, sim. E sem nos machucarmos, também, afinal. Mas apenas os que não entendem que o ser humano é imperfeito, apenas os idealistas, que pensam que existe a "pessoa perfeita" é que acabam se machucando de verdade.


Quando você acha que existe a "pessoa perfeita" você espera que ela nunca venha a te ferir. Se é alguém sem defeitos, então me amará de um amor sem falhas, que gerará toda a alegria possível.


Triste infortúnio... No final, apenas os realistas conseguem amar.


Apenas aqueles que sabem que podem se ferir, que amam o imperfeito, o incompleto. Apenas aqueles que concebem o inconcebível de amar o que o ferirá, sabendo que isso pode acontecer, conseguem amar de verdade.


E quando se ferem, quando caem, apenas levantam, batem a poeira das roupas e seguem sem a ilusão do amor perfeito e eterno que aqueles que não amam pensam que existe.


Afinal, só se fere com o imperfeito aquele que espera pelo perfeito. Não há decepção quando você se propõe a amar o que sabe que vai te ferir. Então, se prepare para viver uma vida de verdade, com amor de verdade, e não o "amor perfeito". Deixe este para os que não querem amar.

domingo, 4 de setembro de 2011

A Revolução dos Mortos

Eu tenho um outro blog onde conto uma história. É meu primeiro romance, narrado em primeira pessoa. É um conto de terror, mas, ao mesmo tempo, é uma história sobre a vida, seus conflitos, as maneiras que tentamos arranjar de vence-los e passar por eles.

Estou falando da Revolução dos Mortos.

Na sexta-feira eu cheguei ao final do Livro 3. Ou seja, chegamos à metade da história, ao ponto onde precisamos saber se seguimos ou não. O livro 4 começa a ser postado amanhã, não vou dar uma semana de descanso entre os livros desta vez, quero terminar a publicação o mais rápido que eu puder para começar a tratar de outra história que já tenho na cabeça, esta segunda, sobre ficção científica e vingança, inspirada em uma ideia que tive ao ler um post da @Sybylla_ em seu Blog, o Momentum Saga. Uma história sobre viagens no tempo.

Mas atenhamo-nos à nossa história de zumbis por hora.

Tenho momentos de desânimo às vezes. Vontade de parar tudo, desistir da história que estou contando, partir para outra. Penso, muitas vezes, que a história não faz diferença para as pessoas que a lêem. Às vezes me pergunto se realmente ainda tem alguém que lê a história.

Não é fácil para um escritor parir um romance. Exige tempo, dedicação, abrir mão de outros projetos. Exige disciplina, empenho, criatividade e suor, muito suor. Não é algo que simplesmente aconteça.

E tudo isso com paixão e afinco, sentimentos que estão muito presentes na obra.

Os personagens, em geral, foram inspirados em pessoas que cruzaram meu caminho. Lenora é uma mistura de todas as ex-namoradas que eu tive, sendo um pouco de cada uma. Muito do que Ernesto se lembra realmente aconteceu comigo e com amigos meus, fatos da vida que acabam sendo interessantes demais para não serem transcritos na literatura.

Ernesto é a união de uma série de pensamentos e filosofias de vida que, ao longo de minha existência fui aglutinando. Nem todas elas são ainda válidas para mim, que fique claro. Muito do que Ernesto pensa não é o que penso, mas para manter a coerência do personagem eu preferi que ele tivesse uma linha bastante clara de pensamento. Ernesto é um pastor desiludido? Não. No fundo dele ainda há fé, ainda há esperança. Porém, é um homem prático, que não fica esperando as coisas acontecerem. Ernesto faz, intervém, pois tem dentro de si um inconformismo latente. Ele não aceita a situação do jeito que está. Ernesto é a revolução, por isso seu nome. O mundo, os desmortos, o estão transformando, fazendo com que seu lado primitivo comece a aflorar. Podemos ver isso na frieza com que mata Lúcio e a forma distante como trata Lenora, que ele teve de matar junto do filho.

Lucio, aliás, é um rapaz que eu conhecia na igreja que frequentava em Santos, SP. Seu nome era outro, mas ele venceu batalhas homéricas para se tornar o grande homem que é hoje. Pena que, para servir à trama, tive que mata-lo, mas "Lúcio" é um grande amigo que ainda hoje considero uma das pessoas mais brilhantes que eu conheci na vida.

Janaína é uma amiga enfermeira que é exatamente aquilo mesmo. Dedicada até o final aos seus pacientes. A conheço há pouco mais de um ano e é o bastante para ver sua paixão por salvar vidas. É alguém que eu admiro demais e isso não é segredo para ela. Ah, sim, parte dela está em Lenora também, e acho que isso explica muita coisa.

Claudemir não tem um rosto definido, mas é, em grande parte, meu primo Rafael, que também faz uma ponta no início do Livro II como sobrevivente em São Vicente. Eu pensei em contar a história dele, até tentei, mas foi mais difícil. Claudemir é aquele cara que é pau prá toda obra. A qualquer momento que você estiver mal, ele está lá do lado para ajudar. Fiel e persistente, um amigo de verdade. Tem elementos de outras pessoas que conheci também, mas não muitos, apenas a história de vida.

Renata é um amálgama. Visual de uma mulher que eu vi duas vezes na minha vida, uma investigadora da Delegacia de Homicídios. Baixinha, cabelos compridos, sardas no rosto, pele branquinha, sorriso contrastante com a função. Ana Cláudia, se não me engano. Em meus tempos de repórter policial no Jornal da Paraíba eu gamei na moça. Ficava louco para precisar ir à central de polícia só para ter um pouco mais daquele sorriso. Parte dela é de uma amiga que sempre me joga para cima, alguém que me motiva muito. Muita coisa ainda vai acontecer com renata e ela ainda vai absorver elementos de outras pessoas durante a história. Ela é o óbvio interesse romântico de Ernesto, mas ainda tem bastante coisa para acontecer na história.

Basicamente estes são os personagens mais importantes da história por hora. O cenário é João Pessoa porque foi fácil escolher a cidade onde moro e pela qual estou apaixonado. Então, tudo o que quero é que divirtam-se nesta metade final da Revolução dos Mortos. Vamos juntos até que o último sobrevivente esteja de pé.

Agora, vamos pensar na máquina do tempo que eu tenho que criar. Ela tem que ter alguma base científica, afinal de contas...

sábado, 3 de setembro de 2011

Eu sou Bradley Manning


Eu sou Bradley Manning porque a liberdade não tem preço e a verdade deve ser revelada a qualquer custo. As verdades escondidas por trás da Guerra do Iraque precisam ser reveladas. O Bradley Manning que eu estou dizendo que sou é, na verdade, um soldado americano que vazou imagens de uma operação do exército americano no Iraque. As imagens são chocantes, e a história é bastante longa (para conhece-la por completo, indico a blogagem do sempre excelente Geneton Moraes Neto no seu Dossiê Geral, onde fala do problema como um todo).

Bradley Manning vazou as imagens para o WikiLeaks, hoje está preso e aguardando julgamento. Chamou a atenção de bastante gente, sendo motivo de protestos até em Madri e vem recebendo apoio de vários cantos do mundo, como Holanda, França, América Central, e, mais recentemente, do Brasil.

Protestos em Madri - Foto do site 
A prisão de Bradley Manning é algo irrevogável do ponto de vista legal. Ele foi preso e será julgado como traidor, pois disponibilizou informação ultra-secreta para a mídia, e, dentro do código do exército americano, isso é uma violação às leis.

O que nos faz pensar sobre quem é o verdadeiro "inimigo" contra o qual os EUA tanto lutam. Não seríamos nós mesmos, já que querem guardar seus segredinhos? A maior força militar do mundo não pode ter autonomia, e eu espero, sinceramente, que Barack Obama, como líder maior desta força, reveja os princípios desta guerra. Guantánamo continua sendo uma ferida aberta, o Iraque não está sob controle, a crise continua, mas a indústria bélica a cada dia cresce mais.

Libertar Brad Manning será um sinal de que a liberdade é mais importante que qualquer coisa. Como diria o rei Roberto Carlos, "não importam os motivos da guerra. A paz sempre será mais importante".

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Eu invejo os fundamentalistas

Os fundamentalistas são dignos de inveja.

Dentro deles corre uma certeza inquebrantável de algo sobre o que nós, os céticos, apenas suspeitamos. Uma certeza que só as verdades absolutas podem oferecer para corações aflitos. Uma verdade absoluta que faz qualquer destes corações se acalmar.

Invejo aqueles que sabem o que é a vida. Não há mistérios, sofismas, não há perguntas. Apenas as respostas certas para eles. Os fundamentalistas têm seus corações amainados pelo toque divino da certeza contra o abraço demoníaco da dúvida.

Invejo os fundamentalistas. Em sua profunda inocência diante de um mundo perdido eles têm direito a ter esperança, pois ela é baseada na certeza de que o melhor ainda está por vir. Eles se agarram à boia da salvação de suas verdades e nelas encontram refúgio. Eu invejo quem não está a deriva no mar da dúvida. Invejo os fundamentalistas porque seus corações encontram repouso em braços mais fortes e suas mentes não se permitem questionar o porquê disso. Invejo os fundamentalistas, pois para eles, Deus não é uma questão, e sim a resposta para todas as perguntas.

Eu invejo os fundamentalistas, pois para eles acreditar faz sentido.

domingo, 28 de agosto de 2011

Save The Last Dance For Me



Tinha que ser ela para me tirar do marasmo.

Capitu: E aí? como está o coração?
Eu: Daquele jeito de sempre, né? Parado, sem muito dentro dele, infelizmente.
Capitu: Nada em vista, Thi? (ela me chama de Thi. Eu gosto.)
Eu: Tem uma menina, mas... o que eu tenho para oferecer para ela, afinal?
Capitu: É. Pensando desse jeito não tem nada mesmo prá oferecer. Melhor ficar longe dela.
Eu:...
Capitu: Muda esse jeito de pensar, poetinha. Se você não tentar, nada vai acontecer.

Verdade. Se eu não tentar, nada vai acontecer. Então, por favor, querida, guarde a última dança para mim, pois eu vou querer dançar.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Cem homens?

Me chamou a atenção o blog de uma moça uns dias atrás. Li sobre ela em algum lugar, não lembro onde, e fiquei curioso. A chamada dizia "Moça quer transar com cem homens em um ano". Queria saber o que motivava alguém a fazer uma escolha como esta.

A princípio não evitei o pensamento: "frívola". Não vou mentir.imaginei uma menina que queria chocar, chamar a atenção do mundo, atrair os olhos para si. A primeira impressão foi essa. A mimadinha quer dar para todo mundo porque quer ser adorada por cada homem que passar por seu caminho.

No entanto, pensar desta forma não criou em mim um preconceito acerca da personagem. Ao mesmo tempo que a achava frívola, pensei o quanto me fascinava sua coragem de botar a cara ali para dizer o que sentia, o que queria, o que pensava. Porém, a que preço este sentir, querer, pensar estava sendo vendido por ela para ela mesma...

Não a julgo. De forma alguma. Como não julgo pessoas que gostam disso. Eu gosto de sexo. Quem não gosta, afinal? Casual? Já tentei. Não, obrigado., Gosto de compromisso. Por mais que brinque de flertar com metade das minhas amigas não as levaria para a cama, simplesmente. Sou um homem que busca amar. Já me machuquei bastante e já machuquei outro tanto por causa de escolhas mal feitas. Não quero isso.

Leio os textos atuais de Letícia (este é seu heterônimo. O site, aqui) e vejo o quanto a sua escolha está cobrando dela, agora, seu peso. Por empáfia provavelmente não vai admitir que se arrepende do que escolheu (As pessoas acham o arrependimento muito demodé de uns tempos para cá, não sei porque), mas procuro uma lógica no que ela fez, e não encontro.

Não entendo de que forma se relacionar com 100 homens pode enriquecer sua experiência de vida. Não entendo porque uma menina comum (acredito que ela seja uma menina comum, que ri, chora, tem amigos, pai, mãe) quer algo assim. Volto a dizer, sexo é bom. Aos que gostam do sexo casual, sexo com diversos parceiros é melhor. Porém, a vida cobra suas atitudes de você, e como você poderá corresponder às expectativas dela?

Letícia Está sentindo os primeiros baques. Não duvido que seu site saia do ar logo e ela caia no ostracismo em algum tempo. Sei que ela é mais que uma menina querendo chamar a atenção. Tem que ser. Porém, por enquanto, ela não é mais nem menos que aquilo que uma série de Voyeurs procuram: um objeto fetiche para olhar.

Queria poder abraçar Letícia e dizer que este vazio vai passar. Que ela vai encontrar alguém especial e que esse alguém fará o sexo valer mais a pena que com cem homens diferentes. Se um dia ela ler isso aqui, espero que entenda que eu desejo exatamente isso para ela. Que ela seja feliz ao lado de alguém especial, pois é impossível ser feliz sozinho, e não existe solidão maior que aquela de quem está entre uma centena de pessoas sendo olhada apenas como algo consumível.

Mais mudanças



Mudar nunca é demais.

Sempre precisamos rever o que é importante para nós, de uma forma pragmática, mas otimista. Mudar é o caminho natural do ser humano. Esta imprecisão que existe em mim precisa de constantes desajustes para poder funcionar corretamente. Meus pensamentos erráticos precisam de uma desordem e o caos precisa imperar de vez em quando.

É quando o caos reina que encontro em mim a ordem que buscava. Para tanto passei os últimos oito ou nove meses buscando um ajuste.

Não o encontrei.

O Tao, o caminho do confucionismo é cercado em minha vida de inconformidade e inadequação. Não gosto de "quadrados" onde me colocar. Não gosto de não sei manter a mente quieta, a espinha ereta e o coração tranquilo. Meu coração, turbilhão, vórtice tempo-espacial, porta para outra dimensão, não encontra tranquilidade na solidão. Sim, preciso de uma fiel companheira. Não sei viver sem amar.

E muitas vezes este amor em mim que arde e quer sair busca para onde ir. E ele é exigente, o danado... Uma colega de trabalho, a amiga de uma amiga, uma ex-esposa... Aos que me pensam frívolo, quero dizer que não o sou. Aos que me imaginam superficial por minhas paixonites, saibam que vejo o amor de forma diferente, em todos os seus níveis. O amor não é um girassol aberto, olhando para você sem nada esconder. O amor é uma rosa e suas pétalas fechadas, revelando, a cada pétala tirada, um pouco mais de si. Ama-se aos poucos, e também de uma só vez. Ama-se a pétala e o espinho, pois este não pode ficar sozinho, se se ama a rosa.

Mudo minha forma de amar? Não. Mudo minha forma de demonstra-lo. Segurança nunca foi uma busca para mim em relação ao amor. Até porque o amor não é estável (leia sobre isso aqui), por isso não pode oferecer aquilo que não é.


Mudo minhas demonstrações de afeto, a partir de agora. Mudo minha forma de elogiar, pois minhas palavras perdem valor se jogadas ao vento. Mudo meus relacionamentos. Limpo quem não me quer mais. E o faço com o coração aberto para recomeços, pois recomeços são mudanças, também.

Quanto ao perdão, este nunca neguei a ninguém. Não mudo nisso, faz parte de mim apagar o que machuca. As feridas se fecham, afinal de contas. Cicatrizes só ficam para quem cuida mal de si. Também peço perdão aos que feri, aos que magoei. Peço perdão aos que traí, aos que usei. Diferente da maioria hipócrita, eu admito ter feito isso, apesar de todos, por mais éticos que queiram parecer, o fazerem em maior ou menor grau. Peço perdão por ter te deixado para trás, ou por ter falado o que não devia. Peço perdão pelas más influências. (mais pedidos de perdão aqui)

Eu sou um homem. Humano em demasia, já diria Balzac, e não sei lidar com a mentira sobre quem sou. Sou imperfeito, cheio de neurastenias. Mas luto. Não contra meus defeitos, mas contra as falsas virtudes que a vida resolveu incutir em minha cabeça e que agora, depois de tanto tempo, não me parecem algo que faça sentido.

Eu não mudo para buscar a felicidade. Eu mudo para buscar sentido.


sábado, 20 de agosto de 2011

Compartilhar vida

Estou doente.

Garganta inflamada, temperatura alta.

De todos os problemas de saúde que eu imaginava enfrentar em João Pessoa uma garganta inflamada era o mais improvável. Tempo quente, mesmo no inverno, sol, mar, anticorpos fortalecidos...

No entanto, cá estou eu de cama, derrubado pelo viruzinho que eu não vejo há tanto tempo. Pelo menos sete meses sem ter sequer uma crise de bronquite, com casos de rinite reduzidos a corizas esparsas e febres apenas sob o sol escaldante do Nordeste.

A dona da casa onde moro é enfermeira, e está me dando um daqueles tratamentos de mãe que a gente precisa de vez em quando, até quando já está com trinta anos de idade. Nunca deixamos de querer carinho e cuidado.

E o oferecemos de volta? Dona Luciene tem cuidado bem de mim. Os filhos dela moram longe e resolveu me adotar. Se preocupa com minha alimentação, horários e com quem ando. Fica preocupada quando não chego cedo em casa, com o trabalho e tem orado por mim.

Em retribuição ouço suas histórias, ajudo com algumas coisas em casa, compartilho vida.

Compartilho vida. Isso é importante.

A cada um de nós é dado um pouco de vida para viver e um outro tanto para compartilhar. A gripe me faz ver que quero compartilhar mais vida com esta família que Deus colocou em meu caminho em João Pessoa. Agradeço a Ele por isso.

Vá compartilhar vida também.

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Cansaço

Tudo o que há em mim
cada gesto e pensamento
cada dor, sofrimento e prazer
tudo o que há em mim
é cansaço

Tudo o que há em mim
cada fastio, lembrança
Noite de frio, mudança
cada memória perdida
é cansaço

Tudo o que há em mim
cada silêncio mal resolvido
e bem solucionado fim de caso de amor
cada caos e cada ordem
cada baderna milimétrica dentro de mim
É cansaço

Eu só quero que este cansaço vá embora
Para que eu volte a ser
Tudo o que sempre houve
em mim.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

O amor se sente no corpo?

Amar se sente no corpo?
O corpo é extensão do sentido de amar
Expressão máxima da paixão
Do desejo, no corpo se sente o amor
No corpo está o calafrio
A sensação de abandono
De estio
O fastio da vida de antes
No corpo se sente o tremor
E o pavor, o horror, ah, o horror!
No corpo se sente o amor.
Até na barriga, a vertigem
O sentido que se perde ao volitar
o grito parado no ar
O ar de dentro prá fora
afinando, refinando, transformando
Em incêndio a fagulha inicial.
No corpo se sente o amor
Que é a transubstanciação da alma
Em algo novo, puro
Quase translúcido.
O amor transforma o corpo
No corpo do outro a continuação
O amor se sente, sim, no corpo
E quem não sente
Não sabe o que é amor.

Da amizade e da solteirice.

Nem sempre a solidão é uma escolha. Às vezes ela simplesmente acontece, de uma forma que nos foge um tanto ao controle. A solidão pode acabar machucando, ou nos ajudando a crescer.

Nos últimos meses tenho me sentido muito sozinho. Distante da família, ando melancólico (fico escrevendo estas coisas aqui e daqui há pouco estão meus pais ligando desesperados achando que eu quero me matar). Esta melancolia não é fruto apenas da solteirice, mas também de algumas rasteiras que eu acabei tomando em João Pessoa. Rasteiras que eu não imaginava que ia tomar.

Algumas pessoas a quem eu dei um valor muito grande resolveram que queriam que eu me afastasse. Entendo. Sei os motivos e previ que isso pudesse acontecer (estou vendo os comentários de pessoas dizendo para eu "mudar", ser "diferente", encontrar um caminho para recuperar estas pessoas). Lamento muito que tenha acontecido. Aquelas pessoas eram (são) muito importantes para mim.

Porém, a amizade é a arte da adaptação. Olhar para o próximo e enxergar além de seus defeitos. Eu faço isso com todos. Meu otimismo (escondido sob uma capa de pragmatismo) me faz acreditar que todos somos mais do que aquilo que aparentamos. Vejo além dos defeitos das pessoas. Porém, comigo, isso não acontece.

Sou uma pessoa difícil de lidar. Sempre soube. Tímido, retraído, defensivo, agressivo, impetuoso, intempestivo, inseguro, melancólico, não acho que seja uma companhia maravilhosa, mas também não sou de todo mal. A solidão só me faz piorar e me fechar ainda mais.

Tenho outros amigos, lógico, tão bons quanto aqueles que me expurgaram. No entanto, amizade, para mim, não é assim, com uma pessoa substituindo a outra. Não. Amizade é complementação. Amigos nos complementam, ou porque pensam como nós, ou porque pensam de forma extremamente diferente. Não se substitui um amigo com outro, pois cada um te supre de uma forma diferente. Da mesma forma que você age com cada um deles de acordo com o relacionamento estabelecido.

No sábado, conversando com outro amigo, ele me falou de reciprocidade, um conceito com o qual eu compactuo. "Eu sou muito recíproco. O nível de amizade que você me oferece é o nível de amizade que eu vou oferecer de volta", ele dizia. Comigo não é muito diferente. Só que eu acabo oferecendo um pouco mais, pois gosto de agradar da forma como posso. às vezes, para algumas pessoas, isso pode parecer ostensivo demais.

Dei esta volta, falando de amizade e contando este causo para falar sobre estar sozinho no dia dos solteiros. É a primeira vez que isso me acontece em 11 anos. Também foi meu primeiro dia dos namorados sozinho desde que entrei na vida adulta. Gosto de datas. São uma forma de agendar nossos pensamentos e reflexões sobre assuntos importantes. Ontem, dia dos pais, pensei em paternidade, vi pais brincando com seus filhos e pensei que tenho 30 anos e não construí um legado. Acabo descobrindo que estou caindo no mal da solidão.

Nossas vidas não fazem sentido quando estamos sozinhos. Podemos ser felizes? Sim, claro, conseguimos ter momentos de felicidade. Porém, na hora de deitar na cama e encostar a cabeça no travesseiro, não ter um corpo quente do lado para se aninhar faz muita diferença.

Precisamos de uma testemunha de nossos atos. Não queremos passar a vida sem que sejamos vistos, amados, queridos, desejados. Isso em todos os âmbitos. Existem momentos em que estamos exilados, muitas vezes dentro de nós mesmos, mas existem momentos que queremos deixar de ser ilhas. John Donne estava certo, mas sinto cada vez mais o istmo que me liga aos outros ser consumido pelo elevar das águas do aquecimento global da solidão.

Sinto falta de muitas coisas. Alguém para amar? Não. Tenho alguém para amar (maldito amor platônico), ainda que ela não saiba que meu coração bata da forma como bate por ela (ou talvez saiba, mas como não é recíproco, prefere calar-se). Sinto falta de alguém que me ame. Alguém que me considere importante, especial, único. Ando tão igual, tão mergulhado na multidão, tão perdido. Amigos nos ajudam a nos encontrar, e perder estes foi bastante dolorido.

Me arrependo de ter feito o que fiz. Quebrou a dinâmica que havia entre nós. Desde então tudo ficou estranho, faz dois ou três meses, mais ou menos. Sinto falta deles. Muita. Mas não vou forçar minha presença. Não vou me impor. Não sou assim. Mas que sinto falta deles, ah, como sinto.

domingo, 14 de agosto de 2011

Pai

No passado eu e ele tivemos muitas diferenças para acertar. Eu, um rebelde em estado constante de questionamento, ele, a representação do status quo. Nunca, no entanto, deixamos de nos amar e admirar mutuamente. Nos ferimos, nos curamos, sempre nos amando, porque as pessoas que nós mais amamos são sempre as pessoas que mais nos machucam.

Eu e meu pai.
E como sempre me faltam palavras para escrever sobre datas especiais, deixo para Vinícius falar por mim.

Te amo, pai!

Balada Negra

Éramos meu pai e eu
E um negro, negro cavalo 
Ele montado na sela,
Eu na garupa enganchado.
Quando? eu nem sabia ler
Por quê? saber não me foi dado
Só sei que era o alto da serra
Nas cercanias de Barra.
Ao negro corpo paterno
Eu vinha muito abraçado
Enquanto o cavalo lerdo
Negramente caminhava.
Meus olhos escancarados
De medo e negra friagem
Eram buracos na treva
Totalmente impenetrável.
Às vezes sem dizer nada
O grupo eqüestre estacava
E havia um negro silêncio
Seguido de outros mais vastos.
O animal apavorado
Fremia as ancas molhadas
Do negro orvalho pendente
De negras, negras ramadas.
Eu ausente de mim mesmo
Pelo negrume em que estava
Recitava padre-nossos
Exorcizando os fantasmas.
As mãos da brisa silvestre
Vinham de luto enluvadas 
Acarinhar-me os cabelos
Que se me punham eriçados.
As estrelas nessa noite
Dormiam num negro claustro
E a lua morta jazia
Envolta em negra mortalha.
Os pássaros da desgraça
Negros no escuro piavam
E a floresta crepitava
De um negror irremediável.
As vozes que me falavam
Eram vozes sepulcrais
E o corpo a que eu me abraçava
Era o de um morto a cavalo.
O cavalo era um fantasma
Condenado a caminhar
No negro bojo da noite
Sem destino e a nunca mais.
Era eu o negro infante
Condenado ao eterno báratro
Para expiar por todo o sempre
Os meus pecados da carne.
Uma coorte de padres
Para a treva me apontava
Murmurando vade-retros
Soletrando breviários.
Ah, que pavor negregado
Ah, que angústia desvairada
Naquele túnel sem termo
Cavalgando sem cavalo!

Foi quando meu pai me disse:
– Vem nascendo a madrugada…
E eu embora não a visse
Pressenti-a nas palavras
De meu pai ressuscitado
Pela luz da realidade.

E assim foi. Logo na mata
O seu rosa imponderável
Aos poucos se insinuava
Revelando coisas mágicas.
A sombra se desfazendo
Em entretons de cinza e opala
Abria um claro na treva
Para o mundo vegetal.
O cavalo pôs-se esperto
Como um cavalo de fato
Trotando de rédea curta
Pela úmida picada.
Ah, que doçura dolente
Naquela aurora raiada
Meu pai montando na frente
Eu na garupa enganchado!
Apertei-o fortemente
Cheio de amor e cansaço
Enquanto o bosque se abria
Sobre o luminoso vale...
E assim fui-me ao sono, certo
De que meu pai estava perto
E a manhã se anunciava.
Hoje que conheço a aurora
E sei onde caminhar
Hoje sem medo da treva
Sem medo de não me achar
Hoje que morto meu pai
Não tenho em quem me apoiar
Ah, quantas vezes com ele
Vou ao túmulo deitar
E ficamos cara a cara
Na mais doce intimidade
Certos que a morte não leva:
Certos de que toda treva
Tem a sua madrugada.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Quero alguém que...

1 - Sinta ciúmes de mim
2 - Se preocupe com o que estou comendo
3 - Se incomode com quem estou andando
4 - Discuta comigo
5 - Discorde de mim em coisas que eu acho que são verdades absolutas
6 - Me deseje
7 - Me xingue quando estiver nervosa, me abrace quando quiser carinho
8 - Me faça sentir saudades quando não estou perto
9 - Me surpreenda
10 - Me ame.

Será que consigo alguém assim?

domingo, 7 de agosto de 2011

Kabuki


To Tokio, with love

Um conto sobre cabelos vermelhos

_ Você me inspira

_ Como assim?

_ Acho que são seus cabelos. Esse seu vermelho vivo, mas meio fugidio...

_ Obrigada. Mas eu nem te conheço

_ Talvez seja por isso que você me inspire. Sem te conhecer não tenho expectativas por você. Olho e penso no quanto deve ser isso, ou deve ser aquilo.

_ Você se inspira pela idealização?

_ O mundo real não é inspirador. No mundo real você deve ter seus dias de mau humor, tristeza, enchição de saco, atrasos de ônibus. No mundo idealizado são só seus cabelos vermelhos de fogo brilhando assim contra o sol.

_ Isso é superficial.

_ Mas a inspiração tem que ser superficial. Não a paixão ou o amor. Esses só vêm mesmo nos dias em que você tem mau humor, atrasos de ônibus... É nessa hora mesmo que você acaba descobrindo a paixão. Quando vê que ela é bem mais que apenas uns cabelos vermelhos.

_ Mas por hora eu só te inspiro.

_ Por hora eu só conheço seus cabelos vermelhos. Quando descobrir seus maus humores posso apostar que me apaixono.

sábado, 6 de agosto de 2011

Melancólico

A pior parte de se afastar de alguém para tentar ver sua saudade é descobrir que a pessoa pode viver sem você.

Isso não vale apenas para namoros ou casamentos.

A vida segue seu rumo. Inexoravelmente.

E eu continuo perdido. Extremamente perdido.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Amigo

Constatei uma coisa.. Eu e meu melhor amigo não temos uma foto juntos depois de adultos. Não que sejamos adultos de verdade, mas a idade chegou, sabe, e a gente não tem uma foto junto.

Mas a gente tem foto junto desde os quatro anos de idade. Aliás, desde antes. Desde que a gente nasceu. Meu melhor amigo, meu primo, que mora em São Vicente, e eu já passamos por poucas e boas desde crianças.

Centenas de noites insones conversando quando eu ia a São Vicente passar as férias na casa dele.
Centenas de outras noites andando de carro tentando destilar a tristeza, ou comemorar a alegria.
Horas, dias, meses, anos de conversa.
Verdades sempre jogadas na mesa. Jogadas na cara. Sempre com honestidade e transparência.

Eu nunca joguei joguinhos com meu melhor amigo. Aliás, eu nunca joguei joguinhos com ninguém. Mas com ele é diferente, pois mesmo se eu jogasse ele com certeza saberia.

A conexão que a gente tem foge do normal. A gente se entende. Sempre se entendeu. Eu nunca tive um amigo como ele.

E, de repente, vejo que a gente não tem nenhuma foto junto depois de adulto.

Só digo isso porque estou com saudades do meu melhor amigo.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Chouetsu - Transcendência


Hoje aprendi o significado de quatro palavras em Japonês com a minha mais que amiga Klissia Tiba. Ela é nissei e faz parte de um grupo de Taikô em sua cidade, Londrina, no Paraná.

A música acima, que recebe o nome de Chouetsu, que quer dizer "Transcendência", e é a primeira palavra que aprendi em japonês hoje, tem um significado especial para os membros do grupo de Taikô que está se apresentando. É uma música que fala sobre as separações dentro do grupo. Pessoas que se vão em decorrência de um problema, ou das vicissitudes da vida mesmo. Eles, os que se vão, precisam de coragem para seguir seus caminhos, abrir mão, muitas vezes, daquilo que acreditam ser uma das coisas mais importantes para eles.

Para eles (e Klissia é uma destas pessoas) eu aprendi o valor e significado da palavra Ganbarimashou.

"No meio do vídeo, logo depois que jogam os bachis (quando tem aplausos), eles gritam ganbarimashou, é uma expressão japonesa, algo como 'seja forte!'. A mensagem é essa, de superar os obstáculos. Apesar de estarmos tristes pelos rompimentos, devemos seguir em frente, quem vai e quem fica. Ela também tem outro sentido de rompimento, o de romper as correntes que nos prendem a padrões"

"Seja forte". E isso não é um convite para que voltem. Não. Na cultura oriental eles entendem a necessidade do "seguir adiante". Novos desafios se apresentam para todos nós todos os dias. A cada manhã temos que enfrentar mais e mais problemas e desafios que se apresentam e se alinham diante de nós, como guerreiros querendo nos derrubar. "Seja forte" é o convite do grupo a prosseguir lutando, combatendo, vencendo. "Ganbarimashou" a todos os que acordam de manhã e precisam encarar um mundo novo que não é gentil ou bondoso. "Ganbarimashou" a todos que descobrem uma doença incurável. "Ganbarimashou" aos que perderam alguém. "Ganbarimashou" aos que perderam o emprego. "Ganbarimashou" aos que estão começando em um novo trabalh"Ganbarimashou" aos que querem e precisam recomeçar. Seja forte.

Aos que ficaram no grupo, a palavra é outra, mas com significado parecido. "washoi", que quer dizer "Força". "Para quem ficou, esta é a palavra. Para continuar carregando as responsabilidades do grupo, como deve ser".

"Washoi" para o pai que precisa levar comida para os filhos dia após dia. "Washoi" para o casal que está passando por dificuldades. "Washoi" para quem tem que acordar de manhã e enfrentar a rotina de sempre, sendo derrotado ao fim do dia e só encontrando paz na cama, no fim da noite. "Washoi" para os que, ainda que enfrentem todas as dificuldades do mundo, não desistem de conseguir mudar sua realidade, sua perspectiva. "Washoi" para quem tem esperança de fazer o mundo mudar, para quem insiste em seus planos, acredita em seus sonhos. "Washoi" para os que querem prosseguir! Força!

Por fim, ao terminar de assistir ao vídeo, entendendo que esta música era uma despedida de alguns membros, mas sem rancor, sem mágoas, tudo o que eu podia dizer que tudo estava lindo demais.

_ Kirei.
_ Como?
_ Kirei. Quer dizer bonito.

Kirei.