_ Você me inspira
_ Como assim?
_ Acho que são seus cabelos. Esse seu vermelho vivo, mas meio fugidio...
_ Obrigada. Mas eu nem te conheço
_ Talvez seja por isso que você me inspire. Sem te conhecer não tenho expectativas por você. Olho e penso no quanto deve ser isso, ou deve ser aquilo.
_ Você se inspira pela idealização?
_ O mundo real não é inspirador. No mundo real você deve ter seus dias de mau humor, tristeza, enchição de saco, atrasos de ônibus. No mundo idealizado são só seus cabelos vermelhos de fogo brilhando assim contra o sol.
_ Isso é superficial.
_ Mas a inspiração tem que ser superficial. Não a paixão ou o amor. Esses só vêm mesmo nos dias em que você tem mau humor, atrasos de ônibus... É nessa hora mesmo que você acaba descobrindo a paixão. Quando vê que ela é bem mais que apenas uns cabelos vermelhos.
_ Mas por hora eu só te inspiro.
_ Por hora eu só conheço seus cabelos vermelhos. Quando descobrir seus maus humores posso apostar que me apaixono.
Alguém mais inteligente que nós, modéstia à parte, já disse algo parecido. Um tal de Fernando Pessoa...
ResponderExcluirO poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.