domingo, 7 de agosto de 2011

Um conto sobre cabelos vermelhos

_ Você me inspira

_ Como assim?

_ Acho que são seus cabelos. Esse seu vermelho vivo, mas meio fugidio...

_ Obrigada. Mas eu nem te conheço

_ Talvez seja por isso que você me inspire. Sem te conhecer não tenho expectativas por você. Olho e penso no quanto deve ser isso, ou deve ser aquilo.

_ Você se inspira pela idealização?

_ O mundo real não é inspirador. No mundo real você deve ter seus dias de mau humor, tristeza, enchição de saco, atrasos de ônibus. No mundo idealizado são só seus cabelos vermelhos de fogo brilhando assim contra o sol.

_ Isso é superficial.

_ Mas a inspiração tem que ser superficial. Não a paixão ou o amor. Esses só vêm mesmo nos dias em que você tem mau humor, atrasos de ônibus... É nessa hora mesmo que você acaba descobrindo a paixão. Quando vê que ela é bem mais que apenas uns cabelos vermelhos.

_ Mas por hora eu só te inspiro.

_ Por hora eu só conheço seus cabelos vermelhos. Quando descobrir seus maus humores posso apostar que me apaixono.

Um comentário:

  1. Alguém mais inteligente que nós, modéstia à parte, já disse algo parecido. Um tal de Fernando Pessoa...

    O poeta é um fingidor.
    Finge tão completamente
    Que chega a fingir que é dor
    A dor que deveras sente.
    E os que lêem o que escreve,
    Na dor lida sentem bem,
    Não as duas que ele teve,
    Mas só a que eles não têm.
    E assim nas calhas de roda
    Gira, a entreter a razão,
    Esse comboio de corda
    Que se chama coração.

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