terça-feira, 22 de setembro de 2015

O dia em que eu teria sido demitido por Chatô

Quando Samuel Weiner foi cobrir a Segunda Guerra Mundial para os Diários Associados, Assis Chateaubriand lhe deu um aviso.

"Você vá para a guerra mas não morra. Você é pago para noticiar, não para ser notícia".

Todos os dias o aviso de Chateaubriand tem que ecoar na minha mente. Na verdade, todo jornalista que se julga responsável sabe que ele mesmo não é a notícia, mas um narrador, o contador de histórias de outros personagens. Uma voz que diz, de fora, o que está acontecendo.

No entanto, há dias em que é impossível ficar impassível diante do fato que ocorre diante dos seus olhos e o velho dilema do filmar ou salvar a vítima do afogamento volta a martelar na sua cabeça.

Hoje foi um dia desses.

Fomos enviados, eu e o cinegrafista Asafe Pacheco, para uma ocorrência. Um tiroteio entre o dono de um posto de gasolina no bairro da Torre e um assaltante que tentou roubar o posto. Eles trocaram balas na porta da conveniência do posto. Vidros quebrados, tiros nas paredes, sangue espalhado.

O dono do posto foi baleado na cabeça. Agonizava, respirando pesado, no interior escuro do posto enquanto o assaltante, olhos arregalados de quem vê "a luz" jazia quase inerte do lado de fora. Seu rosto focava o chão. Boca aberta, babava e vivia, ainda, em detrimento do desejo de todos à sua volta.

Chegamos para registrar a ocorrência antes da polícia estar no local. Os moradores estavam em volta do corpo do assaltante, que fora baleado no peito, no abdomen, nas costas e nas nádegas. Ele acertou um tiro. Só um. Na cabeça do empresário.

Enquanto registrávamos o fato, o assaltante tentou se mover. Motivado pela dor que o cegava, tentou girar o corpo para cima. Estava sobre cacos de vidro da porta da conveniência. Tocou no chão para girar e, sem querer, tocou em um caco grande de vidro.

Foi o bastante. Três moradores do local foram sobre ele. Um pisou em sua mão para que ele "soltasse" o caco de vidro, um segundo motivava a ação e o terceiro, o que estava mais perto, pisou o peito do rapaz.

Bem no local onde tinha entrado a bala.

Eu entendo a indignação da população com os criminosos. Entendo o que motiva as pessoas a sentirem ódio daqueles que tiram seu sustento. As conversas entre os moradores davam conta de que aquele não havia sido o primeiro assalto dele na região do bairro da Torre. Outro assalto, no último domingo (19) também teria ocorrido com o assaltante apresentando as mesmas características peculiares do rapaz (ele estava vestido com um jaleco de um laboratório, uma touca cirúrgica e uma calça de trabalho. Parecia um funcionário de alguma clínica que estava indo lanchar na conveniência), o que aumenta ainda mais a indignação. Ele empunhava um revólver calibre 38 municiado. Ele atirou contra um empresário que, tudo o que fazia, era fazer negócios no seu posto, vendendo seu combustível honestamente, um pai de família que deixou filhos e netos, um "homem de bem".

Eu entendo a indignação, mas não se justifica o que aconteceu. Nas bocas da população o grito de "morre", "mata" e "deixa morrer" eram entoados como mantras, em uníssono. Ao ver o homem pisando a ferida aberta no peito do assaltante os populares não se indignaram, mas sentiram-se justiçados, como se aquele ato de violência pudesse por fim ao medo alimentado dia e noite nos corações da população.

Vivemos em um país que tem na violência uma ferida exposta no peito aberto da miséria. Uma violência que é fruto de vários fatores que não quero discutir aqui. Uma violência que me deixa indignado, seja ela perpetrada por um bandido ou por vários.

Pedi que o homem tirasse o pé do peito do rapaz. Ele estava pisando a ferida do homem. quando o assaltante tentou se mover novamente eu falei para ele não fazer isso.

"Amigo, não se mexe, fica quietinho esperando o Samu senão vai acabar sobrando para você".

Os três homens pularam para cima de mim. O discurso era um só.

"Amigo? Isso aqui não merece viver. Amigo é aquele ali dentro, pai de família, que está quase morrendo. Se você é amigo de bandido você é bandido também".

Um soco no meu peito, tapas no meu rosto e muita violência verbal. Foi o que enfrentei. Deixei que me batessem. Era a dor deles que estavam diluindo em mim, como haviam diluído no rapaz caído. Era a violência da sua moral seletiva que arbitrariamente eu deixei que eles soltassem. Não reagi, que não sou disso. Tentei acalma-los, mas foi em vão. Mandei que tirassem as mãos de mim, mas nada.

Balzac já dizia que os crimes coletivos não condenam ninguém. Ele dizia isso sobre o jornalismo, mas serve para a situação em questão. Em volta, o olhar da população era aprovando a violência da qual eu era a vítima naquele momento. Em momento algum desviei meu olhar dos olhos daqueles homens. Não os temia. Temia, sim, pela vida do assaltante, que, em detrimento de ter tirado a vida de um cidadão, merecia o mesmo atendimento e cuidado de saúde que o outro.

Merecia o mesmo direito de viver, ainda que tenha intentado contra a vida do outro.

É grande a indignação pela sensação de impunidade que existe no Brasil. Vemos a justiça morosa, a polícia corrupta, as leis burocráticas agindo contra a justiça e temos que nos calar. Somos engolidos pelo turbilhão. 80% dos homicídios cometidos no Brasil não tem solução. 90% dos que tem solução ocorrem por motivos torpes, besteiras. Uma dívida, uma traição, uma tentativa de assalto frustrada. Isso ferve o sangue e a vontade é aplicar a lei de Talião nas terras tupiniquins. Isso leva aos justiçamentos, isso leva assaltantes a serem amarrados em árvores e postes, mulheres serem linchadas por suspeitas (infundadas, vale lembrar) de envolvimento com magia negra e assassinato de crianças, estupradores terem o tratamento que tem nos presídios brasileiros.

A mesma impunidade que os indigna é a impunidade que os deixa aliviados. Os crimes coletivos, aqueles que estas pessoas cometem em grupos, não condenam a ninguém. A minha intervenção foi suficiente para apaziguar os ânimos daqueles moradores, ao menos até a chegada da polícia, que mandou todo seu operativo para o posto de gasolina. Mais de 20 policiais, doze viaturas paradas no posto onde havia apenas duas pessoas caídas, sendo um assaltante e um empresário do ramo de postos de gasolina, enquanto que, quase simultaneamente, no bairro do Cristo Redentor, na mesma João Pessoa, uma guarnição com apenas três homens investigava a tentativa de homicídio de um ajudante de pedreiro na esquina da Rua dos Milagres.

O assaltante foi socorrido para o Hospital de Emergência e Trauma de João Pessoa, o mesmo hospital para onde tinha ido, momentos antes, o empresário. No fim, em detrimento do que fazemos, somos todos iguais, movidos pelas mesmas indignações, pelas mesmas frustrações. Chateaubriand, hoje, teria me demitido.

quinta-feira, 9 de julho de 2015

A educação, as instituições e os valores perdidos

Sempre me afastei dos conservadores. Há mudanças, para eles, que são muito drásticas. A liberação da comercialização das drogas, o casamento homossexual. Pautas nas quais divirjo deles.

Como eles, no entanto, nutro um profundo respeito pelas instituições.

Um caminho sem saída
São as instituições que mantém a estabilidade de uma sociedade. Saber que há sólidos valores nos quais se pode confiar é o que não permite que venhamos a nos tornar desordeiros caóticos. As instituições organizam nossas ideias e valores enquanto sociedade e os disseminam entre os membros do nosso grupo.

Mas o respeito às instituições só vem quando temos a plena confiança de sua eficiência. Como tudo neste mundo, respeitamos aquilo que merece nosso respeito, amamos aquilo que conquista nosso amor, tememos aquilo que merece nosso medo.

Quando um tribunal não condena um criminoso, quando um funcionário público recebe propina, quando um empresário espolia funcionários, quando vemos a escravidão no campo e mesmo na cidade, então as instituições têm seus valores corrompidos.

A perda da credibilidade institucional determina a perda do valor das instituições, seja o casamento, seja a Presidência da República. As instituições são relativizadas e, junto com elas, nossos valores, nossa própria moral.

Isso acontece porque estabelecemos parâmetros em nossa vida para determinar valores nos quais acreditamos e nos quais investimos. Nossa moral é determinada por nossa aculturação, por preceitos sociais, por nossas próprias determinações (ideais) e por nossos pares, sejam pais, professores, amigos, etc.

Acreditamos que matar é errado, primeiro por ser o ato de tirarmos uma vida humana e segundo por isso trazer consequências para nossas próprias vidas.

Porém, para aqueles que não respeitam a vida humana (especialmente por suas próprias vidas não serem respeitadas), quando vêem que não existem consequências reais para o ato de desrespeitar a vida exinguindo-a, vão deixar esta instituição para trás. O valor se perdeu.

Hoje, no Brasil, vivemos uma crise econômica, uma crise social e, acima de tudo, uma crise institucional. É isso que relativiza nossa moral. Se não temos como confiar que as instituições cumprirão seu papel, como garantir que nossa honestidade, nossa integridade, nosso trabalho duro serão respeitados?

É aí que, desde jovem, o brasileiro é treinado para não acreditar nas instituições. Frases como "a justiça é lenta", ou "põe na conta do Abreu, se ele não pagar, nem eu" fizeram ruir a nossa ética. Como sabemos que a impunidade é artigo do dia e que a cobrança é considerada "usura" (no Brasil, como eu sempre digo, é pecado capital ser rico), vemos cada vez mais o desrespeito às leis. Afinal, para que respeitar algo que não precisa ser executado.

Há que se considerar, também, que a profusão de leis existentes no Brasil faz com que os códigos civil, penal, do consumidor e etcetera, etcetera e etcetera sejam considerados piadas. Para cada lei criada o brasileiro inventa mais de mil maneiras de burla-la. Mesmo a criação das leis não segue um processo lógico com um claro desrespeito por parte de políticos à instituição "povo", incluindo artigos "Frankenstein" em leis amenas, tornando o mundo mais obscuro e cheio de subterfúgios.

Há três instituições que são direitos que estão, acima de tudo, sendo desrespeitados em todos os aspectos no Brasil. São os direitos essenciais do homem, segundo o filósofo francês Frédéric Bastiat: A vida, a liberdade e a propriedade.

A violência é consequência do desrespeito ao direito à propriedade, que garantiria a todos os brasileiros a posse daquilo que é seu por direito: o fruto do seu trabalho e do seu esforço, e a herança do trabalho e do esforço daqueles que deixaram algo para você, algo que é da sua posse.

Mas quando 35% do fruto do seu trabalho fica com o governo em forma de impostos diretos sobre o salário e mais 40% de todo o dinheiro que você usa para comprar coisas também é gasto em impostos sobre o consumo, então você não tem, efetivamente, posse do fruto do seu próprio trabalho.

Quando o jovem vê os mais velhos atolados em um lamaçal de dívidas, impostos, falta de perspectiva, eles se apegam às primeiras oportunidades que puderem. Isso acontece porque o trabalho honesto tem cada vez menos valor para o mundo que nos cerca. Uma instituição que não tem valor, não oferece perspectiva, acaba sendo dissolvida em si mesma. A honestidade é motivo de piada, o trabalho, de vergonha.

Quando a educação oferece nível zero de perspectiva, de oportunidades, então para que investir nela?

Mais do que a falta da educação, é a ruína da perspectiva que leva nossos jovens cada vez mais para o tráfico de drogas. Sem ter para onde olhar, eles acabam caindo neste mundo sujo onde as drogas são o produto e o medo o valor mais caro. Aqueles que o causam conquistam maior respeito
Não é derramar dinheiro em escolas públicas que vai fazer com que os jovens deixem o caminho das drogas. É a recuperação do valor das instituições. É fazer o jovem voltar a acreditar na justiça, voltar a ter perspectiva. A instrução é uma parte disso, um caminho, e não um fim, ao contrário do que os defensores da educação querem garantir. A educação leva as pessoas a algum lugar.

Porém, se não houver um lugar para onde ir, qual o motivo de pegar este caminho?

É necessário pavimentar este caminho sim, mas sem um horizonte, não há motivos para pegar esta estrada. As pessoas precisam saber que estão avançando em suas vidas, que chegarão a algum lugar, que estudar vai leva-las a vencer.

Enquanto não houver emprego pleno, recompensa digna pelo esforço, respeito ao trabalho, não haverá motivos para estudar. É necessário ver que vale mais a pena ser honesto do que desonesto.

Há caminhos para isso. Redução da carga tributária, recompensas pelo esforço, valorização do mérito, aumento da competitividade, incentivo ao empreendedorismo.

É o respeito às instituições que sustenta uma sociedade. A recuperação de valores que se perderam. A fé na humanidade manifesta em uma justiça eficaz dos homens.

é por estes valores que vale a pena lutar.






domingo, 5 de julho de 2015

As Guerras pela liberdade da mente


Realidades Adaptadas”, de Philip K. Dick nos deixa uma pergunta: Quais os limites para o controle sobre a liberdade?

Lendo Philip K. Dick tenho a impressão de que vivemos, hoje, em seu futuro distópico. Exceto pelas bombas atômicas que não foram lançadas (mas quase, na crise dos mísseis), tudo aquilo que ele previa nos seus escritos nos anos 50 já se concretizou. Robôs sencientes, a despreocupação com a questão ambiental, o medo fazendo as pessoas trocarem a liberdade pela segurança.
Na coletânea “Realidades Adaptadas” (Aleph – 2012), isso pode ser enxergado de forma clara. O livro reúne sete contos escritos nos anos 50 que acabaram sendo adaptados para o cinema. Em três deles em especial, a questão da liberdade é tratada de forma latente e o questionamento que o autor faz é: quais os limites para o controle sobre a liberdade?
Sem abandonar sua escrita leve e rápida, carregada de ironia e ação, ele questiona a intervenção dos governos e das grandes corporações nas vidas dos indivíduos. Em O Relatório Minoritário vemos a polícia prendendo pessoas que, apenas no futuro, iriam cometer crimes. Em O Pagamento, após ter sua memória apagada um homem é perseguido pelo governo para revelar o que fazia em uma megacorporação. Em O Homem Dourado, vemos como ser mais capaz que os outros, pode custar caro.
Até que ponto a liberdade pode ser sacrificada em favor da segurança? Podemos ver esta mesma pergunta, sendo feita após o 11 de Setembro. Governos invadindo casas, agências de inteligência hackeando computadores, câmeras de vigilância espalhadas por todos os lugares. O Big Brother de George Orwell fundamentado em nosso medo. Ao mesmo tempo em que temos medo do mundo que nos cerca, governos têm medo de que o homem, por meio de seu potencial, alcance a liberdade.
Este é um tema presente na literatura de ficção científica. Philip K. Dick é um dos autores que mais se preocuparam com os limites da liberdade. Um dos questionamentos do autor que mais fazem sentido é o fato de que muitos querem, para poder viver com "tranquilidade", entregar sua liberdade em troca de uma constante fiscalização.

***

Uma guerra justifica a invasão das mentes das pessoas no intuito de evitar crimes? Em O Relatório Minoritário, o crime pode ser evitado por meio da precognição. Assassinatos não acontecem, mas os “futuros” assassinos são presos mesmo assim. Pessoas são responsabilizadas por crimes que não cometeram. A justiça tem o direito de prender por pensamentos? O governo teria o direito de cercear a liberdade de pensar?
No conto O Pagamento, um técnico troca uma grande quantidade de dinheiro por um saquinho com bugigangas. O motivo? Ele ainda não sabe, mas quando começa a ser perseguido pelo governo, cada um dos objetos que ele leva no pacote tem um significado. O governo quer saber o que ele fazia dentro de uma mega-companhia. A suspeita de que ele teria contribuído para a construção de máquinas ilegais é o que motiva a polícia secreta em sua perseguição.
A liberdade dele está em jogo. Entre o governo e a companhia, ele precisa encontrar um caminho para poder viver. Sua escolha é estar acima de tudo isso. Sua individualidade, sua capacidade de enxergar à frente o leva a tomar a decisão que vai determinar seu futuro para sempre. O indivíduo encontrando o caminho para a liberdade por meio de sua própria capacidade de superar os obstáculos que a vida lhe apresenta.
Já em O Homem Dourado, o mundo após uma guerra é marcado pela presença de mutantes, pessoas com superpoderes. Um deles chama a atenção por sua capacidade de prever o futuro. Em todos os casos o governo caça, prende e mata os mutantes, ao invés de tentar entender as diferenças que eles representam. As pessoas não querem evoluir, avançar. O objetivo é nivelar o ser humano por baixo, não permitir que aqueles que tem maior capacidade de sobreviver venham a triunfar, manter a mediocridade do ser humano. O próximo passo evolutivo dá medo demais.

Philip K. Dick deixa mais perguntas do que respostas para nós. Suas histórias têm, em sua maioria, finais tristes e surpreendentes. Uma certeza surge, no entanto. A liberdade é um bem muito valioso para trocar por qualquer coisa. Seja por segurança, seja por dinheiro. Este bem, no entanto, está sempre em perigo. Seja em suas histórias, seja no mundo real.

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quarta-feira, 11 de março de 2015

Quanto vale uma vida?

Muro do campinho. As traves jogadas no chão mostram que o futebol não foi a atração hoje
Embaixo de uma mangueira carregada, os frutos rosas espalhados pelo chão, atrás da linha do escanteio do campinho do bairro, o vermelho do sangue empoçado se mistura com a terra batida. O sangue é de Lindemberg Soares Filho, 17 anos, morto na manhã desta quinta-feira (11). no muro logo atrás do corpo disforme do rapaz, o questionamento:

"Quanto vale uma vida?"

Pergunto ao policial, o sargento Batista, que foi o primeiro a chegar ao local depois do Ciop ter comunicado os tiros no bairro do Alto do Mateus, ouvidos por um anônimo que teve coragem de ligar para a polícia, se a vida daquele menino valia mais do que uma dívida de drogas, a suspeita inicial da polícia para o motivo do assassinato.

"Nenhuma dívida vale a vida de ninguém", lamentou o sargento.

Do lado de fora da fita amarela e verde, que cercava a área abaixo da mangueira, o tio do rapaz chora. "Um menino bom. Estávamos levando ele para a igreja. Ele estava voltando. Aí acontece isso. A gente não sabe o que fazer. Onde isso vai parar?", questiona o radialista.

Entre as mangas caídas sob a sombra da árvore majestosa, nove cápsulas de bala. aparentemente calibre 38. Sinal de que o crime teve um motivador de ódio muito grande. Ou duas armas foram usadas ou uma arma usada, descarregada e recarregada pelo atirador.

"Ainda não sabemos. Vamos ver quantos tiros ele levou, saber como foi o crime, estamos esperando a perícia", explicou o sargento.

O rosto o rapaz está coberto por um fio preto de sangue que escorre dos cabelos escuros, empapados. Um tiro lhe atravessa o olho. Outros três tiros, depois da chegada da perícia, são revelados: um na parte de trás da coxa, um nas costas e um no ombro. Exceto o do olho, todos por trás. Sinal de que a vítima estava fugindo, provavelmente pensando no valor que tinha sua vida.

Deixo a cena com a pergunta na cabeça. do outro lado do muro pixado, as cabeças dos populares se amontoam no alambrado. Não é dia de jogo, mas a linha do escanteio é cenário de um espetáculo. Neste momento, vil e cruel.

Quanto vale uma vida?

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

A cara gasolina brasileira




Ainda não estamos sequer em março e este já é o terceiro aumento que o Conselho Federal de Políticas Fazendárias, o Confaz, autoriza. Na Paraíba, o preço referência da gasolina passará a ser de R$ 3,19 a partir de primeiro de março. Hoje, o preço médio do combustível na cidade de João Pessoa, segundo levantamento da ANP, é de R$ 3,04.
O Confaz é formado pelos secretários de finanças dos estados e pelo ministro da Fazenda, exatamente os órgãos responsáveis pela arrecadação dos impostos e pelo uso do dinheiro público nos estados e na federação.
Quase quarenta por cento do preço dos combustíveis é formado por impostos. ICMS, PIS/Cofins, Cide, siglas que fazem a roda estatal girar. Dinheiro que deveria ser revertido em serviços de qualidade para o cidadão. Serviços que não refletem a pesada carga tributária suportada pelo brasileiro. Quanto mais caro o combustível para o cidadão, mais o governo arrecada.
E em um mundo de barris de petróleo sendo vendidos a preços baixos, como manter um gigante paquidérmico como a Petrobras? Uma empresa cujos altos custos precisam ser bancados pelo sócio maior: o governo. Que segue na contramão da realidade mundial, investindo em prospecção cara de petróleo, como a do pre-sal, seguindo uma decisão política de viver a ilusão da autonomia. Uma estatal mergulhada em denúncias de corrupção, mas que é motivo de discursos ufanistas de “o petróleo é nosso”, fomentando uma fantasia impossível de alcançar. Alimentando, no coração dos brasileiros, uma mentira na qual muitos preferem acreditar.
Mas é como diz o economista americano Thomas Sowell. O fato de que muitos políticos de sucesso são mentirosos, não é exclusivamente reflexo da classe política, é também um reflexo do eleitorado. Quando as pessoas querem o impossível somente os mentirosos podem satisfaze-las.
Enquanto isso, seguimos pagando caro pela gasolina, com muitos defendendo a manutenção do elefante verde e amarelo que é a Petrobras. Pense nisso enquanto estiver abastecendo seu carro. A não ser que o valor total da conta venha a tomar de terror e assalto todos os seus pensamentos.
Veja a matéria.

domingo, 25 de janeiro de 2015

São Paulo

Ela, que nunca me amou. Cidade fantasma, de veias sedentas de vidas. Esfomeada de sonhos e cativeiro de desejos.
Ela, desvairada, nunca entorpecida, sempre altiva, inimiga da humildade. Arrogante, prepotente, cidade que esmaga a gente.
Cidade que odeia, mastiga, com seus arranha-céus, oh, céus, dentes cinzentos, careados de brisa, chuva e sol quente, expurgando os que lhe desejam, como a broca que perfura a cárie.
Cidade de nervos à flor do asfalto, tua pele cinza, negra, branca, de mortes e vidas, tingida do vermelho do sangue do operário que acorda para te encontrar. Cidade veneno.
Ela, que odeio amar e de quem odeio as saudades.
Ela, que eu amo.

Feliz aniversário São Paulo!








(As fotos são minhas de minha última viagem à terra da garoa)



quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Carta para o Ricardo Kotscho

A carta abaixo é uma resposta à seguinte matéria do jornalista Ricardo Kotscho:



Kotscho, meu amigo!
Acho que posso te chamar assim, já que, em grande parte, você, indiretamente, moldou minha forma de pensar o jornalismo. Nas aulas do Dirceu Fernandes Lopes, este sim, seu amigo de longa data, sempre era destacado o "olhar com os olhos de ver", um axioma que ele dizia ter aprendido com você.

Mas, vamos ao que interessa? Pois bem... Sou de Santos e escolhi, quatro anos atrás, a Paraíba para viver. Especificamente João Pessoa. Vim com a cara e a coragem e estou, desde então, vivendo a maior aventura da minha vida.

Aqui encontrei tudo o que sempre procurei: espaço para desenvolver minha carreira no jornalismo, uma mulher que me ama, paz de espírito. Ainda há muito o que melhorar nesta terra, mas ela já é maravilhosa, especialmente por seu povo.

Ah, o paraibano, este povo alegre, corajoso, divertido, bem humorado, diverso. Nunca vi tanta diversidade, nem na Paulista ao meio dia nas imediações do MASP. Não. Nunca vi um povo tão "sem cara" quanto o paraibano.

Não sei se acho isso por conta do tempo que estou aqui, já que já estou imerso na cultura deste povo. Me converti em torcedor do Botafogo-PB e comedor de rubacão e tapioca, solto um "ouxe" com gosto e vivo de sorriso aberto, mesmo na dificuldade.

Nunca vou me arrepender da escolha que fiz. Foi aqui que encontrei minha paz, minha felicidade.

E não trocaria João Pessoa por nada neste mundo.

Quando quiser vir, seja bem vindo! Quero ter o prazer de lhe pagar uma carne de sol no mercado municipal, ou uma tapioca na feirinha de Tambaú.

Um forte abraço.

De um pretenso aprendiz.

João Thiago

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Minha terra de preconceitos

Ouvindo os relatos de uma amiga sobre o preconceito que ela, paraibana, sofreu na cidade de Santos.

Minha cidade é linda, mas o povo precisa melhorar muito. Santos não é o umbigo do mundo, e santista não é melhor que ninguém.

Depois perde turista e não sabe porquê. Fiquei muito triste ao ouvir a forma como ela foi tratada em uma lanchonete, um armarinho, por um motorista de ônibus e até um universitário.

Não é a primeira pessoa que ouço falando sobre o preconceito inerente ao povo santista.

Saibam que foram os nordestinos que levantaram o porto de Santos. Muitos dos avós e pais destas pessoas que têm preconceito são, na verdade, nordestinos, que, fugindo da miséria, em busca de uma vida melhor, foram para o "sul maravilha" tentar a sorte e viver a vida.

Ao conhecer o Nordeste eu senti uma ponta de inveja do povo daqui. Um povo carinhoso, carismático, alegre, muito, mas muito mais culto que nós, santistas.

Eu senti vergonha enquanto ela falava. Me sentia diminuído. Pensei em amigos e até parentes que tem este tipo de comportamento.

Pensei até nos meus próprios preconceitos, aqueles que, quando cheguei aqui, ainda carregava.

"Nordestinos são burros, feios, comem calango e andam de jumento. Falam errado e são engraçados".

Eu era um idiota. Sempre que ouço este tipo de história eu peço desculpas pelo preconceito das pessoas que nasceram na mesma região que eu.

quarta-feira, 2 de julho de 2014

A hipocrisia nos lábios e nas mentes

Bitoca!
Não vi o beijo entre as duas moças da novela das nove na Globo. Acabou que eu estava dando bitocas em outra coisinha linda, minha sobrinha-afilhada, recém nascida, que fico pajeando feito tio-padrinho babão.

Vi a foto das duas, Giovanna Antonelli e Tainá Müller dando o selinho que selou (!) o pedido de casamento que marcou o capítulo daquele dia e ouvi o silêncio. Nas redes sociais, nada de crentes excomungando a globo, nem o movimento gay soltando fogos.

Lembro de outro beijo (este eu vi), dado no último capítulo da outra novela. Dois homens, Matheus Solano e o outro que eu não lembro. Lembro do beijo que selou o relacionamento.

E lembro do calor das caldeiras do inferno, que se abria debaixo dos pés dos dois pecadores malditos para os queimar por toda a eternidade por estarem demonstrando seu amor em público. E lembro do calor dos fogos soltados pelo movimento gay pelo mesmo motivo.

Dois pesos. Duas medidas.

Meus amigos gays e minhas amigas gays sabem da diferença que existe em relação a suas demonstrações de amor e afeto. enquanto as pessoas torcem para ver um beijo delas, vira-se a cara para um beijo deles. Como se um caso fosse natural e tolerável e o outro horrendo e deplorável.

Este pensamento se refletiu nas reações das pessoas aos dois beijos. Eu nem cito o beijo do SBT que é mais ou menos como gol em amistoso do XV de Piracicaba contra o Jabaquara. Não tem valor nenhum.

Olhando para o povo, não o vejo "se acostumando", mas mantendo em voga sua habitual hipocrisia. O Brasil é aquele tiozão que não deixa a filha sair de minissaia mas gruda os olhos na TV durante os desfiles de carnaval, gosta de espiar a vizinha pela janela e acha que a mulher tem que aceitar suas escapadinhas para visitar as "filiais".

Uma tolerância de conveniência, afinal, plastica e culturalmente falando, é muito mais bonito ver duas mulheres se beijando do que dois homens.

O engano é achar que o silêncio é anuente à causa gay. Não se enganem! As pessoas não estão mais tolerantes. Só estão mantendo o status quo, persistindo no mesmo velho pensamento de sempre, alimentando suas fantasias sexuais ultraconservadoras que diferem o "menàge bom" do "menàge ruim" enquanto parecem concordar com a liberdade de cada um de amar aquilo que acha certo.

Aos amigos gays, os incentivo para que continuem demonstrando publicamente (aqueles que querem, lógico) seu amor e seu afeto, sem vergonha e sem medo de nós, héteros. Às amigas, encorajo-as a fazer o mesmo. Não apenas para romper as ligas que nos prendem a nós, heteros, a nossa forma de pensar o amor, mas, também, e principalmente, para poderem amar de forma livre e nos motivar a fazer o mesmo.

Mais amor! Menos julgamento e hipocrisia! Para que os beijos, um dia, sejam mais do que símbolos de libertação, que consigam ser demonstração de carinho, afeto, desejo e até de amor.

quarta-feira, 9 de abril de 2014

Guess Who



A música de B.B. King que mais me marca é uma balada blues açucarada, bobinha que só.

Mas foi a música que me acompanhou durante muito tempo, me ajudando a criar, escrever. Eu não tinha dinheiro para comprar CDs, e em Itariri e Peruíbe não chegava muita coisa. Então, quando uma editora lançou uma coleção de jazz e blues eu peguei logo o primeiro encarte.

Lá estava um disco do Concerto Midem em que Pat Matheny, BB King e Dave Brubeck transformavam minhas dores em canção (a coleção era a Jazz Masters, obrigado, Google!). Não tinha muito mais coisa que chegava às minhas mãos. O que aparecia na TV, especialmente na TV Cultura, eu transformava em fitas K7 no meu aparelho de som. O Concerto Midem foi uma das coisas que compramos para ter mesmo.

O disco, de um virtuosismo inacreditável, tinha um momento de grande simplicidade. Guess Who. Uma declaração de amor de um homem que esperará a eternidade amando uma mulher, esperando por ela. Ele pede para que ela abra o coração.

Na época (e lá se vão quase vinte anos), eu não tinha internet, tinha um inglês pobre e não conseguia traduzir o sotaque do Rei. Não entendia a letra, mas entendia o sentimento e visualizava um casal apaixonado dançando a última música antes que o rapaz fosse enviado para a guerra, ou algo assim. Um clichê. Exatamente como a música.

Ela me acompanhou nas madrugadas em que passei sentado na mesa de vidro de casa, olhando para o papel branco e buscando dentro de mim o que queria colocar para fora. Guess Who me traz isso. A memória dos contos e dos poemas da minha adolescência. As histórias melancólicas dos amores perdidos e não vividos.

Li a letra hoje e achei bonita. Simples, clichê e bonita. Mas nada é comum quando se trata do Rei. Mesmo a melancolia ganha novos tons. Sem conhecer o significado da música dei a ela uma história. A tradução da letra não a mudará. Aquilo que guardo em mim, da época de primeiras palavras não permito que se esvaia jamais.

quarta-feira, 19 de março de 2014

O escitor e a pipa

Com o tempo, as fantasias que nos cercam na infância vão sendo deixadas de lado. Vamos nos tornando mais austeros e maduros. Esta maturidade nos leva à faculdade, ao primeiro emprego, à casa própria, ao carro, à família.

No entanto, dentro do coração de cada um de nós, ainda existe uma pipa com rabiola enrolada que só está esperando a primeira fieira de fantasia para poder adejar contra o céu azul.

Escritores mantém essa pipa voando alto, sempre. São adultos com alma de criança. Precisam da fantasia e da imaginação pulsando forte para poderem viver. Diferente da maioria das pessoas, buscam sonhos, e não realizações.

Como a criança que transforma um galho em espada e sai pelo mundo para conquistar reinos e castelos, o escritor cria, com pena, mundos para conquistar, para se realizar.


Escritores são crianças em corpos de adultos que, em detrimento de uma vida comum, soltam pipa de vez em quando usando uma folha de papel em branco como céu para ser feliz.

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Sucesso e esforço

Tem um certo tipo de sucesso que não quero fazer.

É o sucesso que depende do fracasso alheio. Conquistado por meio das pisadas sobre a cabeça de tantos outros que lutaram antes de mim. É o sucesso pelo sensacionalismo e não pela ética. Pelo marketing pessoal e não pela qualidade verdadeira. O sucesso sem esforço, conquistado na base do jeitinho, da lei de Gérson, do migué, da desonestidade. O sucesso pelo poder, pelo dinheiro, para poder estar acima dos outros.

O sucesso pelo sucesso, e nada mais.

Durante a vida, abrimos mão em favor de muitas coisas. Muitas vezes sem nem sequer notarmos. Quando vemos, a lama já está batendo no queixo e fica difícil sair da sujeira e tentar permanecer limpo. Sem percebermos, vamos nos atolando na zona de conforto de onde conseguimos um favor aqui, um benefício ali, uma "ajudinha" acolá, e, quando vemos, estamos tão presos a favores que perdemos o direito e a credibilidade. Quando pensamos estar indo para a frente estamos, na verdade, vendendo mais um pouquinho da nossa alma para o diabo.

Construir uma carreira em cima de critérios como credibilidade, ética e qualidade tem seu preço. Um preço  alto pelo qual temos de estar dispostos a pagar.

Sucesso? Não façamos questão dele. Vamos trabalhar pelo prazer de fazer, pelo gosto de fazer diferente, de vencer a si mesmo, de sair da zona de conforto que nos prende. Não vamos buscar conquistar uma grande casa, um carro do ano, um jatinho ou um barco para navegar por aí. Aqueles que fazem por fama, fortuna, poder, recebem seu prêmio por aqui mesmo.

Eu espero que, no futuro, eu seja lembrado como aquele que não se corrompeu. Mas que isso não faça de mim alguém especial, pois quero fazer, desta forma, parte de um grupo muito grande. O grupo daqueles que não se venderam.

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Lulu, o feminismo mais machista que a internet pode proporcionar


As mulheres não estão querendo criar um espaço seu na sociedade. Estão querendo, sim, ocupar o espaço que é do homem.

Lembro da música de Joan Jett: "I wanna be where the boys are".

Mulheres deveriam querer estar onde devem estar, lutando por um espaço seu, marcado por suas características.

Lulu é a masculinização do feminino. É o princípio idiota do Femen, que põe peitos para fora para dizer que o homem não tem direito sobre o corpo da mulher. É a idiotização da gentileza, que determina que, ao abrir uma porta, puxar uma cadeira, ou ser gentil com uma mulher, o homem está alimentando um comportamento machista.

Este femimiminismo é diferente da luta honesta da mulher contra o homem opressor. Ao invés de reificar (transformar em objeto) o homem, a mulher deveria lutar para deixar de ser um.

O machismo é tão incutido nas mentes das mulheres que elas não enxergam quando estão lançando mão dele.

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Lucy Alves, Parahyba

Lucy é uma xilogravura de sons curtidos em couro e madeira. É gosto de rubacão, queijo coalho, suco de graviola e jambo colhido nas ruas de João Pessoa.

Lucy é a bila amarela descendo na Barragem de São Félix em por do sol verdadeiro, e não plastificado ao som de um bolero qualquer.

Lucy é boneca de pano xaxando com sanfona em punho. É bemquerência no arroxo do forró.

Cada vez que toca esta sanfona me sobe um arrepio. Lucy é poesia com sorriso leve de quem não NEGA quem é.




Não consegui encontrar o vídeo novo, (dá para ver aqui, ó), mas a interpretação dela para "Qui nem Jiló", que está aí em cima, é de arrepiar. Um primeiro verso que faz toda a diferença, com um "gente" falado de entre os dentes. A coisa mais linda.

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Papel social

A criança na Somália
Eu usava a história da foto de Kevin Carter quando dava aulas e palestras e falava sobre responsabilidade social e ética profissional. Quando perguntam até que ponto um fotógrafo tem que ir para cumprir seu trabalho e quando este limite é extrapolado e ele precisa se responsabilizar enquanto ser humano por outra vida que está correndo risco diante dele.

Kevin Carter cobriu as guerras étnicas que preconizaram o fim do Apartheid na África do Sul no início dos anos noventa. Ele e outros três fotógrafos de agências internacionais eram conhecidos como "Clube do Bang-bang" pois estavam sempre testemunhando mortes e conflitos e suas armas eram as câmeras.

Nestes conflitos, um dos colegas de Kevin foi alvejado. O que os outros três fizeram? Fotografaram o corpo do fotógrafo sendo carregado para a ambulância.

A criança vietnamita
A vida do menino pode ter se perdido, desconheço seu destino, e uma vida é uma vida, mas foi a foto de Kevin Carter o primeiro passo para que o mundo efetivamente olhasse para a fome no norte da África. Assim como a imagem da menina queimada de napalm foi um dos momentos mais marcantes da guerra do Vietnam.

Sem as imagens não teria sido possível repensar os fatos que elas relatam. Segundo um outro fotógrafo que estava no local, a fotografia teria sido um clique imediato, e Kevin expulsou o urubu assim que a imagem foi feita, levando o menino para um local seguro, onde foi alimentado.

O papel do fotógrafo é, antes de tudo, registrar a história para poder transforma-la. Mas é preciso ser cínico demais para ser indiferente à dor alheia. O sofrimento de Carter, que se matou em decorrência de problemas financeiros e por não conseguir conviver com a lembrança da dor que testemunhou, advém desta questão.