sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Amor à música





Você aprende a ouvir música quando consegue ouvir algo que foge do seu estilo normal e você acha bom. Aprende a crescer com a música quando vai procurar referências que são muito anteriores aos seus artistas preferidos. Quando encontra algo de qualidade dentro de um nicho onde nunca pensou que encontraria.

Meu caso é claro... Eu morei no interior de São Paulo e sempre achei música sertaneja o ó. Ruim com força. Meu estilo sempre foi outro. Eu, ainda criança, ouvia Toquinho e Vinícius, Tom, Chico Buarque (chegamos a pensar em montar um mini musical da Ópera do Malandro, isso quando eu tinha 10 anos de idade!!!), Gal, Bethânia e outras cositas...

Cresci e na adolescência, Chico era onipresente. Comecei a ouvir alguma coisa diferente um pouco depois. O Rock só entrou na minha vida aos 19, 20 anos. Antes disso, não, não havia espaço em meus ouvidos para esta barulheira elétrica.

Ouvindo rock eu descobri uma série de coisas boas, mas nunca deixei as antigas de lado. Encontrei Led Zeppelin, The Doors e Creedence Clearwater Revival e, mais recentemente, Beatles e Elvis.

De Jazz eu não falo, pois Jazz não é música, é religião, é ser tocado por Deus de um jeito muito próprio e singular. O mesmo vale para música clássica e contemporânea, que ouço desde criança, com o afinco e a disposição de um verdadeiro acólito.

Agora, o sertanejo... este eu tinha problemas para assimilar. O samba foi fácil. Paulinho da Viola, João Nogueira, Ataulfo, Noel, Billy Blanco, Cartola, etc, etc, etc... Mas o sertanejo...

Aí meu pai, que tocava violão lindamente, e resolveu parar porquê o violão quebrou, pegou emprestado um livro de serestas de um velho amigo, que invadia as noites tocando as mais belas músicas que já se ouviu. Este amigo já havia morrido quando este livro chegou às nossas mãos, mas meu pai, uma noite, na varanda da chácara em Itariri, pegou o violão, abriu o livro de capa verde e eu lembro, como se fosse hoje, que a primeira música que ele tocou foi Chico Mineiro.

Não é difícil que uma música me toque, mas a tristeza da história de Chico Mineiro e seu assassinato bárbaro em uma Festa do Divino no interior de Goiás foi no fundo do meu coração, lá onde existe a réstia da desolação e do vazio, lá onde habita, perdida, uma saudade que, por motivos que me fogem, eu não sinto.

Chico Mineiro é um clássico da música sertaneja verdadeira. De raiz. E desta eu procurei mais. Meu pai cantou outras naquela noite. Ipê Florido, Cabocla Tereza, Fio de Cabelo, tristeza do Jeca e tudo isso veio crescendo, crescendo e eu fui me alimentar desta nova fonte. Não procurei os novos (não gosto do sertanejo universitário, pouco se aproveita da onda sertaneja do início dos anos 90), mas na raiz, lá no fundo, na verdadeira música caipira.

Mas eu só descobri a verdadeira música sertaneja e toda sua criatividade e maravilha quando me vi aberto a ouvi-la. Se você não fizer o mesmo, não descobrirá a beleza da música à sua volta. E isso serve para tudo, ok?

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