No meio da crítica, uma frase interessante: "Com o livro nas mãos, eu fiz o que os escritores fazem quando se lembram de seus livros favoritos: olhei para o chão, senti uma dor terrível no peito que descia ao estômago e comecei a me deprimir e a me entregar ao abatimento porque o maldito Fogwill escreveu esses contos e não eu. Porca miséria."
Imagino que os arquitetos, os pintores, os atores, os autores de novelas, os compositores, todos os que lidam com a arte tenham este mesmo sentimento de inveja diante de uma obra prima. Aquilo que nos diminui, mas nos fortalece. Aquilo que confirma o talento do artista e conforma a falta de talento do arteiro.
O ofício de escritor é baseado no exercício prático de contar histórias. Como contadores de histórias, nossa meta é prender a atenção daquele que nos lê. Temos a pretensão de, assim, sermos o centro das atenções de um mundo que já não dá atenção a ninguém por mais de quinze segundos. Andy Warhol estava mais certo do que imaginava...
Escritores são anacrônicos. Somos mais que frases soltas no Facebook e muito mais que cento e quarenta toques no Twitter. No entanto, a simplificação de nossa excelência por meio da seleção de trechos curtos que podem caber no espaço de um suspiro e ser lidos no tempo de uma risada acaba por macular aquilo que temos de mais precioso.
Nosso talento.
Testemunhar a perfeição nos faz querer alcança-la por nós mesmos. Ler Borges, Stendhal, até o chato Hemingway, Proust, Lispector ou Melville, como estou fazendo, é nos diminuir e, ao mesmo tempo, nos fazer crescer. Vendo sua perfeição, elegância e eloquência, podemos nos inspirar.
A reprodução parcial destes textos, recortados e picotados para caberem no compartilhamento do Facebook não é aprazível para a própria arte. Alguns, que pensam que divulgam o trabalho do escritor fazendo isso, enganam-se. Não divulgam o trabalho do escritor. Ao contrário, deturpam-no.
O talento não pode ser concentrado em pílulas, mas consumido em largas doses. Seja em curtos contos, seja em longos romances.
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