quinta-feira, 31 de outubro de 2013

O amor e o homossexualismo nos tempos da cólera

Quando eu ainda namorava minha ex-esposa, muitos e muitos anos atrás, em um shopping de Santos, enquanto nos apaixonávamos em um banquinho de frente para um canto bem escondido do shopping (nem foi um amasso assim tão grande), um segurança chegou para nós e pediu que não demonstrássemos tamanho "entusiasmo" em nosso amor.

Sério. Era só um beijo entusiasmado. Nada demais, mas ele pediu que fizéssemos isso. Por se tratar de um lugar público, consideramos apropriado acatar a sugestão do policial e continuamos apenas conversando no banco de mãos dadas.

Isso já tem mais de dez anos. Dez anos atrás, nossa demonstração de amor era chocante para as senhoras que frequentavam os shoppings de Santos. No entanto, ainda hoje, eu não só respeitaria como acataria a decisão do segurança de nos pedir para parar. Acho que a minha liberdade termina onde começa a do outro, e, em um lugar público, isso deveria ficar mais evidente.

Pois bem, o preâmbulo é para, depois de algum tempo, emitir uma opinião sobre a declaração de que os seguranças do Shopping Tambiá seriam "instruídos" a impedir beijos homossexuais na praça de alimentação do shopping.

Não sei como eles agiriam diante deste fato. Não sei se são violentos (os defensores dos direitos dos homossexuais dirão que sim), não sei se são estúpidos (os defensores da moral e dos bons costumes dirão que não), e, sinceramente, não é isso que estou querendo discutir.

Seguranças que são bem treinados não agem com violência. Se a empresa que presta serviço ao Shopping não sabe treinar seus agentes, então o Shopping precisa encontrar outra agência para este serviço.

Pois bem. Se eu e minha esposa fôssemos impedidos de ter demonstrações efusivas de afeto, como beijos demorados, por exemplo, não acharia ruim. Certas demonstrações de afeto são, mesmo, constrangedoras para as pessoas em volta. E certas situações ainda exigem uma margem de compreensão que nossa sociedade, infelizmente, ainda não tem.

Se por um lado a sociedade não se sente preparada para certos tipos de demonstração de afeto, por outro, todos, e isso inclui homossexuais, têm direito, sim, a demonstrar carinho pela pessoa amada em lugares públicos. Não existe qualquer legislação que proíba as pessoas de fazerem isso em lugar público, desde que mantenham o decoro e tenham bom senso. Nada no Brasil impede o beijo gay, a não ser a cólera dos conservadores, a ira das bancadas evangélicas e as demonstrações hipócritas de pudicícia no país da bunda e do carnaval.

A declaração da dona do Café São Brás mostra que muitas pessoas ainda não estão prontas para ver que o amor, hoje, é demonstrado de forma bem diferente do que era no passado. No entanto, mesmo sem a devida "preparação", que seria o bom senso de respeitar as escolhas pessoais do outro, elas terão que ver e terão que aceitar. O mundo mudou, e não adianta encolerizar-se contra isto. É um direito e todos podem demonstrar seu afeto em público.

Só não exagerem, por favor.

Um comentário:

  1. Línguas desenfreadas incomodam mesmo, quer beijando, quer vociferando contra quem beija. Que haja bom senso de ambas as partes!

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