quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Menina amanhã de manhã (vai) - Tom Zé



Menina amanhã de manhã
Quando a gente acordar quero te dizer
Que a felicidade vai desabar sobre os homens
Vai desabar sobre os homens
Vai desabar sobre os homens

Na hora ninguém escapa
Debaixo da cama, ninguém se esconde
A felicidade vai desabar sobre os homens
Vai desabar sobre os homens
Vai desabar sobre os homens

Menina, ela mete medo
Menina ela fecha a roda
Menina não tem saída
De cima, de banda ou de lado

Menina olhe pra frente
Menina, todo cuidado
Não queira dormir no ponto
Segure o jogo, atenção de manhã

Menina a felicidade
É cheia de praça, é cheia de traça
É cheia de lata, é cheia de graça

Menina a felicidade
É cheia de pano, é cheia de peno
É cheia de sino, é cheia de sono

Menina a felicidade
É cheia de ano, é cheia de eno
É cheia de hino, é cheia de ono

Menina a felicidade
É cheia de an, é cheia de en
É cheia de in, é cheia de on

Menina a felicidade
É cheia de a, é cheia de é
É cheia de i, é cheia de ó

É cheia de a, é cheia de é
É cheia de i, é cheia de ó

A Felicidade mete medo. Verdade. Não estamos acostumados a ser felizes, nem a encarar com tranquilidade um momento de alegria. Pena para todos nós, que somos humanos, feitos e constituídos para a felicidade. Quando acordaremos para esta verdade?

Ainda preferimos um "mais ou menos" do que um pleno de alegria. Tenho uma amiga que tem horror a momentos de felicidade plena. "Eles precedem alguma desgraça". Não creio que seja assim. Esta sensação é apenas aparente por compararmos o momento de alegria extrema com o de infelicidade que se seguiu. Acabamos nos traumatizando e não nos permitimos a plenitude da felicidade nos alcançar.

A verdade básica, como já diria Brennan Manning é que "a chuva cai sobre todos, justos e injustos. Porque você acha que seria imune a ela?" Nenhum de nós está imune, seja ao sol, seja à chuva, seja às bençãos, seja às desgraças. Como lidamos com isso, eis aí a grande pergunta e a resposta vem de dentro de nós.

Pois a felicidade vai cair sobre os homens, e não tem como escapar dela. Você pode se esconder durante um tempo, tentar se ocultar, se proteger atrás de uma mediocridade (no sentido lato da palavra) que nada mais é que uma forma de sobreviver.

Não fomos chamados para sobreviver, mas viver plenamente, seja a felicidade, seja a tristeza.

Chico Buarque diz em "Baioque" "quando eu amo, eu devoro todo o meu coração, eu odeio, eu adoro, em uma mesma oração". Não se pode viver de outra forma. Estar na média não faz de nós seres humanos especiais, faz de nós seres humanos comuns, sem graça, até, sem muito o que oferecer ao mundo.

Então, deixe a felicidade cair sobre você!

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