segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Da amizade e da solteirice.

Nem sempre a solidão é uma escolha. Às vezes ela simplesmente acontece, de uma forma que nos foge um tanto ao controle. A solidão pode acabar machucando, ou nos ajudando a crescer.

Nos últimos meses tenho me sentido muito sozinho. Distante da família, ando melancólico (fico escrevendo estas coisas aqui e daqui há pouco estão meus pais ligando desesperados achando que eu quero me matar). Esta melancolia não é fruto apenas da solteirice, mas também de algumas rasteiras que eu acabei tomando em João Pessoa. Rasteiras que eu não imaginava que ia tomar.

Algumas pessoas a quem eu dei um valor muito grande resolveram que queriam que eu me afastasse. Entendo. Sei os motivos e previ que isso pudesse acontecer (estou vendo os comentários de pessoas dizendo para eu "mudar", ser "diferente", encontrar um caminho para recuperar estas pessoas). Lamento muito que tenha acontecido. Aquelas pessoas eram (são) muito importantes para mim.

Porém, a amizade é a arte da adaptação. Olhar para o próximo e enxergar além de seus defeitos. Eu faço isso com todos. Meu otimismo (escondido sob uma capa de pragmatismo) me faz acreditar que todos somos mais do que aquilo que aparentamos. Vejo além dos defeitos das pessoas. Porém, comigo, isso não acontece.

Sou uma pessoa difícil de lidar. Sempre soube. Tímido, retraído, defensivo, agressivo, impetuoso, intempestivo, inseguro, melancólico, não acho que seja uma companhia maravilhosa, mas também não sou de todo mal. A solidão só me faz piorar e me fechar ainda mais.

Tenho outros amigos, lógico, tão bons quanto aqueles que me expurgaram. No entanto, amizade, para mim, não é assim, com uma pessoa substituindo a outra. Não. Amizade é complementação. Amigos nos complementam, ou porque pensam como nós, ou porque pensam de forma extremamente diferente. Não se substitui um amigo com outro, pois cada um te supre de uma forma diferente. Da mesma forma que você age com cada um deles de acordo com o relacionamento estabelecido.

No sábado, conversando com outro amigo, ele me falou de reciprocidade, um conceito com o qual eu compactuo. "Eu sou muito recíproco. O nível de amizade que você me oferece é o nível de amizade que eu vou oferecer de volta", ele dizia. Comigo não é muito diferente. Só que eu acabo oferecendo um pouco mais, pois gosto de agradar da forma como posso. às vezes, para algumas pessoas, isso pode parecer ostensivo demais.

Dei esta volta, falando de amizade e contando este causo para falar sobre estar sozinho no dia dos solteiros. É a primeira vez que isso me acontece em 11 anos. Também foi meu primeiro dia dos namorados sozinho desde que entrei na vida adulta. Gosto de datas. São uma forma de agendar nossos pensamentos e reflexões sobre assuntos importantes. Ontem, dia dos pais, pensei em paternidade, vi pais brincando com seus filhos e pensei que tenho 30 anos e não construí um legado. Acabo descobrindo que estou caindo no mal da solidão.

Nossas vidas não fazem sentido quando estamos sozinhos. Podemos ser felizes? Sim, claro, conseguimos ter momentos de felicidade. Porém, na hora de deitar na cama e encostar a cabeça no travesseiro, não ter um corpo quente do lado para se aninhar faz muita diferença.

Precisamos de uma testemunha de nossos atos. Não queremos passar a vida sem que sejamos vistos, amados, queridos, desejados. Isso em todos os âmbitos. Existem momentos em que estamos exilados, muitas vezes dentro de nós mesmos, mas existem momentos que queremos deixar de ser ilhas. John Donne estava certo, mas sinto cada vez mais o istmo que me liga aos outros ser consumido pelo elevar das águas do aquecimento global da solidão.

Sinto falta de muitas coisas. Alguém para amar? Não. Tenho alguém para amar (maldito amor platônico), ainda que ela não saiba que meu coração bata da forma como bate por ela (ou talvez saiba, mas como não é recíproco, prefere calar-se). Sinto falta de alguém que me ame. Alguém que me considere importante, especial, único. Ando tão igual, tão mergulhado na multidão, tão perdido. Amigos nos ajudam a nos encontrar, e perder estes foi bastante dolorido.

Me arrependo de ter feito o que fiz. Quebrou a dinâmica que havia entre nós. Desde então tudo ficou estranho, faz dois ou três meses, mais ou menos. Sinto falta deles. Muita. Mas não vou forçar minha presença. Não vou me impor. Não sou assim. Mas que sinto falta deles, ah, como sinto.

Um comentário:

  1. Estar só faz bem, ser sozinho, porém, é melancólico e provavelmente paranóico. De uma forma ou de outra qualquer um precisa de outro para contar piadas gastas e arrancar um riso fácil, para dormir despojado no sofá, comentar um comercial na TV, dizer como foi o dia, reclamar da vida, lamentar a morte, ajudar nas decisões, tirar o cisco do olho, dividir as dívidas... Enfim, fazer coisas e segredos que não se pode botar em textos.
    Te compreendo pela incrível semelhança de nossos pensamentos sobre o assunto.
    Abrço!!!

    ResponderExcluir