segunda-feira, 9 de maio de 2011

Amores ternos

Um amigo meu está se separando. Separações sempre me deixam triste, pois eu passei por este processo e sei o quanto de dor, mágoa, rancor e ranço ficam no coração das duas pessoas, dos familiares, dos amigos, etc. Não gosto de ver famílias se desfazendo. Quem pensa que é fácil passar por este processo, esqueça... desista... procure outra coisa para fazer, mas não case.

Nem sempre relacionamentos são destinados à eternidade. O casamento dos meus pais, por exemplo, teve sempre altos e baixos, mas sempre foi marcado pelo amor que um sentia pelo outro. Um relacionamento duradouro, com suas conturbações, mas que já tem quase quarenta anos de existência (37, no total, entre namoro e casamento), onde os dois já se anularam mais de uma vez pelo outro. Minha mãe mais que meu pai, mas meu pai também fez seus sacrifícios.

Em nome da família, em nome de um amor que é mais forte que as situações que eles enfrentam, meus pais passaram por maus bocados. Meu pai não era aceito pela família de minha mãe, por ser pobre, revolucionário (meu pai era ator e diretor de teatro estudantil durante a ditadura, que futuro poderia ter?). Mas o amor dos dois era mais forte, uma coisa linda mesmo, que tinha que ser defendido. Lutaram e venceram as primeiras batalhas.

Depois de eu nascido, o esfriamento, as mágoas que minha mãe enfrentou, as dificuldades financeiras que fizeram meu pai abrir mão dos sonhos para viver a vida real, naquela fase em que você desiste de ser a pessoa que queria ser para se tornar a pessoa que precisa ser. Dívidas, filhos, contas... tudo colaborava contra. No entanto, Campinas fez com que nós quatro (tenho um irmão mais novo) nos uníssemos ainda mais enquanto família, enquanto núcleo, fortalecendo nossos laços.

Com todas as dificuldades, nossa ida para Itariri, todas as lutas que enfrentamos, as brigas dos meus pais, seus excessos, eles tiveram momentos ruins, mas sobreviveram. Passaram por tudo, não por mim ou pelo meu irmão, mas porque sabiam que precisavam um do outro. Sabiam que se amavam mais que qualquer coisa e, acima de tudo, que tinham uma paixão imensa por viver.

Hoje eles vivem em São Vicente, juntos. Já tiveram fases péssimas, de pensarem em se separar, mas superaram tudo juntos. O ciúme doentio e bobo do meu pai (nunca vi mulher mais apaixonada que minha mãe, não sei de onde ele tira o ciúme que sente dela) não os conseguiu separar.

Então, pergunto, ao ver este amor indômito deles... Porque o meu casamento não deu certo? Se eu sentia um amor terno e belo pela minha ex-esposa, uma das mulheres que mais admiro e prezo até hoje em minha vida, porque este amor não foi o bastante para me manter ao lado dela? Ela lutou por mim, sofreu, com todas as besteiras que eu fiz. Se feriu por mim tantas vezes.

Ao mesmo tempo, eu abri mão de tantas coisas por ela. Sofri, chorei, lutei. Sofremos, choramos, lutamos juntos, e fomos felizes. Vencemos tantas lutas, tantos obstáculos. Passamos por tantas coisas juntos que me pergunto porque não fui forte o bastante? Como posso ter me deixado levar por um vento de través, que levou nosso barco a adernar...

Às vezes sinto que deveria ter me esforçado mais por este amor. Em outros momentos, penso que ele viveu o que tinha que viver, sendo terno enquanto aconteceu, sendo doce enquanto sorvido, sendo eterno enquanto durou.

Este meu amigo (um dos melhores que já tive na vida) me mandou uma música que fala sobre o final de um amor. A música, de Oswaldo Montenegro, falou muito a mim, especialmente em sua última estrofe. Infelizmente não encontrei nenhum clipe dela, e não sei anexar músicas nos posts, então, aí está a letra.

Silêncio no Afeto
Oswaldo Montenegro


Você que amei mas não amo
Saiba que a vida é assim
Já te chamei, e hoje chamo
Tudo o que passa por mim
De louco passado ou engano
Seja o que for é normal
Tá tudo certo, silêncio no afeto
O poeta canta o final



Você que foi minha amiga
E hoje nem lembra de mim
Nosso segredo não diga
São o que sobra no fim
Não sobra o que foi ciúme
Não sobra o que foi paixão
Tá tudo certo, silêncio no afeto
São pausas da nossa canção



Entrega pra outra pessoa
O amor que eu lhe dei (ele é seu)
Entrega que a vida ainda é boa
E nada que passa morreu
Desenha em alguém a pessoa
Que eu desenhei em você
Desenha e não jura
Paixão nunca dura
Valeu amiga, a gente se vê


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