sábado, 7 de maio de 2011

Simplesmente Ney



Tá. Dizer "simplesmente" quando se fala de Ney Matogrosso é subestimar o assunto. Não existe "simplesmente" com ele nem como eufemismo. Com Ney, tudo é grandioso, épico, teatral.

Seu show "Beijo Bandido" é o próprio paradoxo por conta deste "simplesmente", pois Ney, simplesmente, subverte a sua natureza explosiva, transformando-a em uma imagem compenetrada, uma pose de crooner brega super cult e poderosa. Se aderisse aos grandes rai bans escuros e um chapéu meio de lado poderíamos dizer que Waldick voltou.

As mudanças não são apenas estéticas e cosméticas. Ney usa maquiagem no palco, para ressaltar seus olhos, de uma expressividade tão forte quanto seu corpo, mais contido neste show. A principal mudança nele é, simplesmente, sua musicalidade.

o repertório muda pouco, especialmente os compositores que canta. Olhe a discografia e você verá os mesmos Chico Buarque e Zé Ramalho se repetindo em outras ocasiões. O brega bom, marcado pelo Waldick, Odair José e outros compositores de antes se faz presente, como sempre se fez, na música de Ney.

No entanto, algo de diferente no palco, algo que chama mais a atenção.

E este algo é, simplesmente, a voz de Ney Matogrosso.

Sim, ele sempre foi um grande cantor. um grande intérprete. incomparável, absoluto, reinando solitário em um campo onde outros apenas tentaram chegar sem conseguir: Ney é a androginia da voz máscul-feminina, em uma postura que mistura os mesmos elementos, no corpo, no porte, no olhar.

Ah, o olhar do Ney é algo tocante...

Mas a sua voz... a sua voz nunca esteve tão perfeita, e tão destacada quanto neste "Beijo Bandido".

E isto acontece porque o grupo que o acompanha é pequeno, e a direção e a produção musical, simples, montando arranjos complexos sobre quatro instrumentos. Na verdade, cinco, onde a voz dele é sempre o destaque.

Enquanto os quatro instrumentos agem como um conjunto, a voz de Ney salta aos ouvidos. Límpida e cristalina, poderosa, profunda e lírica. Não... você não consegue tirar os olhos do palco. Tirar os olhos de Ney? impossível. Ele hipnotiza com sua voz, corpo em movimento, afagando nossos ouvidos.

Saí de lá feliz. Sabia que seria especial, pois conheço o artista mais que completo que Ney é. Iluminador, diretor artístico, cenógrafo, coreógrafo, ator, intérprete, que sempre se reinventa.

Simplesmente, Ney.

Em tempo 1 - Assisti ao show no dia da aprovação no Supremo Tribunal Federal da união homoafetiva. Emblemático...

Em tempo 2 - Ney está participando de um filme onde ele interpreta o Bandido da Luz Vermelha, no que seria a continuação do filme do Roberto Farias dos anos 70. O nome do filme? "Beijo Bandido".


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